Autoimagem negativa e aparência regular

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Em entrevista ao jornal O Globo, em 28 de julho, Joaquim Barbosa acusou o Itamaraty de ser “uma das instituições mais discriminatórias do Brasil”. Disse que depois de passar nas provas escritas para a carreira diplomática, foi barrado por racismo nas provas orais. Ficou a dúvida: afinal, que provas orais eram essas?
O jornalista Lauro Jardim (Veja) revelou em seu blog que, no exame psicotécnico, feito em 7 julho de 1980, a questão da cor, de fato, aparece. No relatório, o avaliador relata que Barbosa “tem uma autoimagem negativa, que pode parcialmente ter origem na sua condição de ´colored´”. Mais: diz que suas atitudes eram “agudas demais” para alguém da carreira diplomática.
Barbosa enfrentou ainda uma banca - com idiossincrasias - em que cinco diplomatas deram notas inclusive para a sua aparência - descrita como “regular”. Alguns desses diplomatas são atualmente embaixadores.
A propósito, as provas orais no Itamaraty começaram a ser feitas no final dos anos 1970 e foram extintas na década seguinte. Tinham como objetivo detectar “subversivos” e a condição sexual dos candidatos. “Qual é o nome de sua namorada?”, chegava a perguntar um dos psicólogos para, em seguida, mostrar ao candidato a ilustração de uma vagina e lhe perguntar “o que vê aqui”. O relato é de um diplomata que fez o teste em 1981.

Saúde para o ministro

Durou mais de uma hora a audiência de Dilma Roussef com o gaúcho Gilson Dipp, vice-presidente do STJ. Ele - que se afastou da Comissão da Verdade alegando motivos de doença - contou à presidenta tudo o que se passa na já apelidada “Comissão da Vaidade”.
 Preocupada com a saúde de Dipp, que ficou cinco meses internado no Hospital Albert Einstein (SP), Dilma aconselhou o ministro a reforçar sua imunidade, comendo gemada de ovos. Mas a receita só vale mesmo se forem usados ovos caipiras. 
Dilma teria dito que a galinha caipira cisca tudo o que está no chão, come de tudo, e por isso adquire uma alta imunidade. E isso é repassado a quem come os ovos caipiras.

Agenda de agosto

O jornalista Elio Gaspari palpita que, caso o Supremo aceite os embargos de alguns mensaleiros, Joaquim Barbosa poderá repetir o gesto de Adauto Lúcio Cardoso: jogar a toga no chão e nunca mais pisar no tribunal.
Para os que não são daquela época, o Espaço Vital relembra que, em 1971, o STF julgou constitucional a lei da censura prévia, editada pelo governo Médici. Vencido, Adauto manifestou sua indignada repulsa diante daquela decisão, despiu sua capa, atirou-a em sinal de desprezo e abandonou acintosamente o recinto. Todos os jornais, no dia seguinte, deram grande cobertura ao ocorrido, inédito na vida do STF.
Adauto morreu três anos depois, aos 69 de idade.

Discretamente

Cena brasiliense relatada pelo jornalista Ancelmo Gois. Uma senhora, discretamente vestida, aguardava junto a vários outros cidadãos na semana passada em uma longa fila, numa agência do Detran de Brasília, para fazer exames e renovar sua carteira de motorista.
Fez as provas, passou e saiu dirigindo o próprio carro. Era a ministra Cármen Lúcia, presidente do TSE.

Indenização milionária

R$ 9 milhões é quanto o estudante universitário Daniel Chong receberá de indenização do governo dos EUA por ter sido abandonado durante quatro dias na cela de uma prisão. Ele foi detido durante operação antidrogas em abril de 2012 na cidade de San Diego e ficou em cárcere sem janelas, sem água e sem comida.
Alguns policiais brasileiros não estão acostumados com essa informação, mas nos EUA a tortura custa caro aos cofres públicos.

Quanto vale R$ 1,00?

