Terreno da Ford é alvo de novas investidas

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Uma área com 932 hectares, ótimo posicionamento estratégico e um histórico de frustrações e esperanças. Localizado em Guaíba, na Região Metropolitana de Porto Alegre, o espaço, conhecido como “terreno da Ford”, devido à tentativa frustrada de instalar a montadora na área no final dos anos 1990, vem sendo desde então objeto de várias tentativas de instalação de grandes empresas no Rio Grande do Sul. Há 10 anos sendo administrado pelo governo do Estado, o local recebeu apenas uma única empresa. No entanto, nos últimos meses, novas negociações têm criado expectativas positivas em relação ao uso do espaço, que pode transformar-se em uma nova área industrial.
Localizada às margens da BR-116 e ligada à BR-290, as possibilidades logísticas sempre foram consideradas um grande atrativo, devido à fácil ligação para o resto do Estado e os países do Mercosul. Além disso, conta com ligação hidráulica e rede de fibra ótica. Por estar às margens do lago Guaíba, o local permite a construção de um píer, que possibilitaria o abastecimento de matérias-primas e o transporte de cargas até o porto do Rio Grande. “A ligação rápida com rodovias importantes, o fato de estar a 15 minutos do aeroporto Salgado Filho, bem como a possibilidade de instalação de um porto são fatores que dão a esse terreno uma posição privilegiada para os investidores”, destaca o prefeito de Guaíba, Henrique Tavares (PTB).
Para incentivar a instalação de empresas e transformar o local em um polo industrial, o governo do Estado desenvolveu, em 2008, um projeto, em conjunto com a prefeitura de Guaíba, que dividiu o terreno em áreas específicas. Segundo o plano, um espaço de 345 hectares, próximo ao centro de distribuição da Toyota, foi reservado para receber investimentos de grandes indústrias. Outros 273 hectares serão destinados para empresas do setor logístico, incluindo transportadoras e centros de distribuição. Além disso, foi estabelecida uma área de preservação ambiental junto ao arroio do Conde, com um total de 279 hectares. Por fim, uma zona de 43 hectares ficou reservada às pequenas indústrias locais.
Este último trecho deve ser o primeiro a começar a ser ocupado. Ainda em 2008, a prefeitura de Guaíba já asfaltou a avenida Nei Britto, que dá acesso ao local, para promover a instalação de indústrias. A primeira empresa interessada na região é a fábrica de rações International Pet. O investimento, avaliado em R$ 10 milhões, deverá ocupar um espaço de pouco mais de quatro hectares. No entanto, sua confirmação ainda depende de acordo entre o Estado, o município e a companhia. A Andrita Supply, que atua na área de tratamento de resíduos líquidos e sólidos contaminados com óleo, também já demonstrou interesse no local.
Na área para grandes indústrias, já existem negociações do governo estadual com a Renobrax Energias Renováveis para a instalação de uma fábrica de aerogeradores destinados à produção de energia eólica. O investimento na iniciativa deverá ultrapassar o patamar de R$ 100 milhões. Outra companhia que estuda se estabelecer em Guaíba é a NC2, fabricante de caminhões formada pela joint venture entre a Navistar International Corporation e a Caterpillar. O governo do Estado teria oferecido uma parte do terreno à empresa, que confirmou sua intenção de estar presente no Brasil. O investimento, que gira em torno de US$ 120 milhões, deve ser detalhado em março, mas segundo o prefeito de Guaíba as negociações com o governo do Estado estão bem encaminhadas.

Em 10 anos, apenas Toyota ocupou a área

O terreno do governo do Estado em Guaíba foi adquirido em 1998, como parte do processo para instalação de uma unidade da Ford no Rio Grande do Sul. Com a desistência da montadora em implantar a fábrica no município, comunicada em 1999, a área, que ficou sem uso, foi alvo do interesse de outros empreendimentos. “Tivemos, nesse período, no mínimo dez empresas que manifestaram a intenção em se instalar na região” explica Luiz Langesch Senandes, coordenador da divisão de atrações de investimentos da Secretaria de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais (Sedai).
Finalmente, em 2005 o terreno recebeu sua primeira - e até agora única - empresa. Ao abrir uma unidade no Rio Grande do Sul, a Toyota escolheu o terreno antes reservado à sua concorrente norte-americana para estabelecer seu centro de distribuição, que recebe os veículos fabricados pela montadora em Zarate, na Argentina. Apenas em 2009, entraram no mercado brasileiro, via Guaíba, 37 mil carros produzidos pela Toyota no país vizinho. 
A instalação do centro de distribuição também criou expectativas de que a empresa instalaria junto ao centro de distribuição uma unidade industrial, esperança essa frustrada quando a Toyota anunciou que sua nova fábrica brasileira seria localizada em São Paulo. No entanto, a presença da montadora no município gerou ganhos importantes para Guaíba. “O centro de distribuição é responsável hoje por 42% do ICMS municipal, maior até mesmo que a fábrica de celulose da antiga Aracruz, que representa 36%”, explica o secretário de governo de Guaíba, Paulo Alberto Scalco.