Fantasia e repressão

Por Hélio Nascimento

Virgens suicidas, de Sofia Coppola
Desde que realizou seu primeiro longa-metragem, Virgens suicidas, em 1999, Sofia Coppola tem visto a sociedade pelos olhos de personagens femininos, até mesmo quando refilmou o roteiro de O estranho que nós amamos, realizado por Don Siegel, um dos mestres de Clint Eastwood, em 1971. Assim foi também em Encontros e desencontros, dirigido em 2003, e em Maria Antonieta, três anos mais tarde. Em 2017 teve seu primeiro encontro cinematográfico com a ópera, quando dirigiu La traviata, versão cinematográfica da obra de Giuseppe Verdi, filme inédito no Brasil. Seu novo filme, Priscilla, é mais um exemplo de coerência. Mais do que isso, seu novo trabalho é uma prova de que a realizadora é definitivamente uma autora. O filme novo é também outra demonstração de que a cineasta pertence ao grupo que tem mantido vivo o cinema de qualidade. Exibido na mostra competitiva do Festival de Veneza do ano passado, o filme terminou com o prêmio de melhor atriz, conferido a Cailee Spaeny, que vive o papel da esposa de Elvis Presley. Baseado em um livro autobiográfico, o roteiro, escrito por Coppola e Sandra Hermon, confere relevância a dois temas principais: os sonhos de uma adolescente e a verdade que aos poucos vai se impondo. De certa forma, eis na tela a destruição de um mito, a demolição da estátua do príncipe encantado, o fim de um sonho, a implosão da fantasia da felicidade perfeita. Ou então, se a preferência for uma interpretação que perceba nas imagens e situações a demolição de inverdades impostas ao ser humano, o princípio de uma jornada no rumo da libertação.

Continue sua leitura, escolha seu plano agora!

Já é assinante? Faça login