Labirintos da alma humana

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O escritor húngaro Elie Wiesel, nascido em 1928 e atualmente residindo em Connecticut, Estados Unidos, é autor de mais de cem livros e já recebeu mais de cem títulos honoríficos de importantes instituições de Ensino Superior. Agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 1986, Wiesel acaba de lançar no Brasil o romance O Caso Sonderberg. A narrativa trata dos temas preferenciais do autor como infância, memória, loucura, identidade, vida e morte. As questões do livre-arbítrio, da responsabilidade individual e coletiva e a eterna busca pela verdade estão também na história que envolve imaginário, real, razão e espiritualidade, filosofia, direito e, fundamentalmente, os labirintos infindáveis da alma humana. Werner Sonderberg, jovem estudante universitário alemão, é acusado de assassinato do tio durante uma viagem e protagoniza a história com Yedidyah, judeu polonês jornalista e crítico teatral que acaba, devido ao seu talento para interpretação de pessoas, escalado para cobrir o julgamento. Acompanhando os desmembramentos do caso, Yedidyah começa a analisar sua própria vida e suas próprias escolhas. Em crise existencial, questiona sua identidade e se entende as reais necessidades de sua esposa. Busca reencontrar rostos desaparecidos de um pai, uma mãe e um irmão. Yedidyah chega mesmo a recorrer à hipnose para buscar imagens de infância e lembrar e se reconciliar com uma história que, até o fim dos tempos, causará vergonha à humanidade. O romance é narrado ora em primeira pessoa, por Yedidyah, ora em terceira pessoa e, como num diário, memórias, encontros, pensamentos, reflexões e digressões vão se acumulado e se mesclando. Perante o juiz Werner declara-se culpado e não culpado. Onde começa e termina a culpa de um homem?, questiona Elie Wiesel, enquanto narra os ambíguos acontecimentos, emoções e pensamentos dos personagens.  No Brasil, Elie Wiesel já tinha publicado o romance Uma vontade louca de dançar, pela Bertrand. O Caso Sonderberg, seu mais recente sucesso, narrado sem regras preestabelecidas, mostra como somos humanos, demasiadamente humanos. Demonstra que na vida nem tudo é límpido e que pureza só é válida em química. Nem sempre é isto ou aquilo, preto ou branco. Wiesel revela até onde a realidade pode estar misturada com a fantasia e como são profundos e escuros os desvãos de nossas almas. Bertrand Brasil, tradução de Karina Jannini, 208  páginas, R$ 34,00, mdireto@record.com.br.
E PALAVRAS...
Os três tês, os vovôs e a Previdência Social
Antes dos viagras da vida, coisa de alguns anos atrás, a gente costumava pensar que na vida de um homem três coisas raramente andavam juntas: tempo, saúde e dinheiro ou, para os mais informais, os famosos três tês: tempo, tesão e tutu. Tutu significava dinheiro, lembram? Quando o cara era moço, lá pelos tempos da brilhantina, tinha saúde de monte e tempo, mas geralmente não tinha grana. Na meia idade o homem ainda tinha saúde, uns pilas, mas o tempo era dedicado a andar por aí matando javalis para sustentar a família. Quando o cara se aposentava, lá pelos 50 anos, vivia mais alguns anos (a média de idade do brasileiro em 1974 era mais ou menos 56 anos) mas a saúde já rateava. Os aposentados eram mais pacatos, viviam mais nos seus aposentos, sentados em velhas cadeiras de balanço, de pijama listrado e chinelos, lendo o jornal na frente da televisão. Tinha até general de pijama. Hoje a média de idade dos brasileiros anda lá pelos 70, e o tempo de vida na fase da aposentadoria aumentou. Com os tratamentos, cuidados médicos, alimentação, exercícios físicos e remédios tipo o viagra, os vovôs estão aí engraxando, amarrando as chuteiras, dando seus chutinhos, fazendo suas embaixadinhas e golzinhos. Ou serão chutões, golaços e lançamentos de quarenta metros? Tempo, saúde e dinheiro andam, agora, muitas vezes, juntos. E as coisas nem sempre são fáceis. Em casa, de vez em quando pinta um estresse, pois nem sempre a vó está a fim de namoro e aí o vô, turbinado, vai bater bola em outros campinhos. O problema, em especial para a Previdência Social, é quando o vô se separa da vó ou fica viúvo e casa com uma guria de trinta, trinta e poucos ou até menos. Depois de uns anos de vida nosso lépido vovô se vai e deixa uma pensão para a jovem viúva, que vai viver mais uns quarenta e tantos anos. É um nó para a Previdência e para nós todos, que vamos ter de pagar pelos outonais-viagrais dos vovôs. Nada contra o amor, o sexo e a liberdade, que são lindos, claro, muito antes pelo contrário. De repente os namoros são muitas vezes até simpáticos, verdadeiros, necessários e saudáveis, não vamos negar. Mas vamos combinar que os preços acabam meio salgados e os cálculos autuariais e outros detalhes precisam ser considerados, vocês não acham? Ou então vamos todos participar da festa.
Lançamentos
Identidade - Rio Grande do Sul – Identity, editado por Leonid Streliaev, também responsável pelas fotos, tem textos da governadora Yeda Rorato Crusius, Lya Luft, Assis Brasil, Walter Galvani e outros sobre nossa gente e nossa História. A edição, encadernada, tem 156 páginas, é bilíngue (português-inglês) e teve o apoio da CEEE, Banrisul, Corsan, Sulgás e CaixaRS.
O poder pelo avesso, da consagrada jornalista Dora Kramer, colunista do jornal O Estado de S. Paulo, reúne 99 crônicas políticas relativas ao período de 2001 a 2009, mostrando por que Dora é considerada nossa principal jornalista política. Raciocínio claro, discernimento incomum, autonomia e coragem estão nos textos. Barcarolla, 416 páginas, www.editorabarcarolla.com.br.
Outras Modernidades - Vol.I EUA e Nuestra América-Textos e Propostas, livro digital coordenado por Daniel Aarão Reis, traz textos organizados por Cecília Azevedo, Rodrigo Farias, Gabriel Neiva, Norberto Ferreras e Mariana Bruce sobre confrontos de culturas, modernidade e outros temas relevantes. R$ 19,00, www.fgv.br/editora.
Quente, Plano e Lotado, de Thomas L. Friedman, autor do best-seller O Mundo é Plano, ajuda a entender o complexo novo mundo do capitalismo global, com seus desafios e oportunidades e sua velocidade exagerada de crescimento que desestabilizou mercados e natureza. Editora Objetiva, 637 páginas, R$ 67,90, www.objetiva.com.br.
 E VERSOS
Naquele dia eu estava um rio.
O próprio.
Achei em minhas areias uma concha.
A concha trazia clamores do rio.
Mas o que eu queria mesmo era de me
aperfeiçoar quanto um rio.
Queria que os passarinhos do lugar
escolhessem minhas margens para pousar.
E escolhessem minhas árvores para
cantar.
Eu queria aprender a harmonia dos
gorjeios.

Manoel de Barros, em Menino do mato, Leya, www.leya.com