Releitura de Shakespeare, 'Julius Caesar – Vidas Paralelas' está em cartaz no Teatro da Pucrs

Livre releitura do clássico de William Shakespeare, a peça integra a programação do 30º Porto Alegre em Cena

Por Adriana Lampert

Livre releitura do clássico de William Shakespeare, Julius Caesar - Vidas Paralelas integra a programação do 30º Porto Alegre em Cena
Espetáculo da Companhia dos Atores, coletivo carioca que completa 35 anos de atividades, Julius Caesar – Vidas Paralelas, tem sessões nesta quinta (7) e sexta-feira (8), às 20h, no Teatro da Pucrs (Av. Ipiranga, 6681 - Prédio 40), dentro da programação do 30º Porto Alegre Em Cena. A peça, dirigida por Gustavo Gasparani, é uma livre releitura do clássico de William Shakespeare. A venda de ingressos para esta e outras atrações do festival ocorre pela plataforma Guichê Web ou no Prédio 5 (térreo, ao lado do Banco do Brasil) do Campus da Pucrs, de segunda a sexta-feira, das 9h às 13h e das 14h às 19h. 
A adaptação carioca aborda as obscuras relações de poder da trama original, inserindo-as em um novo contexto: os ensaios de uma companhia teatral que está preparando uma montagem da peça sobre o famoso imperador romano. Convidados pela diretora, que decide encenar o clássico texto shakespereano, quatro atores, amigos de longa data, assumem o papel dos personagens principais da obra: César, Cássio, Marco Antônio e Brutus. O conflito se estabelece quando a figura da diretora, conhecida pelo seu jeito autoritário, e sem muita paciência, é a protagonista de uma novela de enorme sucesso, e, por conta dos seus compromissos com a emissora de tv e também as inúmeras obrigações domésticas, acaba tendo dificuldade de dar andamento aos ensaios - gerando insatisfação entre o elenco da peça.
Diante das sucessivas faltas da personagem interpretada pela atriz Suzana Nascimento, o elenco se reúne e delibera pela saída da diretora do projeto, com o voto daquele, considerado mais que um ator, por ela: um irmão, que viveram uma vida juntos, respirando a poeira dos palcos. Situação parecida com a da trama que o grupo ensaia para levar aos palcos, onde o povo romano quer entronizar Júlio César como imperador, mas Cássio e Casca (antes apoiadores do governo) convencem Brutus – amigo de César, mas ainda mais leal a Roma – a organizarem um complô para assassinar o líder. No Senado, os conspiradores apunhalam César, sendo Brutus o último a golpeá-lo. A famosa cena eternizou uma das mais conhecidas frases da dramaturgia de Shakespeare, quando César, estupefato, pergunta: "Até tu, Brutus?".
O público se depara, então, com "uma história dentro da história", em um exercício de metalinguagem, que é a cerne do espetáculo, que apresenta uma linguagem contemporânea da obra. "Contamos a peça inteira de Shakespeare, dentro dos conturbados ensaios da companhia teatral que ocorrem durante a trama", resume o ator Gilberto Gawronski (único gaúcho inserido no elenco, formado por atores convidados pelo coletivo do Rio de Janeiro). Em cena, ainda estão Cesar Augusto, Gabriel Manita,  Isio Ghelman e Lucas da Purificação.
O cenário é mínimo e "confunde" as cortinas do teatro com as colunas romanas, sendo volta e meia improvisado, como num ensaio. Neste contexto, os artistas seguram os textos nas mãos e mudam de vocabulário, indo do coloquial ao clássico da dramaturgia original. Os figurinos utilizados são basicamente calças e abrigos de moleton. "Enrolamos casacos no corpo para simular as togas (vestimentas distinta da Roma antiga); e nós mesmos executamos a música em cena, e fazemos os efeitos de trovão e temporal", conta Gawronski. 
"Outra coisa muito interessante é ver como o caráter emocional e emotivo transpassa os personagens", observa o ator gaúcho, radicado no Rio de Janeiro desde 1984. Ele interpreta Ricardo Silveira, um dos atores do elenco da trama, que carrega a mágoa e a insatisfação de ter pego um "papel menor", o de Cássio. "Ricardo quer para si um grande papel e acaba gerando conflitos. Sente raiva e ira, sentimentos que, ao final acabam ajudando-o a viver Cássio, que é um personagem invejoso e rancoroso." Não só ele, mas todos os atores do elenco expõem o quanto são bélicos e mesquinhos, quando estão inseguros ou se sentem contrariados: dão chiliques, criam ranços, jogam indiretas, sentem inveja.
Ao definir o espetáculo como uma peça que fala de pequenos poderes, exercidos também nas relações familiares e de cidadania de forma avassaladora e mal administrada, Gawronski opina que a montagem também pode ser uma metáfora sobre parte do mundo do teatro. "Quando se integra uma companhia, nem sempre se pode escolher seu papel, e é possível, sim, que ocorram situações semelhantes a esta." Ao contrário de seu personagem na montagem carioca, o artista gaúcho afirma estar feliz por interpretar Cássio. "Esta é a sétima vez que participo de uma montagem de uma obra de Shakespeare; e é uma alegria imensa interpretar um personagem criado por um grande dramaturgo."