Escrita, arte e existência humana

Por Jaime Cimenti

o mistério henri pick
O Mistério Henri Pick (L&PM Editores, 280 páginas, R$ 41,90), romance do premiado e renomado escritor francês David Foenkinos, traduzido por Julia da Rosa Simões, é, em síntese, uma hilariante e sofisticada história sobre uma biblioteca que esconde um segredo. Foenkinos, também roteirista de cinema, escreveu quase vinte romances, entre os quais La délicatesse (2009), adaptado para cinema e estrelado por Audrey Tautou, e Charlotte (2014), vencedor do prêmio Renaudot.
O Mistério Henri Pick narra uma curiosa história ocorrida em uma estranha biblioteca de um excêntrico bibliotecário. O acervo da mesma é composto por manuscritos recusados e jamais publicados por casas editoriais.
No bizarro monumento aos esquecidos e à literatura que nunca chegou a ser, Delphine, uma jovem editora em ascensão, encontra, por acaso, um texto que destoa de todos os outros. As últimas horas de uma história de amor, um romance inédito, de um autor já falecido, é publicado e galga as listas de mais vendidos, furando os exclusivos círculos de leitores para causar frisson em todo o país.
Todavia, a trama vertiginosa não é bem o que parece e não demoram a surgir dúvidas acerca da identidade do improvável autor do best-seller. Qual será a verdade por trás do mistério Henri Pick? A viúva de Pick, morto dois anos antes da publicação da obra-prima, garante que ele nunca escreveu nada além de listas de compras. Mesclando habilidade narrativa, ironia e humor, Foenkinos borra os limites entre a vida, a arte e a existência humana, para deleite, em especial, dos aficionados pela literatura.
Borgiano, sarcástico e trepidante, O Mistério Henri Pick desnuda para o leitor os bastidores da indústria do livro ao mesmo tempo em que reflete sobre a natureza da escrita e suas relações com o mercado, os leitores e os críticos.