Com Rosane Gofman, 'Eu Sempre Soube...' traz a importância do amor para modificar o mundo

Monólogo da atriz Rosane Gofman, peça-documentário 'Eu Sempre Soube...' discute as relações entre mães e filhos LGBTQIAPN+

Por Adriana Lampert

Monólogo da atriz Rosane Gofman, Eu Sempre Soube... discute as relações entre mães e filhos LGBTQIAPN
O amor de mãe é o mote principal do espetáculo teatral Eu Sempre Soube..., que terá duas apresentações em Porto Alegre neste final de semana. A montagem dessa peça-documentário escrita e dirigida por Márcio Azevedo se dá por meio de um monólogo da atriz carioca Rosane Gofman, que sobe ao palco do Teatro do Sesc (rua Alberto Bins, 665) às 19h deste sábado. Os ingressos custam R$ 40,00 (inteira) e estão à venda pela plataforma Sympla.
Em uma história que discute as relações entre mães e filhos LGBTQIAPN (Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Poli, Não-binárias e outros), o espetáculo é resultado de  uma extensa pesquisa de campo do autor e diretor, que entrevistou 98 mães antes de levar para a cena o debate sobre o preconceito na escola, bairro, rua, prédio e - principalmente - dentro de casa. A dramaturgia da montagem teatral aborda ainda, como essas mulheres reagem quando escutam de seus filhos uma frase como "sou gay", e como lidam com a violência das ruas, que põe em risco a vida de seus progênitos. 
Conhecida por atuar em papéis marcantes na televisão, em especial na Rede Globo, como Cinira (Tieta), a amarga Rosário (Começar de novo) e a engraçada Roseli (Chocolate com Pimenta), acumulando mais de 20 trabalhos na TV desde a sua estreia na novela Louco Amor, em 1983, Rosane afirma que a pauta lhe acompanha desde a infância. 
"Eu tenho uma história com os LGBTQIAPN desde quando eu era pequena, pois meu melhor amigo de infância é gay. Para mim, nunca foi uma questão a ser discutida, apesar de eu ter crescido vendo ele sofrer bullying na escola", recorda. "Aos 15 anos, comecei a fazer teatro e passei a conviver com pessoas que são o que elas são e não precisam ficar se reprimindo, então esse tema sempre foi muito natural para mim", continua. "Vivi isso a vida inteira, até que nasceu meu sobrinho (filho do meu irmão), que é gay, e é uma pessoa adorável - diante dos meus olhos, a questão que levanto gira em torno de como as pessoas lidam com isso."
Por conta de ser uma temática que sempre permeou sua vida, a atriz carioca conta que quando recebeu o texto de Azevedo, aceitou "sem pestanejar". "Eu acabei de ler e tive certeza absoluta que tinha que fazer, me emocionei na primeira leitura", comenta. Durante o espetáculo, sua personagem - uma jornalista que está palestrando para o público - descreve, inclusive, casos de homofobia e relata como as mães recebem o fato de que seus filhos estão transicionando.
"Contar ou não aos outros familiares? Quais os riscos das cirurgias? Como será a readaptação do novo(a) filho(a) na sociedade? são só alguns exemplos das dúvidas que surgem quando essas mulheres se deparam com essa realidade", pontua.
Também a luta dessas mães quando seus filhos comunicam em casa que estão com HIV, as dificuldades e anseios em torno de abraçar a causa LGBTQIAPN , entre outros "impasses", são relatados durante as falas da personagem de Rosane.
"Ao longo de seu discurso, ouvimos palavras de amor e esperança, de afeto e dor. E o final é uma grande surpresa", resume a atriz, que também viveu a mãe de um personagem gay na novela Orgulho e Paixão. No teatro, ela ainda particiou da peça Parabéns à Você (1981), em que o seu papel era mãe do cantor Cazuza.
"O mundo é gay, e o que a maioria das pessoas fazem com os LGBTQIAPN é absurdamente preconceituoso. Está mais do que na hora de se entender que o amor que o outro sente não diz respeito a mais ninguém", defende Rosane.
"Vai ser uma apresentação muito especial. É uma região do Brasil onde temos muito a fazer, no sentido de esclarecer e fazer as pessoas entenderem, delas se disponibilizarem a saber um pouco mais sobre o universo LGBTQIAPN ", emenda a artista "A nossa peça é sobre o amor de mãe e os seus filhos. A gente esclarece muito. Já unimos famílias."
Antes mesmo de estrear, em 2019, o texto da montagem Eu Sempre Soube... conquistou o Prêmio Funarte de Dramaturgia (2018). Depois de iniciar as temporadas nos palcos do Rio de Janeiro, a peça foi destaque no prêmio Cenyn de Melhor Monólogo (2019) e ainda rendeu o reconhecimento de Melhor Atriz para Rosane no Prêmio Profest de Teatro (2020), entre outras distinções.