Biografia romanceada do Rei dos Tropeiros

Por

O Cavaleiro da Terra de Ninguém, romance do escritor, jornalista e ex-professor universitário porto-alegrense Sinval Medina, tem por subtítulo Vida e tempos de Cristóvão Pereira de Abreu. Medina é autor de mais de dez livros, entre outros, do romance Tratado da Altura das Estrelas, 1997, que recebeu o prestigiado Prêmio Passo Fundo de Literatura e, desde 1997, dedica-se somente à literatura. “Não vivo do que escrevo, mas vivo para escrever”, diz o escritor. Escrita num estilo que o autor intitula “barroco tardio”, O Cavaleiro da Terra de Ninguém, a partir de uma minuciosa pesquisa em fontes bibliográficas e arquivos históricos portugueses e brasileiros, reconstrói, ficcionalmente, a vida de  Cristóvão Pereira de Abreu, nascido em Portugal em 1678. Negociador de couros, baseado no Rio de Janeiro, ele ajudou a construir a dimensão territorial que o Brasil tem atualmente. Ficou conhecido no Brasil e, em especial, na Terra de Ninguém (como era conhecido o Rio Grande do Sul na época) como o Rei dos Tropeiros. O coronel Cristóvão Pereira de Abreu, ainda no início do século XVIII, atrás de couros, realizou dezenas de incursões às províncias sulinas, notadamente ao Rio Grande do Sul e abriu, desta forma, caminho à integração social, política e econômica da região ao corpo geográfico do Brasil. A biografia romanceada, além de ser um relato histórico atraente e emotivo, consegue preencher com versões plausíveis lacunas não esclarecidas pelos registros históricos pesquisados. Explorador, sertanista e combatente, Cristóvão Pereira é revelado, sem retoques, por um narrador contemporâneo a ele, que vai descortinando, também, o cenário histórico da primeira fase do Ciclo do Ouro, com ações transcorridas no Rio de Janeiro, Minas, São Paulo, Santa Catarina, e, sobretudo, na Terra de Ninguém. Cristóvão foi muito mais do que um rústico e intrépido sertanista. Seus interesses comerciais iam da Colônia do Sacramento a Londres, passando por São Paulo, Rio de Janeiro, Minas e Lisboa. Ele foi homem de confiança do governador Francisco de Castro Morais e negociou o resgate da cidade do Rio de Janeiro, tomada pelo francês Du Guay Trouin, além de ter participado da origem de Porto Alegre, da  fundação da vila de Rio Grande e das delimitações de fronteiras estabelecidas pelo Tratado de Madrid. Enfim, o leitor brasileiro tem diante de si um dos maiores personagens de nossa História. Editora Prumo, 432 páginas, R$ 39,90, www.editoraprumo.com.br.

Lançamentos

  • Os tempos de Getúlio Vargas, do engenheiro e escritor baiano José Carlos Mello, com apresentação de Murilo Melo Filho, com sobriedade e distanciamento, traz fatos novos e até inéditos historicamente da vida pessoal e política de um de nossos maiores estadistas. Topbooks, 596 páginas, www.topbooks.com.br.
  • Cinderela - Uma biografia autorizada, de Paula Mastroberti, Prêmio Açorianos, busca reciclar os contos de fada/contos maravilhosos, para leitores “não tão infantis”, de 11 anos em diante. Um estilista com acesso à realeza conta a história da filha de uma família rica, que ficou órfã e ... Artes e Ofícios, 96 páginas, www.arteseofícios.com.br.
  • Guerreiros do sol - violência e banditismo no Nordeste do Brasil, do escritor e Procurador Federal aposentado Frederico Pernambucano de Mello, quinta edição, é o mais profundo e abrangente estudo sobre os cangaceirismo. Realizada com base em pesquisas em fontes primárias e secundárias, aborda a questão em vários ângulos. Girafa, 520 páginas, www.artepaubrasil.com.br.
  • O circo da noite, da escritora e artista multimídia Erin Morgenstein, traz o Circo dos Sonhos, que chega de repente, com fantasia, magia e histórias mil. O texto desafia rótulos, gêneros e expectativa e foi um dos destaques na Feira do Livro de Frankfurt de 2010. A obra foi vendida para mais de trinta países e vai virar filme. Intrínseca, 368 páginas, www.intrínseca.com.br.

e palavras...

Brasil, presidentes, governos, livros

Uma boa notícia no mercado editorial brasileiro, nestes últimos vinte anos, é o lançamento de várias obras sobre presidentes da República e respectivos governos. O jornalista Elio Gaspari registrou os bastidores do período da ditadura militar em vários volumes. Collor, Sarney, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Lula foram objeto de obras, a favor, contra ou, na medida do possível, imparciais. Já temos alguma memória e, no presente, no Brasil, o passado não é tão imprevisível como já foi. Honoráveis Bandidos - Um retrato do Brasil na era Sarney (Geração Editorial), do jornalista Palmério Dória, A usina da injustiça de Ricardo Trezzi; O dinheiro sujo da corrupção, de Rui Martins; CPI da Pirataria, de Luiz Antonio de Medeiros; Memorial do Escândalo, de Gerson Camarotti e Bernardo de La Pena, e a bola da vez, A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., da Coleção História Agora, da Geração Editorial, são títulos que auxiliam a entender o que acontece em nosso Brasil. Amaury Ribeiro Jr., três prêmios Esso e quatro Vladimir Herzog, dedica sua vida ao jornalismo investigativo. Trazendo documentos secretos sobre o que afirma ter sido o maior assalto ao patrimônio público brasileiro, mostrando a fantástica viagem das fortunas tucanas até o paraíso fiscal da Ilhas Virgens Britânicas e falando, também, sobre como o PT sabotou o PT na campanha de Dilma Rousseff. Amaury levou um tiro na barriga que quase o matou, num bar de Goiás, numa noite de 2007, quando investigava o narcotráfico e o assassinato de adolescentes, na periferia de Brasília. Traumatizado, o jornalista mudou-se para Minas. Trocou as pautas de polícia em favor das de política, que, como se sabe, tem aproximações. O jornalista começou a investigar uma rede de espionagem estimulada pelo ex-governador paulista José Serra, para desacreditar seu rival no PSDB, Aécio Neves. Ao puxar o fio da meada, o jornalista investigativo mergulhou num novelo de proporções espantosas. O relato jornalístico é objetivo, claro, amparado em documentos. Não há quebra de ética jornalística ou violação de sigilos. Como todo jornalista investigativo visceral, Amaury “seguiu o dinheiro” e descobriu fatos impressionantes. A narrativa é panorâmica, tipo romanção cheio de personagens. O livro figura na lista dos mais vendidos e mostra muito sobre privatização, empresas, política e mídia.

e versos

Quisera dar ano nada
uma voz
enlouquecida!
Queria que um passarinho
escolhesse minha voz
para seus cantos.
Tenho um gosto
elevado
para  o chão.
Madrugada
A voz estava aberta
Para os passarinhos.
Os rios gostam
de entardecer
entre os pássaros.
Manoel de Barros em Escritos em verbal de ave Leya, www.eya.com.br