O brilho que emana de um universo onírico surge em obra da Bienal no Paço Municipal

Instalação de Pedro Matsuo, 'The Matsuo Plastic Light Show Happy Bars', ocupa o Porão do Paço Municipal dentro da programação da 13ª Bienal do Mercosul

Por Adriana Lampert

Instalação de Pedro Matsuo, The Matsuo Plastic Light Show Happy Bars ocupa o Porão do Paço Municipal dentro da programação da 13ª Bienal do Mercosul
Composta por refletores e telas pintadas com tintura fotoluminescente, a instalação de Pedro Matsuo, The Matsuo Plastic Light Show Happy Bars, é uma surpresa literalmente brilhante para quem adentra o Porão do Paço Municipal (Praça Montevideo, 10). 
Artista multimídia que atua em áreas que vão desde pintura até moda, design, fotografia, projeções, tatuagem e tecnologia, entre outras plataformas que usa como meio de expressão, Matsuo, de 26 anos, revela que as cerca de 30 obras expostas são resultado de sonhos que teve em um período de quase morte, após um acidente em 2014. A mostra segue até o dia 20 de novembro, e integra a programação da 13ª Bienal do Mercosul. A visitação pode ser feita de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h30min às 17h, com entrada franca.  
Dispostas nas galerias do Porão que abrigava os presos da primeira delegacia que existiu na cidade, no início do século passado, as telas de Matsuo convidam o visitante a acessar sentimentos bons e ruins e a refletir sobre o valor da vida.
A instalação joga com cenários de clareza e escuridão. Quando o ambiente está iluminado, enxergamos o espaço da instalação; quando no escuro, é possível ver o brilho que emana das obras, em um clima etéreo, ébrio, provocado pela fotoluminescência. Essa relação entre os cenários se reflete também no alfabeto criado pelo artista, que representa a junção da geometria com o orgânico, da natureza com a cidade. 
Matsuo conta que a instalação é inspirada em uma das etapas de um sonho que teve durante o coma. "Eu estava na escuridão em busca de ajuda, e anjos e demônios me puxavam (para cima e para baixo), enquanto pessoas que eu amava me pediam para ficar no meio, que é o ponto de equilíbrio, a vida." Para o artista, esse momento de sua jornada pessoal serviu para refletir sobre qual legado deixar após a morte e o que fazer de sua trajetória no mundo. "Eu sinto que tive mais uma chance", desabafa. "Aquele sonho serviu para eu entender como a luz é importante em momentos ruins, e isso está representado nas telas que guiam os visitantes na escuridão (no decorrer da exposição)."
Os diversos círculos e bolinhas nas telas representam as estrelas, informa o artista, que viu a si mesmo morto no sonho. "Até há pouco tempo, eu tive vários flashbacks sobre aquela experiência. Eu era uma pessoa que não valorizava tanto a vida, e eu trago muito isso nestas obras, porque eu considero que é muito importante falar para as pessoas sobre o amor à si próprio, à família, os amigos e as oportunidades que temos."
Sobre a tipografia que o artista leva para as telas, ele destaca que deixa em aberto não somente as letras, mas também as imagens que conversam nas pinturas feitas com técnica mista, que inclui o uso de tinta acrílica e, predominantemente, sulfeto de zinco. "A interpretação é livre", destaca. "São várias camadas, que permitem ao expectador enxergar mais de uma coisa em cada tela."
Em determinado momento do percurso pelo Porão, os visitantes também podem interagir com a instalação, em um dos corredores. "A pessoa pode ir descobrindo as mensagens que estão gravadas nas lonas das paredes", detalha o autor da obra. Para isso, basta utilizar uma das lanternas-canetas que ficam penduradas no trajeto. "Quando tu inseres elas na lona, elas energizam as tintas", explica Matsuo.
"Os corredores do Porão, que foi uma cadeia, representam muito o aprisionamento que senti naquele sonho." Para complementar as sensações, a instalação conta ainda com trilha sonora de Raphael de Luca. "O trabalho dele foi crucial para a totalidade desta imersão", ressalta o artista multimídia. "Eu gosto muito quando se consegue misturar o sensorial, o auditivo e o visual."
Esta é a sexta exposição de Matsuo, que já realizou, inclusive, duas mostras individuais durante a carreira, iniciada em 2014. Na área da moda, ele já trabalhou em uma coleção do renomado Alexandre Herchcovitch, e busca estar sempre quebrando padrões nos diversos segmentos artísticos que atua. "Não me considero integrando nenhum movimento, mas tenho buscado definir a minha arte, que, sem dúvida, é contemporânea."
O artista afirma que, por estar constantemente participando de projetos em diversas áreas, encontra inspiração em variadas personalidades do meio cultural, a exemplo do cineasta, ator, poeta, escritor e psicólogo chileno-francês Alejandro Jodorowsky. Também estão na lista os pintores estadunidenses Andy Warhol e Jean-Michel Basquiat, o polímata italiano Leonardo da Vinci e seu conterrâneo Niccolò Paganini, compositor, guitarrista e violinista. "Não é somente a estética deles que me inspira, mas, principalmente, a atitude, o pensamento, e, em alguns destes, também o fato de não se limitarem a atuar em apenas uma área do conhecimento e de quebrarem padrões."