O que está em discussão no caso do Parque do Palácio, em Canela

Centro de convenções é previsto em lei que governador aceita revisar

Por Bruna Suptitz

Parque tem nove hectares de área verde e fica em uma das entradas da cidade turística da serra gaúcha
O futuro uso que se dará ao Parque do Palácio, área verde com nove hectares em uma das entradas da cidade de Canela, enfrenta há alguns dias uma disputa retórica que mobiliza a comunidade, a prefeitura, o Ministério Público e o governo do Estado.
Após uma
Prefeito de Canela, Constantino Orsolin informa que levará adiante a proposta de construir um centro de convenções no parque. Foto: João Brum/Divulgação/JC

Histórico

O Parque do Palácio tem esse nome por se tratar da continuação da área que abriga o Palácio das Hortênsias, em Canela - é a casa de veraneio de quem estiver no cargo máximo do Executivo estadual. O terreno do parque, que pertencia ao governo do Estado, foi repassado ao município em 2010. Naquela época, Constantino Orsolin cumpria o seu primeiro mandato na prefeitura. Ele conta que, durante uma procissão de Nossa Senhora do Caravágio, caminhou ao lado da então governadora Yeda Crusius (PSDB, 2007-2010), que perguntou o que a cidade estava precisando. “Respondi que era um terreno para construir o centro de convenções”, recorda Orsolin. Conforme o seu relato, Yeda fez contato alguns dias após e disse que passaria a área do parque para a prefeitura, condicionada ao atendimento da demanda feita pelo prefeito. A concessão foi formalizada pela Lei Estadual Nº 13.506/2010 e acolhida pelo município com a Lei 3.048/2010.

Notificação

Em julho de 2022, o governo do Estado notificou a prefeitura a “cumprir com o encargo” da lei que doou o terreno ao município “referente à implantação de um Centro de Convenções e Congressos”. O objeto resulta de reunião um mês antes, em junho do ano passado, do Comitê Gestor de Ativos, órgão vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão. A justificativa para notificar a prefeitura está na Lei Nº 15,764/2021, a qual determina que deve ser estipulado prazo para o cumprimento de encargos (no caso, a construção) nos casos de doações cuja lei não tenha definido isso antes. Isso pode se dar por comprovação do cumprimento ou apresentação de cronograma do que será feito. A legislação também diz que será concedido “prazo compatível” para atendimento das obrigações, “sob pena de reversão”. Conforme consta na ata da reunião do comitê, publicada no Diário Oficial do Estado, a documentação apresentada pelo município solicita prazo de execução de dois anos, proposta aprovada e que deve ser cumprida “até 01/01/2015”.

Proposta de permuta

Para cumprir com a obrigação de entregar o centro de convenções e congressos no prazo estipulado pelo Estado, a prefeitura de Canela propõe, em projeto de lei que tramita em regime de urgência na Câmara, que seja feita uma permuta da nova área construída por outra do município. O ativo escolhido é o centro de feiras, localizado no Centro da cidade. A estrutura, alega a prefeitura, está defasada e precisa de reparos. Para quem trabalha com eventos, a avaliação é que a estrutura não comporta congressos de grande porte, objetivo com a construção do novo espaço.

Mobilização da comunidade

Desde 2021, o Ministério Público Estadual acompanha a situação do Parque do Palácio por meio de um Inquérito Civil. A mobilização se deu a partir do grupo “Amigos do Parque do Palácio”. O grupo questiona a preservação da natureza, alegando que a área associa campo de altitude com mata de araucária, o que caracterizaria a área como reduto dos campos de cima da serra em zona urbana. Outra reclamação é pela restrição de acesso a área, que é cercada. Em 2019, arquitetos ligados ao grupo elaboraram um projeto alternativo indicando possibilidades de uso do parque sem o centro de convenções, com arena aberta para eventos e gestão compartilhada. Conforme um integrante do grupo, a proposta não foi acolhida pela prefeitura.

Ministério Público

Encerra na segunda-feira, dia 27 de março, o prazo que consta na recomendação do Ministério Público (MP) Estadual para que a prefeitura retire de tramitação a proposta “enquanto não houver estimativa fidedigna do calor da área a ser cedida (o centro de feiras)”. Em caso de descumprimento, o próximo passo seria levar o caso para a Justiça.

Demanda do setor de eventos

Seja onde for, Canela precisa de um centro de congressos e convenções. A avaliação é feita pelo “Gramado Canela Convention & Visitors Bureau”, setor que trabalha de eventos nas duas cidades da Região das Hortênsias, na Serra gaúcha. Em fevereiro o prefeito recebeu uma carta justificando o apoio: “um centro de convenções e eventos tem potencial para incrementar de forma significativa a movimentação turística, equacionando a relação entre oferta e demanda”. Embora manifeste interesse em “participar de forma ativa” e contribuir para tirar o centro de eventos do papel, a entidade não entra no mérito da localização do espaço.