Obrigado, Grêmio

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Após uma longa série invicta de jogos, oito deles sem tomar gol, os gremistas aplaudem entusiasticamente seu treinador. Nada mais justo: desde sua contratação, venho sustentando que não haveria outro melhor para ajeitar o time naquele momento. Mas que também o Grêmio seria o único clube capaz de dar abrigo e conforto ao sofrido Felipão que a Copa devolveu ao mercado, estigmatizado por aquela dezena de gols sofrida contra Alemanha e Holanda. Eis um casamento feliz no volúvel mundo do futebol.
Inter, tem explicação?
Há duas semanas, o Inter era visto como imprestável a cumprir um bom papel no Brasileirão. Algumas sofridas vitórias depois, aparece isolado na vice-liderança. Virou uma grande equipe ou Abel ficou competente em um passe de mágica? Nem uma coisa nem outra. A mim, o time segue sem empolgar; apenas vem unindo cautela e sorte, em doses suficientes para emergir em meio à mediocridade generalizada. Quanto a Abel, mostra suas qualidades: sabe manter o grupo unido e motivado, lançar jovens jogadores e conseguir, ponto a ponto, contra uma penca de adversários fracos, uma trabalhosa e meritória colocação no campeonato.
Vencendo a pobreza
Não me recordo de outro final de semana tão auspicioso ao futebol gaúcho no atual Brasileirão, ainda que estejamos falando de vitórias contra dois fortes candidatos ao rebaixamento. Aliás, até por isso: é comum ver os mais bem colocados sofrerem para derrubar a encarniçada resistência que sempre lhes opõem os times que orbitam em torno do Z-4. Se for para encarar um desses, que se retrancam e jogam por uma bola em contra-ataque, são preferíveis adversários de bom nível técnico, que saiam para o jogo e abram espaços. A salvação é quando, precisando do resultado, tornam-se ousados, atacam e, incompetentes para marcar gols, acabam levando dois, três, quatro. Foi o caso de Botafogo e Coritiba, merecidamente derrotados pela dupla Grenal.
Dá pena
A Portuguesa foi arrancada da Série A pelo STJD, após estranhíssima omissão de seu advogado. Cedeu o lugar ao maior freguês do tapetão brasileiro – sim, o Fluminense –, convenientemente sediado próximo à CBF. Pois a pobre Lusa lutou em juízo, perdeu todos os recursos e a pouca rentabilidade de seu futebol. Atualmente se segura como pode na Série B: é simplesmente a penúltima colocada, forte candidata a mais um rebaixamento, agora no campo.
Protagonismo
O STJD cumpre seu papel ao julgar casos de indisciplina em campo e de desorganização fora dele. Mas entendo que não deva assumir a condição de protagonista no futebol, sobrepondo-se ao que acontece nos gramados. O caso da Lusa é emblemático: um jogador atuou sem estar em condições legais. Não houve má-fé por parte do clube, que ignorava a condenação do atleta. Sobre ao advogado, que não informou sua cliente quanto à pena e é assíduo frequentador da CBF, abstenho-me de opinar. Mas considero que, para infração fora de campo, meramente administrativa, a punição deveria ser uma multa, não o sumário rebaixamento, como ocorreu. O mesmo, penso, deveria valer para o Grêmio, no abjeto episódio de racismo contra o goleiro Aranha.
Um gaúcho em perigo
Escrevo desde uma paradisíaca praia no lado americano do Golfo do México, onde, de brasileiros, só vimos a nós mesmos. Mas, na semana passada, entreouvi em um restaurante de Orlando uma conversa entre residentes e visitantes, quase todos corintianos: “Ele recebeu todos os jogadores que pediu”, argumentava um. “E teve o ano inteiro para treinar”, aduzia outro. “Mesmo assim, não consegue fazer o time jogar”, arrematava um terceiro. Todos têm razão. Apenas esquecem que até o grande Tite, que tem seu nome especulado como substituto, levou mais de um ano para montar sua campeoníssima equipe. Uma boa vitória hoje, sobre o Atlético-MG, seria um bálsamo contra faixas e protestos que esperam por Mano na Arena Corinthians.