Mão no ar, mão recolhida

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Estão deterioradas as relações entre o governador Tarso Genro (PT) e a senadora Ana Amélia Lemos (PP).  Depois de trocarem ataques na campanha, os dois se reencontraram ao acaso na semana passada no Congresso. Tarso estendeu a mão para Ana; ela não retribuiu.
O jornalista Eumano Silva, que presenciou o incidente político, registrou na revista IstoÉ, desta semana,  que Ana Amélia está  magoada com a acusação feita por Tarso, no horário eleitoral, de que ela teria ocultado na declaração de patrimônio uma fazenda recebida do espólio do falecido marido. “A senadora, pelo menos por enquanto, não perdoou a utilização pelo adversário de um tema pessoal” – conta o jornalista.
Com o metro quadrado a R$ 116 mil, um trabalhador que ganha salário mínimo levaria 6.481 anos para comprar o imóvel.
Uma ressaca jurídica de R$ 30 milhões
O STJ pôs fim, na semana passada, a uma guerra judicial – de vários rounds – entre os irmãos Benedito e Luiz Augusto Müller, donos da Companhia Müller de Bebidas, que fabrica a famosa  Cachaça 51.  Os dois não se falam desde 2005, quando faleceu o patriarca e fundador da empresa Guilherme Müller.
Benedito acionou o irmão, entre outros motivos, por retiradas milionárias e gastos excessivos bancados pelo caixa da empresa. Só em viagens internacionais, Luiz Augusto chegou a gastar R$ 419 mil em menos de quatro meses. No cartão de crédito corporativo, em nove meses, mais R$ 245 mil. Confirmando decisão da Justiça paulista, o STJ chancelou a conta de gastos supérfluos e sem interesse da empresa em R$ 30 milhões, cifra apurada por uma perícia contábil feita na empresa.
A Caninha 51 é uma marca brasileira de cachaça, líder em vendas do mercado,  produzida pela Companhia Müller de Bebidas desde 1951.  Sua sede operacional fica na cidade de Pirassununga (SP). Atualmente, a cachaça Pirassununga 51 é exportada para mais de 50 países. Os irmãos que se desavieram continuarão como sócios da empresa: Benedito, o majoritário tem 60%; Luiz, 40%. (AResp n º 485112).
Bancados pelos bancos  
Os dois maiores bancos privados brasileiros, juntos, investiram R$ 84,1 milhões ajudando candidatos à Presidência, Câmara, Senado e governos de Estados.  O Bradesco e dez empresas a ele vinculadas doaram R$ 65,2 milhões; foram R$ 45 milhões a partidos e R$ 20,1 milhões diretamente a candidatos. Entre os presidenciáveis, Dilma Rousseff foi a única ajudada. Recebeu R$ 3 milhões da Bradesco Capitalização e mais R$ 2 milhões da Tempo Serviços.
O Itaú foi mais econômico. Destinou R$ 18,8 milhões a candidatos e fechou a caixa aos partidos, que não receberam sequer um centavo seu.  Até o momento, de acordo com as prestações de contas entregues ao TSE, os únicos candidatos à presidência lembrados pelo Itaú foram Eduardo Campos (R$ 2 milhões),  Aécio Neves (mesmo valor) e o nanico José Maria Eymael (R$ 50 mil).
Você já sabe, mas não custa lembrar: banco nenhum prega sem estopa...
Caríssimas moradias
O governo federal gasta montantes volumosos com moradia de alguns de seus mais graduados diplomatas no exterior.  Por mês, são cerca de R$ 4 milhões em gastos com 155 imóveis.
Exemplos maus: 1) o país gasta R$ 70 mil de aluguel mensal para a embaixadora Regina Dunlop, que representa o país junto à ONU, em Genebra (Suíça); 2) em Tel Aviv (Israel), o aluguel da residência do embaixador Henrique Sardinha Pinto tem o mesmo valor; 3)  a casa em Teerã (Irã) onde mora o embaixador Santiago Mourão custa mensalmente R$ 68 mil; 4) para a residência do embaixador em Cingapura, Luís Fernando Serra, são outros R$ 67 mil mensais; 5) e a moradia em New York para o embaixador Guilherme Patriota custa – ao câmbio atual –
R$ 59 mil.
