Primeira epopeia portuguesa do século XXI

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Uma viagem à Índia, do escritor português Gonçalo M. Tavares, nascido em 1970, está sendo considerada como a primeira epopeia portuguesa do século XXI e um acontecimento literário absolutamente fora do comum. Os críticos e leitores, pelo visto, não exageram e muitos, aliás, comparam os poemas do livro aos versos de Os Lusíadas, de Camões, por sua magnitude, mas ressaltando que Uma viagem à Índia foi escrito nos dias de hoje, retratando as vicissitudes do novo século e com referências a obras literárias da modernidade e pós-modernidade. Não por acaso, Gonçalo M. Tavares já recebeu vários prêmios importantes, entre os quais o Prêmio José Saramago 2005 e o Prêmio LER/Millenniun BCP 2004, com o romance Jerusalém (Caminho). Tavares também já recebeu o Prêmio Portugal Telecom 2007 (Brasil), o Prêmio Internazionale Trieste 2008 e o Prêmio Belgrado Poesia 2009 (Sérvia). Estão em curso 160 traduções das obras de seus livros em edições distribuídas por 35 países. Uma viagem à Índia é a narrativa em versos da viagem de Bloom - um homem que tenta aprender e esquecer no mesmo movimento, traçando um itinerário de uma certa melancolia contemporânea. No prefácio, Eduardo Lourenço diz que a obra, não sendo (ainda que) uma profunda e divertida "suma ateológica" da nossa existência como Ilusão, à maneira de Antero (com o humor a mais), Uma viagem à Índia é uma navegação parada e fulgurante da nossa alma de pós-modernos, fugitivos e perseguidos, como um herói de banda desenhada entre os recifes simétricos de um poder sem rosto que nem precisa existir para nos servir de Destino e uma universal Ilha de Amores tarifados de onde desapareceu até a lembrança de que alguma vez, como na história de Pedro e Inês (de Bloom e Mary), Poder e Amor tivessem dormido na mesma cama. Na orelha está registrado que a notoriedade de Tavares em breve será global (The Times Literary Supplement) e que Tavares criou algo compulsivo, sombrio, belo e totalmente original. Sim, e inóspito, mas é também intelectualmente provocador e brilhante (The Independent). De fato, Uma viagem à India é, ao mesmo tempo, um prosaico poema, um antipoema e um hiper-poema, que com consciência aguda de sua ficcionalidade, navega e vive entre os ecos de mil textos-objetos de nosso imaginário de leitores.  Mais não é preciso dizer. Quem viver verá. Leya, 480 páginas, www.leya.com.

E palavras...

Punta del Este, árabes, israelitas, italianos e governo
Diz a velha e brincalhona sabedoria popular que quando árabes, israelitas e italianos se juntam para algum negócio ou empresa, só quem sai perdendo, geralmente, é o governo. Toda regra tem exceção, claro. No caso da piada milenar, a exceção, claro, é Punta del Este, onde os  Risso, os Gorlero, os Gattás e os Litman, entre outros, construíram um maravilhoso paraíso à beira-mar, num local de natureza selvagem, clima complicado, mar gelado e onde parece que o governo saiu ganhando também. Faturamento não tem bandeira, a gente sabe. O livro História de Punta del Este – Desde el descubrimiento de América hasta el siglo XXI, do escritor, livreiro e editor Juan Ignácio Pólo Risso, publicado pela Editorial Sudamericana, conta sobre o nascimento de Ituzaingó, que em 1907 foi rebatizada como Punta del Este e fala da evolução da cidade até o ano 2000. Punta teve altos e baixos, mas, no momento, mais de 60 novos prédios estão sendo construídos e se pode, ainda, fazer turismo sem sofrer crimes violentos. Adriana Graziuso, juíza de Direito da cidade, manda cumprir uma lei federal e a polícia recolhe pessoas que não tenham documentos, emprego e endereço e/ou “foragidos que vão robar en la Gorlero. Sin seguridad no hay turismo”, disse a magistrada, na capa do El Pais. Ela já oficiou no Chuí e, há dois anos, encontra-se em Punta. Ao mesmo tempo em que respeita a liberdade de ir e vir, a juíza procura prevenir a criminalidade, na forma da lei. Os esnobes, os elitistas e os que não podem ou não querem mais ir para lá reclamam que Punta anda meio popular, que todo mundo agora vai e que nos velhos tempos o balneário era mais elegante, charmoso e seleto. Acho a crítica exagerada e penso que a relativa democratização de Punta faz todos ganharem. Claro que a grande quantidade de turistas causa alguns engarrafamentos e outros problemas, mas, ao fim e ao cabo, o movimento impulsiona a cidade e lhe dá certa vida até nos meses de baixa temporada. O certo é que hoje pouquíssimos lugares do mundo são tão limpos, tranquilos e seguros quanto Punta, onde, se tiveres sorte, o lucro jogando nos cassinos pode pagar tuas contas. Bom, mas se os leitores acham isso pouco, aí sugiro irem para Saint Barthelemy, que é no e do Caribe. Lá poderão, com sorte, ver o derriére da Gisele Bündchen y otras cositas mas. Mas é mais caro, bem mais.  Boa viagem!

Lançamentos

  •     Saber-Fazer Filosofia, três volumes, 152, 126 e 136 páginas, coordenados por Giovanni Semeraro e escritos por ele, Carlos Diógenes Tourino e Martha D´Angelo, apresentam textos para estudantes de Ensino Médio e leitores  em geral sobre pensadores da Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e contemporâneos. Editora Ideias e Letras, www.ideiaseletras.com.br
  •    Hot Shots - faça de cada foto a sua melhor, do premiado fotógrafo inglês Kevin Meredith, ensina enquadramento, composição, iluminação e edição de modo fácil, com dicas e dezenas de exemplos de imagens inovadoras, especialmente para câmaras compactas. Bookman, 224 páginas, telefone 3027-7000.
  •    Misterioso caso na repartição pública, do consagrado médico e escritor Nilson Luiz May, romance que se passa na Porto Alegre de 1968, tempo do famigerado AI-5, numa repartição pública de elite (Sinou), onde a proposta era reduzir a burocracia em defesa do cidadão, mostra mistérios, suspeições e outras coisas que, se não resolvidas, poderiam desmoralizar o sistema. Sulina, 200 páginas, www.editorasulina.com.br
  •    Escola de Cozinha - Receitas Ilustradas com técnicas de preparação passo a passo com curadoria de Francesca Badi e consultoria de Piero Rainone traz receitas e técnicas para massas, molhos, carnes, peixes, vegetais, frutas e doces. Glossário e índice no final. Larousse, 511 páginas, www.larousse.com.br.

E versos

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Pelos teus círculos

vagamos sem rumo
nós almas penadas
do mundo do consumo.
De elevador ao céu
pela escada ao inferno:
os extremos se tocam
no castigo eterno.
Cada loja é um novo
prego em nossa cruz.
Por mais que compremos
estamos sempre nus
nós que por seus círculos
vagamos sem perdão
à espera ( até quando?)
da Grande Liquidação

José Paulo Paes, no jornal Vaia, www.jornalvaia.com.br