Os harmonizados de antigamente

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Houve uma era em que quase não havia esses jantares harmonizados, que hoje pululam pelas agendas de enófilos pelo Brasil afora. Esse “quase” era preenchido por algo que levava em conta o equilíbrio entre o que comiam e bebiam, embora as noitadas ocorressem somente em clubes e normalmente resultassem em música para dançar. Os diretores sociais de antigamente já devem ter matado a charada: falo de noites de vinhos e queijos, que anualmente se reproduziam em todos os calendários de festas, muitas vezes patrocinadas por alguma vinícola, que tratava de fornecer a bebida em nome de exclusividade e divulgação.

Ocorreram paralelamente duas coisas, que talvez se possam localizar neste século XXI: uma alta sofisticação em determinados jantares, que chegam a preços estratosféricos por convite, a par de um crescimento constante do interesse por vinhos - e se aumenta o público, concede-se a informalidade. 

Isso é ótimo. Assim como em refinados ambientes reúnem-se damas elegantes e cavalheiros engravatados para degustação de menus e rótulos caríssimos, de outra parte o padre e senhoras da paróquia organizam um galeto beneficente - com uma jarra de vinho em cada mesa.

Essas reflexões me vieram à mente ao receber o convite para a reunião deste mês do Malbec Wine Club, que ajudei a fundar e tive a honra de batizar. Composto por profissionais bem sucedidos, um deles - Newton Kalil, advogado, turfista e respeitado cozinheiro amador - resolveu receber o grupo em sua cocheira 56, situada na, digamos, área residencial do Jockey Club. Quem nunca frequentou pode achar inusitado, mas há cocheiras com confortáveis instalações, em anexos que costumam receber criadores e admiradores do chamado esporte dos reis. E duvido quem não queira visitar a ala onde ficam os puros-sangues de altas estirpes.

Entendem? O vinho abre espaços onde antes imperavam scotch whisky ou cerveja, as antigas noites de queijos e vinhos transformaram-se em requintados jantares e praticamente não há evento em salões de clubes que não prevejam menus harmonizados com vinhos.

A foto que ilustra esse texto é de uma reunião da Confraria Itapema. Como acontece nos invernos em Florianópolis, hoje à noite terá mais um jantar. Será na Alameda Casa Rosa, com menu da chef Joyce Francisco e vinhos de Itália, Alemanha e Chile.

A propósito, semana que vem vamos apresentar sugestões aos saudosistas de como organizar uma deliciosa noite: queijos e vinhos continuam sendo uma excelente combinação.

Doses

MAKONY VINHOS/DIVULGAÇÃO/JC
  • Esse da foto é o Clos Andino, um Grand Reserva com 85% de Carménère, 10% de Cabernet Sauvignon e 5% de outras viníferas cultivadas em Maule, no Chile. Tem 13,0% de teor alcoólico e um tempo de guarda estimado em até dez anos. Tive ocasião de degustá-lo na companhia de amigos, encontrei um vinho pronto, muito agradável na boca, da safra 2011. Preço: R$ 88,70. Importação de La Charbonnade.
  • Será neste sábado, entre 10h e 17h, na Fundação Ecarta, a segunda edição da Feirinha de Livros sobre Vinho. Além da venda de livros com descontos, autores prometem estar presentes para conversar com o público. Av. João Pessoa, 943, com entrada franca.
  • Na vindima as visitas são corriqueiras e concorridas. Agora, é a vez de vinícolas receberem turistas e interessados para participarem, com tesoura na mão, da poda das videiras. Como fará a Larentis no Vale dos Vinhedos, dias 26 de julho e 2 de agosto, em grupos limitados a 20 pessoas. Com café colonial a partir de 9h30min, palestra e poda depois, R$ 60,00. Inscrições: larentis@larentis.com.br.
  • Agende para dia 2 de agosto: curso sobre vinhos ministrado pelo enólogo José Fasolo, da Vinícola Salton. Será no Farina Park Hotel (RST 453, km106, em Farroupilha), a partir de 18h. Além da apresentação e análise de cada rótulo, haverá degustação de espumantes e vinhos tranquilos. São 25 vagas e inscrições gratuitas: reservas@hotelfarina.com.br.
  • Dois conceituados enólogos portugueses inserem seus rótulos no catálogo da Porto a Porto. De João Portugal Ramos, o tinto Estremus, da região do Alentejo, que mistura Trincadeira e Alicante Bouschet; e em parceria com José Maria Soares, duas versões do Duorum O. Leucura, elaboradas com uvas Touriga Nacional e Touriga Franca oriundas de vinhas velhas: uma com uvas colhidas a 200 outra a 400 metros de altitude.