Quase nada! Os itens vendidos por até R$ 1,00 estão em extinção nas prateleiras dos supermercados. Nos últimos seis anos, o tempo foi implacável com a moeda e, sobretudo, com o bolso do brasileiro. Em 2007, o jornal Correio Braziliense percorreu lojas e supermercados para mostrar o que era possível comprar com a quantia, e a lista de opções teve quase 30 itens. Os repórteres voltaram na semana passada aos mesmos estabelecimentos e ouviram gerentes e consumidores. Todos fizeram a mesma avaliação: R$ 1,00 não vale mais nada!
Comparando 2007 e 2013, apenas dois produtos continuaram abaixo desse valor: a unidade do steak de frango e o macarrão instantâneo. Mesmo assim, a dupla apresentou altas de preço expressivas no período - de 102,6% e 16,1%, respectivamente. A moedinha, que já foi símbolo da força do real por ser suficiente para a compra de um quilo de feijão, hoje repousa esquecida em gavetas nas casas dos brasileiros.
Há seis anos, a nota de R$ 1,00, que ainda estava em circulação, era considerada “poderosa”: comprava um pacote de biscoito, um steak de carne e ainda uma verdura. 
Um quilo de feijão valia R$ 0,89. Com R$ 1,00 dava para preparar um quilo de macarrão e alimentar uma família grande, com mais de cinco pessoas.  E o tomate, que há poucas semanas passou de R$ 10,00 o quilo, custava apenas R$ 0,65.

Romance Forense: 37 anos que não foram 37 dias !...

Audiência de conciliação em vara de família. Na mesa está um casal já beirando os 60 anos. São ainda casados, mas separados de fato recentemente. O motivo é adultério. O marido trocara a esposa por outra 20 anos mais nova.
O homem tem um aspecto taciturno, cotovelos sobre a mesa, apoia o queixo em uma das mãos. A mulher está ansiosa.
Buscando a conciliação, o magistrado propõe:
- Senhores, vamos tentar fazer um acordo e acabar com o impasse?
A mulher não espera um segundo. 
 Doutor, eu vivi por 37 anos com esse homem!
- Eu sei minha senhora, mas no momento estamos tentando um acordo...
- Mas doutor, só eu sei o tudo o que passei!
Mantendo a calma, o juiz prossegue gentil:
- Vejo que a senhora está pedindo 50% do salário de seu marido, a título de alimentos. Mas é que concedi alimentos provisórios no percentual de 35% e...
- Doutor, eu mereço muito mais. Não é brincadeira conviver com esse homem por trin-ta-e-se-te-a-nos!...
- Senhora, eu gostaria que...
- Não tem acordo comigo! Não aceito menos que isso. E o sofrimento que passei nestes 37 anos...
- Eu entendo sua insatisfação. Acontece que a jurisprudência não aceita...
- Doutor, não foram 37 dias. Foram 37 anos!
- Mas a senhora poderia me deixar continuar?  –, aponta já com uma certa irritação o juiz. 
O ex-marido continua impassível. Apenas coloca as mãos sobre o rosto. Quer apenas que tudo termine o mais rápido possível.
- Fale, doutor. Fale que eu lhe escuto... -, assegura a mulher. 
O magistrado, então, consegue arrematar:
- Gostaria de dizer que é difícil a senhora conseguir o que deseja. Procure falar com seu advogado que aí está. Ele poderá orientá-la também. 
O causídico mal se dirige para falar com a sua constituinte e ela vai logo brandindo:
- Não vai ser essa mixaria de 35%! Convivi 37 anos com esse cachorro!...
- É verdade, mas a senhora corre o risco de pagar uma boa indenização a este homem! -, diz o magistrado com ar professoral.
Indignada, a mulher fuzila:
- Doutor, mas por quê?
- Porque eu estou aqui há apenas cinco minutos tentando um diálogo com a senhora e não consigo. Estou começando a me irritar com isso. Imagine esse senhor, que passou heróicos trin-ta-e-se-te anos com a senhora!
Silêncio completo de um minuto na sala de audiências. 
Dez minutos depois, o acordo no percentual de 25% está assinado.
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(Sintetizado a partir de um registro do juiz Rosivaldo Toscano Júnior, em seu blog www.rosivaldotoscano.com)