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A obra-prima de Pushkin
Alexandr Sergueivich Pushkin, 1799-1835, é um dos mais reconhecidos escritores russos. Seu romance em versos Eugênio Oneguin é considerado como sua obra-prima e o genial Fiodor Dostoievski não hesitou em classificá-la como a obra mais representativa da vida e da literatura russas. Pushkin tem sido considerado como o maior poeta russo de todos os tempos. Com tradução extremamente elaborada do diplomata, escritor e tradutor Dário Moreira de Castro Alves, que consumiu 11 anos de trabalho, Eugênio Oneguim foi lançado há poucos dias entre nós. No livro, Pushkin retrata Oneguim jovem, aristocrata, militar, cansado dos prazeres, insensível e que se mantém solteiro por medo de assumir responsabilidades. Um amor passa pela sua vida, a quase adolescente Tatiana, mas ele o ignora. Anos depois parece despertar do tédio e reencontra Tatiana, já mulher, num baile, mas casada com um príncipe, general, mutilado de guerra, imponente figura, que ela conhecera em Moscou, num projeto concebido por sua mãe, Madame Lárin. De mocinha do interior Tatiana transformara-se em grande dama. Eugênio envia carta apaixonada para Tatiana, que responde-lhe dando conta da impossibilidade de se envolver com ele. A carta é peça central do capítulo três do romance. A força criadora e a arte consumada da novela eternizaram-na, atribuíram fama internacional para Pushkin e inspiraram artistas do porte de Tchaikovsky, que compôs uma ópera homônima. Na introdução, Dário Moreira de Castro Alves escreveu que os poucos 38 anos de vida de Pushkin foram cheios de aventuras, extravagâncias, hábitos de dissipação e dandismo, conquistas amorosas e que seu espítito indômito, liberal e genial lhe criou muitas dificuldades de convivência com o autocrático regime russo. Dário menciona que o poeta viveu confinamentos e restrições em várias partes da Rússia, foi exilado em sua própria terra, temido e respeitado. Seu temperamento era frívolo e profundo ao mesmo tempo e era hipocondríaco. De origem africana, fascinado por Byron, precedeu grandes autores russos como Turguenev, Tolstoi e Dostoievski. Dos 24 aos 32 anos, Pushkin produziu Oneguim, seu maior trabalho artístico. Editora Record, 288 páginas, mdireto@record.com.br.
E PALAVRAS...
Paulo Francis ou abaixo a unanimidade
O jornalista, escritor e polemista Paulo Francis, 1930-1997, morreu em plena atividade, no auge, em Nova Iorque, onde viveu e trabalho muitos anos. Depois dele o Manhattan Connection, onde ele falava apenas alguns minutos semanais e ganhava uma fortuna, nunca mais foi o mesmo. Nelson Rodrigues escreveu que a unanimidade é burra. Francis jamais foi unanimidade. Era amado, odiado, com intensidade, mas raramente ignorado. Uns o chamavam de gênio e mestre, outros de racista, preconceituoso e irresponsável. Metralhadoras giratórias muitas vezes têm fim trágico. São como crianças que são chamadas para dizer gracinhas e palavrões na sala e depois mandadas para o quarto. Uns dizem que Francis morreu cedo por tratamento médico equivocado e outros falam no desgaste que ele sofria por um processo que lhe movia um ex-presidente da Petrobras. O fato é que, depois de 13 anos de sua morte, ele segue na memória da gente, num país ainda sem muita memória. Filmes, livros, artigos e programas jornalísticos estão aí para lembrar uma das figuras mais marcantes do jornalismo e da cultura do Brasil. Ideologias, posições e críticas à parte, acho que o grande legado de Francis é a liberdade de expressão, levada, às vezes, ao exagero. Nosso livre-pensador não poupava poderosos de qualquer partido, time, facção, religião ou o que fosse. Perdia o amigo, nunca a crítica ou a piada. Grandes humoristas, artistas, pensadores e críticos sabem que o bem maior de sua vida e de sua missão é a liberdade criativa, a imaginação solta e a possibilidade de exprimir o que muitos não podem ou não conseguem. Claro que surgem inimigos, críticas, brigas, intrigas, processos, doenças e muito mais, até mesmo a morte. Mas os verdadeiros e inteligentes bufões não têm medo da morte, do ridículo e nem dos humores variáveis dos reis de plantão, que de repente mandam cortar suas cabeças. Muitos bufões, estão, até, imortalizados em telas dos grandes museus da Europa, junto dos reis. Depois da vida, a gente sabe que a liberdade é o bem maior. Em meio a toda a polêmica, devemos reverenciar a memória de Paulo Francis, que, acertando ou errando, a critério livre de cada um, mostrava as roupas e a nudez de reis e reizinhos que pensam que conseguem controlar os nada bobos, incontroláveis e eternos truões. Reis e reizinhos espertos, aliás, não censuram nem matam críticos. Aproveitam a inteligência e o humor deles a seu favor. E a favor de quem gosta de riso e liberdade.
Lançamentos
• Cinema e História, do historiador e professor Marc Ferro, examina as relações entre cinema e história. A obra revolucionou os estudos cinematográficos do século XX. O autor analisou filmes como O encouraçado Potemkin e O terceiro homem, entre outros, mostrando processos de produção e influências políticas e sociais. Paz e Terra, 246 páginas, www.pazeterra.com.br.
• Dez anos com Mafalda, de Quino, reproduz, organizado por tema, todas as tiras da antológica menina, falando de família, TV, liberdade, férias, rua, escola, Susanita, Felipe, Manolito, Miguelito e Guile. WMF Martins Fontes, 192 páginas, www.wmfmartinsfontes.com.br.
• O Mistério Sittaford, de Agatha Christie, narra acontecimentos numa noite de tempestade de neve na remota localidade de Sittaford. Um grupo de vizinhos participa de uma sessão espírita improvisada. O nome de um conhecido surge de repente junto com a palavra assassinato. L&PM Pocket, 256 páginas, www.lpm.com.br.
• Levementeleve traz crônicas da escritora mineira Laura Medioli, que tratam, com graça, elegância e humor, de temas do cotidiano. A linguagem é leve e poética, e a autora, com inspiração e com percepção feminina, observa as pessoas e o mundo que vibra com a vida. Editora Leitura, 236 páginas, www.editoraleitura.com.br.
E VERSOS
Uma vela a Nossa Senhora da Boa Morte
a liberdade bastarda se infiltra onde
o céu encontra a terra
denuncia intensa atividade literária
essa idéia no papel derramada assim feito gelatina
nem parece uma idéia parece mais um
estorvo feito de cimento e osso
o sol miúdo sem bolor entesourado e mudo
desonera de rapapés e obrigações um aglomerado de
letras na biblioteca universal dos manuscritos
toda tradição se renova pela libertinagem
a boa nova vem pelo esquecimento intencional das regras
um livro que não descenda de nenhum outro é uma indecência
de sorte que o pecado original da invenção
mais que matar o padre e ir ao cinema
é declarar-se órfã pretender-se sem pai sem par
numa semana ensolorada de 22
um bebê de proveta aproveita a tarde à beira mar
no calçadão desenhado por Niemeyer
Alexandre Brito em Metalíngua,