O horror e o cotidiano

Leia a coluna de Hélio Nascimento para o Jornal do Comércio

Por Hélio Nascimento

O filme no qual o diretor Jonathan Glazer deixa sua contribuição ao processo destinado a não deixar no esquecimento os horrores praticados durante o período em que o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães exerceu o poder não é propriamente uma versão do livro de Martin Amis. O cineasta dedica o filme ao autor, mas a trama narrada em imagens aproveita uma sugestão do romance, a mais poderosa delas: a indiferença diante da monstruosidade praticada e que tinha o objetivo de transformar um mundo em território dominado por uma aberração que até hoje é uma ameaça, bastando para confirmar tal afirmação acompanhar o noticiário, onde estão registradas agressões e até convites para que lojas sejam boicotadas, uma sinistra aproximação com a Noite dos Cristais. Ao escolher uma das sugestões do livro, Glazer procurou colocar no centro de sua narrativa a questão mais importante em torno do tema: a indiferença ou desconhecimento diante do maior dos perigos, aquele representado pela força destinada a espalhar a irracionalidade e libertar todos os ressentimentos gerados por frustrações pessoais e coletivas criadas por deformações. Trata-se de flagrar o mal maior em sua origem: o desconhecimento ou próprio abandono de qualquer norma civilizada, a marca do nazismo. Zona de interesse, o livro de Amis, e agora o filme de Glazer são relatos cruéis e impactantes sobre o mal maior, simbolizado pelo nazismo, esta explosão de irracionalidades, que até hoje, devidamente disfarçada, é um perigo diante do qual a indiferença é uma omissão que causa desconforto e apreensão.

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