A primeira superpotência do mundo

Por Jaime Cimenti

os persas
Os Persas - A Era dos Grandes Reis (Crítica, 480 páginas, R$ 91,00, tradução de Renato Marques), de Lloyd Llewellyn Jones, britânico, professor de História Antiga da Universidade de Cardiff e diretor do Programa de Irã Antigo do Instituto Britânico de Estudos Persas, apresenta a história oficial do Império Persa, a primeira superpotência do mundo.
Lloyd é especialista em história e cultura da Pérsia, do Oriente Próximo e da Grécia, participou de programas da BBC e Channel 4 e escreveu textos para o jornal The Times. Tudo o que sabemos sobre a Pérsia veio por intermédio de autores gregos, sobretudo Heródoto. Não havia uma história dos persas baseada em fontes originais que buscasse reconstituir a glória de sua cultura, economia e organização.
O professor Lloyd lançou um novo olhar sobre os reis Ciro, o Grande, Dario, Xerxes e seus herdeiros, os Aquemênidas e seu governo cujo coração era a cidade de Persépolis. Intrigas familiares e realidades dos persas dos séculos VI a IV a. C são narradas, mostrando que essa foi a era dos grandes reis. Foi o maior império da Antiguidade, estendendo-se da Líbia às estepes da Ásia e da Etiópia ao Paquistão. Com base em inscrições iranianas, peças de arte e descobertas arqueológicas recentes, o livro mostra como realmente era o Império Persa aquemênida, com seus exércitos e sua característica multicultural e como se tornou a primeira superpotência do mundo. Antigas agendas políticas e culturais distorceram a verdadeira história da Pérsia.
A obra tem três grandes partes. A primeira trata do estabelecimento do Império, a segunda mostra o que era ser persa e a terceira relata o Alto Império. No prólogo, o autor fala de Persépolis e, no epílogo, trata do passado persa e do presente iraniano. Lista de ilustrações, árvore genealógica da dinastia aquemênida e útil índice remissivo no final estão na obra, que, como se vê, nasceu referencial sobre o tema.
 

Lançamentos

Um prédio chamado amizade (32 páginas, Edição da Autora), da escritora e ilustradora Ivone Rizzo Bins, é literatura infantil, com 23 desenhos em cores e texturas de revistas antigas, que traz oito amigas que moram neste local muito especial e levam a vida com diferentes gostos e jeitos de ser. Uma nona personagem, hábil chef, reúne o grupo em seu restaurante.
O dia em que o Major Alarico Virou estátua (Lex, 102 páginas, R$ 37,90), do consagrado escritor, letrista, poeta e cronista Luiz Coronel, 5º volume da Comédia Gaúcha, traz causos contados com o aprumo dos gaudérios que se afeitam nos espelhos pendurado na figueira, antes dos fandangos. Lançamento na Feira do Livro, 7/11, 18h.
Noventa e Três (Estação Liberdade, 416 páginas, R$ 83,00), é o grande épico do genial Victor Hugo sobre a Revolução Francesa. A narrativa traz um trio durante as revoltas contrarrevolucionárias de 1793, período correspondente à Convenção. Um homem do rei, um ex-padre e um sobrinho de Lantenac, herdeiro espiritual de Cimourdain, estão na obra.

O Livro, a Feira

Pontual como a primavera, quase setentona lépida e faceira, chega a 69ª Feira do Livro, que antigamente cabia num olhar e hoje tem 110 estandes, 630 sessões de autógrafos, 155 palestras e 15 oficinas de escrita e literatura, entre outras atividades. Outros eventos com livros, de Rio de Janeiro e São Paulo, especialmente, são bem maiores, mas nossa Feira é ao ar livre, gratuita e democrática como a Praça.
Há quem fique reclamando que a Feira diminuiu de tamanho, que o volume de vendas de livros não é o mesmo e que ela deveria ser maior. É de pensar nisso tudo, talvez uma Feira na Orla do Guaíba: pesquisas podem ser feitas e a Câmara Rio-Grandense do Livro, após ouvir a sociedade gaúcha, certamente tomará as melhores decisões. O momento é de comemorar a realização da Feira, apesar de alguns percalços na obtenção dos financiamentos. Vamos esperar que ano que vem seja diferente. Ações governamentais foram tomadas. O show tem que continuar e a Feira vai onde o povo está.
Apesar das inovações eletrônicas, de novas plataformas, streaming e dos livros digitais, que não bombaram tanto quanto se imaginava, o livro impresso segue soberano. Volta e meia algum apocalíptico sem noção diz que ele vai morrer e ele segue vivo, muito vivo. A invenção do livro impresso, aproximadamente como ele ainda é, foi em 1452, com Gutenberg, embora na China e no Japão, séculos antes, já houvesse livros impressos.
O livro impresso é uma das invenções mais impactantes na História da Humanidade, ao lado da roda, luz artificial, dinheiro, lei, prego, bússola, prensa móvel, motor, telégrafo, penicilina, transistores e internet. Com a prensa móvel, em apenas 20 anos foram impressos mais de 20 milhões de livros. O conhecimento e o pensamento foram disseminados, o que permitiu que a Reforma atingisse em cheio a Igreja Católica na Europa, criando os países "protestantes".
O livro é um objeto de design incomparável, é um jardim secreto de bolso, uma possibilidade de estar só e acompanhado ao mesmo tempo e uma verdadeira extensão da memória e da imaginação. A leitura silenciosa e solitária de um livro impresso é uma experiência única e, especialmente nas crianças, estimula a fantasia, a imaginação e a inteligência de um modo que nenhum outro meio de comunicação consegue. A leitura possibilita vivermos outras muitas vidas, em um infinidade de lugares. A literatura é o território da liberdade ilimitada, o espaço onde podemos sonhar acordados, nos liberando de tensões, sem censura, auto-recriminações e nem vergonha, como disse Sigmund Freud.
Alguns inomináveis incendiaram livros e bibliotecas, outros pretenderam censurá-los, proibir sua impressão e circulação e até controlar seus conteúdos. Alguns pretenderam utilizar o livro e a literatura para estreitas e discutíveis finalidades político-partidárias, doutrinação, patrulha ideológica e outras coisas do gênero. O livro resistiu e resiste a tudo, impávido, mostrando que democracia e liberdade são eternos como as experiências da vida humana, tão bem retratadas em livros que vencem o tempo e a morte.

a propósito

É isso! Viva a Feira quase setentona sarada e o Livro! Nesse mundinho tumultuado, barulhento, briguento, distópico e cheio de fake news e de bad news, a Feira e o Livro seguem como uma reserva ecológica de informação, entretenimento e educação saudáveis. Um oásis de paz. Completar quase 600 anos de existência é coisa raríssima e sempre é uma alegria e uma esperança ver crianças concentradas e felizes com livros. Quanto aos livros do mal ou de conteúdo não recomendável, bom, felizmente esses são poucos e logo vão para a lata de lixo da história. (Jaime Cimenti)