Os valores foram obtidos pela Folha de S.Paulo, por meio da Lei de Acesso à Informação.
O leitor paga, o colunista paga, nós pagamos.
Faz de conta que baixou
Após a Medida Provisória nº 579, de janeiro de 2013, que  reduziu as conta de luz, o  preço já subiu 28%.  A tarifa de novembro, que está em R$ 353 o megawatt-hora, também supera em 4% a  anterior à edição da MP.
Os dados são da PSR Consultoria e foram apresentados, na sexta-feira (7), em seminário sobre energia elétrica no Rio de Janeiro. Os valores não consideram incidência de ICMS e de PIS/Confins.  Para o ano que vem, a consultoria prevê que a tarifa ficará novos 27% mais cara.
Vida de aposentado
Já que se comprometeu no acordo de delação premiada a devolver R$ 61,7 milhões à União, além de entregar bens imóveis oriundos da corrupção, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa terá de se adequar a uma nova realidade.
Se não tiver mais dinheiro escondido (será?), viverá apenas da aposentadoria de R$ 3.049,62 mensais do INSS.
Mesa farta
Depois do “auxílio-moradia”, tudo pode acontecer.  A Defensoria Pública da Paraíba fixou “auxílio-alimentação” em R$ 181,00 por dia útil, com efeito retroativo a 1 de agosto de 2014. Com a média de 23 dias de trabalho, por mês, seriam R$ 4.163 para um rango diário de qualidade.
Menos mal que o Tribunal de Contas do Estado mandou suspender os pagamentos.  
Violino político
Dilma desceu do palanque, deu entrevista anunciando que vai cortar gastos, controlar a inflação e não servir apenas ao PT.  “Eu não represento o PT, represento a Presidência da República” – disse.
A presidente reeleita parece dar razão, até prova em contrário, ao ex-primeiro-ministro da Espanha, o socialista Felipe González, que dizia: “O poder é como violino: pega-se com a esquerda e toca-se com a direita”.
Romance forense: A beleza e a justa causa

A blitz é rotineira, em um horário pós-balada.
Na direção de um belo carro esportivo do ano está uma mulher jovem, bem maquiada, vestido chamativo, sóbria.  Bebera apenas água.
O jovem  agente da empresa pública que fiscaliza o trânsito conversa com a motorista sobre os riscos de beber antes de dirigir. Cumprimenta-a por não ter ingerido bebida alcoólica. Ela “dá linha”.  O papo se prolonga e o agente cria a percepção de que está sendo correspondido para engatar  “algo mais”.
Mas ele está em serviço e conforma-se em encerrar a abordagem, quando o supervisor faz um sinal, determinando pressa no encerramento da abordagem.
– Até a próxima blitz... – despede-se sorridente a mulher encantadora, que também insinua um olhar provocante.
No dia seguinte, o agente consegue o celular dela, a quem dispara um telefonema:
– Aqui é o fulano, estava de serviço ontem na blitz, foi um prazer ter te conhecido. Espero poder te rever em outras circunstâncias especiais...
E por aí se vai a galante tentativa. Um minuto depois, a jovem mulher breca:
– Te flagra, fica no teu nível e não me azucrina mais a paciência.
Uma semana depois, bate na direção da empresa pública uma carta com minucioso relato feito pela mulher, acompanhado de um pen-drive contendo a gravação do telefonema.
O agente é demitido por justa causa. O caso vai à Justiça do Trabalho. A inicial sustenta não ter havido falta grave, mas “apenas a emoção do momento, ante a abertura proporcionada pela própria pretensa vítima de uma ofensiva de bem”.
As provas são colhidas.  Em razões finais o advogado de defesa arremata que “depois de tantos anos de profissão, não quero crer que vá ter que aprender que admirar o belo seja motivo para demissão por justa causa”.
Ainda não há sentença.