Empresas de bens de consumo voltam a investir

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As principais indústrias de bens de consumo preveem retornar em 2010 ao patamar de investimentos anterior à crise financeira internacional, visando a acompanhar o ritmo previsto de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na casa dos 5%. A retomada é impulsionada pela redução da ociosidade produtiva de setores como alimentos e bebidas, têxtil e vestuário, móveis e eletroeletrônicos. Assim como em 2009, os aportes serão destinados para a ampliação da capacidade instalada para atender ao mercado interno, já que as exportações devem continuar enfraquecidas.
A previsão do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Miguel Jorge, é de que os investimentos consolidados à indústria brasileira avancem ao menos 10% neste ano sobre 2009, além dos aportes postergados em razão da crise. "Esses investimentos farão com que não tenhamos problemas de capacidade instalada em 2010 e 2011", afirmou o ministro. Segundo ele, a indústria operou no final de 2009 com uma média de 82% de sua capacidade, o que representou um nível ainda inferior ao observado antes da crise.
Mesmo sendo um dos setores menos afetados pela crise financeira internacional, a indústria de alimentos e bebidas também sofreu no ano passado retração nos investimentos. De acordo com o diretor de economia da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), Denis Ribeiro, os aportes para aumento da produção, em equipamentos, marketing e pesquisa e desenvolvimento de produtos poderão superar este ano o patamar de 2008, atingindo entre R$ 13 bilhões e R$ 14 bilhões. Em 2009, foram R$ 11 bilhões.
Esses investimentos serão necessários para comportar um avanço previsto de até 4,5% do volume produzido pelas indústrias alimentícias sobre 2009, quando a produção física cresceu próxima a 1%. Ribeiro destaca que a capacidade instalada do setor ficou em aproximadamente 72% em outubro do ano passado, ante 78% do mesmo mês de 2008. "Ainda temos uma ociosidade que certamente foi reduzida no final do ano passado. Esse novo patamar deverá se manter ao longo de 2010", diz.
O dirigente da Abia ressalta que o faturamento da indústria alimentícia brasileira deverá fechar 2009 em cerca de R$ 294 bilhões, o que representaria uma alta entre 2,8% e 3% sobre o ano imediatamente anterior. Ribeiro acrescenta que o desempenho não foi melhor em razão da queda das exportações, que deverão encerrar 2009 com uma retração de até 10%, para US$ 30,1 bilhões. Com as vendas para os principais destinos, como Europa e EUA, em queda, a participação das exportações na produção recuou de uma média de 24%, antes da crise, para 20% no ano passado.
O setor têxtil e de vestuário também prevê retomar seus investimentos na ampliação da capacidade produtiva ao ritmo observado antes da crise. Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Aguinaldo Diniz Filho, mantido os patamares de crescimento das vendas do varejo e da produção registrados a partir do último trimestre do ano passado, os investimentos podem atingir até US$ 1,5 bilhão em 2010, valor próximo ao de 2008. Em 2009, os aportes somaram cerca de US$ 850 milhões. O uso da capacidade instalada encontra-se em 80%.

Incentivos podem elevar capacidade do setor moveleiro

As perspectivas de crescimento das vendas gerada pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), pelo menos até março, já reanimaram a indústria moveleira, após apresentar retração nas vendas em 2008 e 2009. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), José Luiz Fernandez, afirma que os investimentos no aumento da capacidade do setor podem crescer até 50% este ano, retornando ao patamar de R$ 2,5 bilhões, aplicado pelas empresas em 2008.
Segundo Fernandez, os aportes deverão ser encaminhados principalmente para recomposição de maquinário e inovação, visando a produzir móveis de maior valor agregado. O dirigente ressalta que a previsão é de retomada a níveis acima de 70% da capacidade instalada ao longo de 2010, após recuo a menos de 65% durante o pior momento da crise financeira. Em 2009, além da restrição ao crédito, as vendas de móveis foram prejudicadas pela concorrência com fogões, geladeiras e máquinas de lavar, que tiveram o IPI reduzido em abril.
Na indústria eletroeletrônica, a estimativa é de um crescimento em pelo menos 39% dos investimentos em 2010 na comparação com os aportes do ano passado. Segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), os valores deverão chegar a R$ 5,3 bilhões, com destaque para bens de consumo como computadores e celulares.
"Deveremos retomar em 2010 a participação de 4% do faturamento da indústria destinado a investimentos", diz o presidente da Abinee, Humberto Barbato. Em 2009, esse percentual ficou em aproximadamente 3%, valor inferior aos 4% aplicados em 2008. As projeções da entidade são de um crescimento de 21% do faturamento para o segmento de telecomunicações e de 12% para o de informática. Segundo o diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, além da recuperação econômica prevista para este ano, a proteção à indústria nacional ante as importações de calçados originários da China, por meio da aplicação de um direito antidumping, deverá provocar a recuperação da capacidade instalada do setor. Klein diz que a atual capacidade instalada está em torno de 80%.