Para entender o Brasil

Por Jaime Cimenti

Quem não sabe que o Brasil não é para amadores e que aqui até o passado é imprevisível? Há livros importantes para entender ou tentar entender o Brasil, como Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holana, Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro, Brasil, uma biografia, de Lilia M. Schwarcz e Heloisa M . Starling, e obras de Laurentino Gomes, entre outras.
A Culpa é dos Outros - O País dos Coitadinhos (Avis Rara, 448 páginas, R$ 89,90), do grande jornalista, publicitário e escritor Emil Farhat (1914-2000), é uma obra clássica e perene sobre a política brasileira, que em boa hora está sendo reeditada, após décadas de seu lançamento.
Farhat trabalhou em O Globo, Diário da Noite e Diário de Notícias, nos quais foi repórter político e depois secretário de redação. Trabalhou na McCann Erickson do Rio de Janeiro como redator e depois foi seu presidente entre 1966 e 1969. Recebeu o Prêmio Jabuti pela obra Dinheiro na estrada, em 1988.
Nesta obra, o autor radiografa o Brasil com premonição e por isso ela segue, infelizmente, bem atual. O Brasil não mudou muito nesses últimos 50 anos, em termos de desenvolvimento político, econômico, social e cultural. Segue a forma eleitoreira dos partidos e líderes que prometem mundos e fundos aos "coitados" e acabam subvertendo a lógica de uma sociedade próspera, tornando todos, povo e grandes empresas, dependentes de favores estatais. Em síntese, Farhat mostra a alma brasileira, que já em 1966 mostrava o caminho que iria tomar ao idolatrar o fracasso e culpar o sucesso.
"O Brasil não pode mais ser governado por homens de coração murcho e de mente curta, homens que deliberadamente confundem admiração com popularidade, homens que digam sempre sim, mas à custa da nação; que exploram o bom mocismo e se aproveitam e se pavoneiam com generosidades feitas com o chapéu do Tesouro, que é amealhado com o que vem do suor de todos; homens inflados de muita vaidade, mas vazios de ideias e de cultura", escreveu o autor.

 

 

Lançamentos

Dicionário Talian/Português/Italiano de Curiosidades, Elogios e Impropérios (Editora Alta, 182 páginas) organizado e apresentado pelo consagrado professor e escritor Roni Dall´Igna, fruto de pesquisa com mais de 1300 entrevistados , resgata uma obscura e importantíssima parte do talian, língua cooficial de muitos municípios do RS.

A Vida é Divertida – Histórias que a vida conta (Editora Labrador, 318 páginas, R$ 45,00) de J. Lopes, diretor de empresas e escritor tem crônicas sobre maremoto no Havaí, incidente na China, tempestade na Nova Zelândia e histórias de muitas pessoas inesquecíveis que o autor encontrou e homenageia.

O Brasil não é uma piada (Editora Intrínseca, 240 páginas, R$ 59,90) de André Marinho, apresentador, comunicador e comentarista, imitador e versado em política, fala dos bastidores do QG eleitoral de Bolsonaro em 2018 e de muito mais. André atuou no programa Pânico e saiu sem sucumbir ou entrar em pânico.

Então é a democracia

Como os eternos tempos e ventos, segue a boa, velha, milenar democracia com seu interminável caminho e sua infindável renovação, agora com as sofisticações eletrônicas e as mentiras, verdades e meias verdades cada vez mais múltiplas e entrelaçadas, deixando os meros, mas não tão meros eleitores cada dia mais aturdidos. Nas Ágoras, praças principais das antigas cidades gregas, origem da democracia, as coisas eram mais simples e transparentes.
Mas o que temos para hoje está aí, meio circo, meio hospício, meio luta de vale-tudo, até com um pouco de coisas sérias e alguns projetos ou ausência deles. Democracia é a pior forma de governo, com exceção dos demais, como teria dito Churchill. As eleições são a “festa democrática”, o voto o melhor da democracia, que alguns arautos equivocados dizem que anda morrendo. Morreram algumas formas de democracia, que se recria e vai mostrando que o tempo é o senhor da razão, que mentira tem perna curta e que o povo não é bobo, em nenhuma parte do globo.
Por aqui a festa democrática segue e os cômodos clichês também, que tem horas que precisamos deles. Lira, o Presidente da Câmara, quer votar a regulamentação de pesquisas eleitorais e disse que as pesquisas não devem ser usadas para “conduzir o eleitorado”. Estamos de acordo com relator e seria bom regulamentar as duvidosas pesquisas o mês passado, com efeitos retroativos, mais juros, multa e correção monetária em favor dos eleitores contribuintes.
Voto em cédula ou impressão do voto precisam ser analisados por quem de direito, para dar às pessoas mais tranquilidade no sistema eleitoral. Se as urnas e nosso sistema são seguros, por que não imprimir os votos? Segundo a Folha de São Paulo, só Brasil, Bangladesh e Butão usam urna eletrônica sem comprovante de voto impresso.
Nosso sonho de verão eleitoral é que os candidatos deixem ofensas pessoais de lado, golpes abaixo da linha da cintura, dedos nos olhos, cuspidas na cara, puxadas de cabelos e apresentem números, ideias, propostas e soluções para esse nosso Brasil, país de parto demorado e que há séculos tenta ser uma verdadeira nação. Os eleitores também precisam pensar e agir de modo a buscar convivência mais harmônica.
Não é fácil, está quase todo mundo opiniático, nervoso, crítico e um dizendo que o outro é antidemocrático e totalitário. País dividido tem mais dificuldades para crescer e ir adiante. A polarização e as brigas cotidianas, presenciais ou nas redes, não ajudam ninguém. Parece que os únicos que realmente ganham são os institutos de pesquisas.
Gaspar Silveira Martins, no tempo em que havia mais boas ideias e discussões sérias, disse: “Ideias não são metais que se fundem, a não ser no caldeirão da ditadura, do autoritarismo ou da corrupção”. Precisamos entender que, apesar das divergências ou por isso mesmo, é preciso ter civilidade e entender que gostar do outro verdadeiramente é gostar dele quando ele é ou age diferente. Pessoas podem divergir do vizinho sem, necessariamente, ser inimigo e ofensor. Melhor não atirar pedras no vizinho. Ele pode pegá-las e atirar de volta.

A propósito

Por favor, não digam que sou sonhador ou que tenho síndrome de Poliana. Sou mais Mario Quintana: Das utopias “Se as coisas são inatingíveis... ora! / Não é motivo para não querê-las... /Que tristes os caminhos, se não fora / A presença distante das estrelas“. Convido a mim e a todos os meus queridos, civilizados e democráticos leitores e também aos não leitores, a encarar estes dias de tensão eleitoral com toda a harmonia e a paz possíveis. Vamos deixar as facas nas gavetas da cozinha, só para preparar alimentos . Facada só na picanha . Antes de falar ou agir, vamos contar até 1888. Sei que não é fácil, que está todo mundo meio bipolar. Bipolar? Melhor que sejam duas cervejas, com o perdão desse trocadalho que não é do carilho. Tenha paciência e delicadeza com você e com os outros e mantenha a esperança.