Legalidade e III Exército

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O deputado federal Vieira da Cunha (PDT-RS) começou seu discurso, em movimentada reunião na Câmara dos Deputados, fazendo um balanço do que representou o Rio Grande do Sul e Leonel Brizola quando foi deflagrada a Campanha da Legalidade. O parlamentar pedetista contou que “naquela época, o povo elegia diretamente também o vice-presidente da República”. Disse que no dia 25 de agosto de 1961, após participar das comemorações alusivas do Dia do Soldado, o presidente Jânio Quadros surpreendeu a Nação com sua renúncia. Seu vice, João Goulart, estava em missão oficial na China. Os ministros militares manifestaram publicamente sua posição: era, segundo eles, “inconveniente” para o País que Jango assumisse a presidência. O marechal Henrique Teixeira Lott dirigiu mensagem aos seus camaradas das Forças Armadas expressando seu “repúdio à solução anormal e arbitrária que se pretende impor à Nação” e foi preso.
O golpe em marcha
“O golpe estava em marcha”, enfatizou Vieira da Cunha. Levanta-se, do Rio Grande do Sul, a voz de um jovem governador, então com 39 anos de idade (Leonel Brizola), e anuncia: “Nós que governamos o Rio Grande do Sul não aceitaremos quaisquer golpes. Não assistiremos passivamente a quaisquer atentados às liberdades públicas e à ordem constitucional. Reagiremos como estiver ao nosso alcance. Nem que seja para sermos esmagados. Mas defenderemos a nossa honra e as nossas tradições”.
Respeito à Constituição
“A Constituição do País tem que ser respeitada”, bradou Leonel Brizola. Estava lançado o “Movimento da Legalidade”. Entrincheirado no Palácio Piratini, no Centro de Porto Alegre, tendo a Brigada Militar a seu lado, o governador Brizola mobiliza o povo gaúcho e brasileiro em defesa do respeito à Constituição, exigindo que seu cunhado e conterrâneo, João Goulart, tome posse como presidente da República. Num ato decisivo para o sucesso do movimento, no dia 27 de agosto de 1961, Brizola requisita a rádio Guaíba, instalando seus estúdios nos porões do Palácio, de onde faria seus inflamados discursos, na famosa Rede da Legalidade, mostrando a força de mobilização do rádio. Vieira da Cunha registrou também o papel decisivo de Neuza Goulart Brizola, irmã de Jango e esposa do governador.
Lavando a honra da Nação
“Venham, e se eles quiserem cometer essa chacina, retirem-se, mas eu não me retirarei e aqui ficarei até o fim. Poderei ser esmagado. Poderei ser destruído. Poderei ser morto. Eu, a minha esposa e muitos amigos civis e militares do Rio Grande do Sul. Não importa. Ficará o nosso protesto, lavando a honra desta Nação. Aqui resistiremos até o fim. A morte é melhor do que vida sem honra, sem dignidade e sem glória. Aqui ficaremos até o fim. Podem atirar. Que decolem os jatos! Que atirem os armamentos que tiverem comprado à custa da fome e do sacrifício do povo! Joguem essas armas contra este povo. Já fomos dominados pelos trustes e monopólios norte-americanos. Estaremos aqui para morrer, se necessário. Um dia, nossos filhos e irmãos farão a independência do nosso povo! Um abraço, meu povo querido! Se não puder falar mais, será porque não me foi possível! Todos sabem o que estou fazendo! Adeus, meu Rio Grande querido! Pode ser este, realmente, o nosso adeus! Mas aqui estaremos para cumprir o nosso dever”, discursou Brizola. Neste mesmo movimentado e decisivo dia 28 de agosto, Brizola recebe em seu gabinete a visita do comandante do III Exército, general Machado Lopes. Para o delírio da multidão que tomava conta da Praça da Matriz, o general comunica ao governador que o III Exército ficaria com a Constituição.