Desabafos de Lula

Por JC

A entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à repórter Natuza Nery, na quarta-feira (18), na Globo News, teve abordagens importantes e consistentes sobre a insegurança das instituições do Estado às questões da economia e, sobretudo, sobre a necessidade de os principais dirigentes do mundo se organizarem pelo fortalecimento da democracia e combate ao extremismo da direita, com ameaças de ressuscitar o nazismo. Lula não fugiu da raia, respondeu todas as perguntas e, em boa parte delas, de forma indignada.
Rumos da economia
O presidente também não escondeu os rumos da economia, e repetiu - para o desespero do "mercado" - que, aplicações de verbas públicas no combate à fome ou na educação, não são "despesas", mas investimentos. Está aí um excelente tema para se perseguir no bom debate.
Negligência
A entrevista de Lula foi, também, uma hora de desabafos do mandatário. Queixou-se de que "não tem onde morar", pois encontrou um Palácio da Alvorada totalmente inabitável (está em reformas). Assim como foi sincero quando afirmou que os órgãos de inteligência do Distrito Federal - responsável pela segurança de Brasília - e do próprio governo "foram negligentes". E afirmou: "A impressão que tive era do começo de um golpe de estado, seguindo orientação de Bolsonaro, que pregou por muito tempo a invasão dos órgãos de governo. A minha mágoa é que a minha inteligência não existiu".
Onde estavam?
De fato, são muitos órgãos. Mas, onde estavam os seus integrantes quando os invasores entravam à vontade nos palácios do governo e Congresso Nacional?
Estrutura omissa?
Vejam só; a estrutura de governo dispõe de um Gabinete de Segurança Institucional, do Batalhão de Guarda Presidencial, da Polícia Federal, polícias Civil e Militar do Distrito Federal, de serviços de Inteligências do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, com profissionais altamente capacitados. Mesmo assim, ninguém foi capaz de avisar que aquele acampamento de fanáticos em frente ao Alto Comando do Exército, em Brasília, por dois meses, estava sendo reforçado por dezenas de golpistas, vindos de ônibus para uma ação planejada contra os poderes da República. O resultado dessa imprevisão foi o desastre que se viu. Na entrevista Lula não disse com todas as letras, mas deixou claro que se sentiu traído. Faz sentido.
Imprensa valorizada
Depois de quatro anos comendo o pão que o diabo amassou, com agressões e resmungos presidenciais num "cercadinho", em frente ao Palácio da Alvorada, a imprensa, enfim, volta a ser valorizada. Lula encerrou a entrevista afirmando: "A imprensa será muito bem tratada por mim. Tenho interesse em conversar com a imprensa".