O mal maior

Filme Zona de interesse, de Jonathan Glazer, merece em suas exibições nas salas de cinema

Por Hélio Nascimento

Como era esperado, o filme Zona de interesse, de Jonathan Glazer, vem obtendo a repercussão que merece em suas exibições nas salas de cinema. É ótimo que assim seja, pois o seu extraordinário e incomum emprego do som e a valorização de detalhes nas imagens só podem mesmo ser valorizados em ambiente onde tais elementos não sofram com a omissão de detalhes. Além disso, a faixa sonora não é utilizada através de exageros comuns na vulgaridade hoje tão utilizada por cineastas comandados pela mediocridade. Ao contrário, a sonoridade exerce papel fundamental, mas nunca é utilizada para forçar a dramaticidade de certas situações. O sinal sonoro tem origem na realidade. Além disso, não necessitamos nem de sustos e de nem de monstros. O cotidiano é acompanhado por um horror que não se mostra, mas acompanha todos os que se recusam a conhecer seu verdadeiro cenário. O livro de Martin Amis, editado no Brasil pela Companhia das Letras, não tem aqui uma versão cinematográfica, mas sim uma variação em torno de seu tema principal. O escritor fez uma grande pesquisa em arquivos e em outras obras sobre o nazismo e um trecho do livro transcreve ou adapta um ofício de uma empresa química dirigido ao chefe do campo de extermínio. São poucas linhas e revelam a essência do regime. Eis o ofício na tradução de Donaldson Garschagen: "O transporte de 150 mulheres chegou em boas condições. Não obstante, foi-nos impossível obter resultados conclusivos, pois todas morreram durante a série de experimentos. Gostaríamos que o senhor nos enviasse, por favor, outro grupo de mulheres, na mesma quantidade e no mesmo preço".

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