Tecnologia impulsiona assessorias contábeis

Automação permite que o profissional assuma papel mais próximo à gestão

Por JC

Mudança do analógico para o digital está alterando a rotina dos escritórios
Caren Mello, especial para o JC

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Perfil do profissional contábil passa de fiscal para consultivo

Marina Karczeski criou escritório voltado para assessoramento automatizado
O contador do futuro deixará de ser fiscal para ser consultivo. E quem mais ganha são as micro e pequenas empresas, com estruturas mais enxutas de negócio. Atualmente, mais de 95% dos empreendimentos do Brasil são de pequeno porte e que atuam sem uma estrutura de gestão, consultoria ou direção. O profissional da Contabilidade ocupará esse espaço no assessoramento ao cliente.
São os pequenos empresários que mais necessitam do apoio desse novo profissional, segundo explica a especialista em Tecnologia para Negócios, Marina Goergen Karczeski. Filha de um contador e de uma empresária, Marina teve no pai o incentivo para buscar especialização na área.
No escritório da família, surgiam vários casos em que o cliente não chegava com um problema fiscal ou contábil, mas com um problema de negócio, de estratégia, e esperando esse retorno do contador. "A tecnologia abre esse espaço para o contador se posicionar de uma forma mais consultiva e mais parceira do empresário", avalia.
Proprietária da Contus, de Passo Fundo, empresa que nasceu com esse novo perfil, Mariana também faz parte da Comissão de Estudos de Tecnologia da Informação do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRCRS). Com clientes em vários estados do Brasil, ela diz acreditar em um futuro com a tecnologia cada vez mais presente na vida das pessoas. "Ela tem transformado nosso papel e nosso valor diante daqueles que recebem apoio na gestão", observa, ao suscitar a importância da especialização para as novas gerações.
Dentro dos escritórios, em termos de sistemas de base, já é difícil encontrar quem não use sistemas para operações contábeis. Para outras operações, o mercado já tem disponível ferramentas importantes, e a inovação não para. Já são possíveis lançamentos, conciliações, importação de extratos, validações, conferências e pagamentos de guias e certidões e ferramentas. Todos os dados do ERP (software de gestão da empresa) podem ser importados para o escritório contábil.
Também é possível apresentar ao cliente todos esses dados por meio de sistemas que permitam uma visão global do empreendimento. De forma didática, o cliente recebe análises de fluxos, de turnover (taxa de rotatividade de funcionários), análise de curva ABC (de classificação de itens do estoque), produtos mais ou menos vendidos, maiores clientes ou consumidores. Já com os gráficos é possível apresentar ainda, em tempo real, um dashboard (representação visual dos principais indicadores) para a tomada de decisões.
Com essa estrutura, Marina atende a clientes locais, de fora do Estado e até no Norte do País. "O digital ajuda muito. Podemos ter esse contato com o cliente lá de Manaus, e dar suporte para ajudá-lo com o negócio. É um novo mundo para a Contabilidade", diz.
Na Marchezan Contabilidade, de Porto Alegre, as proprietárias criaram um modelo de serviço ao cliente com uma visão mais abrangente. O escritório cuida da parte financeira e também da jurídica, a partir de parcerias.
Há uma equipe voltada para o atendimento via WhatsApp, de forma a dar resposta imediata ao cliente. Além do uso compartilhado do drive pela plataforma Datacempro, uma solução da escrituração contábil, há a integração que agiliza processos e facilita a rotina da empresa. O software faz o fechamento do balanço, do balancete e das declarações.
A contadora Gabriela Marchezan também utiliza o sistema HubCount para apresentações ao cliente. "A ferramenta deixa bonito o que é preto e branco. No lugar de o meu cliente receber uma folha de papel com resultados da empresa, ele recebe gráficos e planilhas de demonstrativos em tempo real, conforme a nossa contabilidade for fechando", diz Gabriela, que divide o escritório com a mãe Alice Marchezan, também contadora. "Ela ficar na parte técnica e eu, 100%, no atendimento do cliente, não só nos processos digitais, mas na experiência. Não basta ficarmos focadas em correr atrás de não ter multa, de não perder um prazo. Temos que ter foco no cliente, de forma que ele sinta que faz parte do escritório", defende.

Mercado carece de profissionais habilitados para nova realidade do setor

Paladino incentiva jovens na especialidade
De acordo com um levantamento Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada da (Ipea), a Contabilidade é uma das áreas com a maior taxa de empregabilidade no Brasil. A profissão ocupa o 4° lugar no ranking nacional, com cerca de 93,8% dos profissionais formados e contratados. Em outro levantamento, esse feito pelo Page Group, da Inglaterra, o Brasil passa por transformações na economia e existem 38 cargos que estão em destaque. Um deles é o de analista contábil.
Na Convexa, empresa de Porto Alegre com foco em tecnologia, já é sentida a falta de profissionais atualizados. Tanto que foi feita uma parceria com a Ufrgs para incentivar o estudante nesse caminho. Um dos sócios, o contador e administrador Pedro Paladino, diz que incentiva os jovens a entenderem essa nova forma de fazer Contabilidade. "Se no passado, o profissional era mais dedicado a registrar as movimentações, hoje ele é muito mais analítico. A contabilidade hoje serve também de instrumentos para tomada de decisões, de avaliação da empresa. Quem entender isso, terá um futuro brilhante", comenta.
Paladino entende que os escritórios mais tradicionais correm o risco de perder clientes ou, no mínimo, não colaborarem com seu desenvolvimento. "Ele está ali, fazendo digitações ou integrações manuais. Vai demorar mais tempo para entregar uma informação que, quando chegar, pode já estar defasada. Com a integração dos dados de forma muito mais eficiente, o empresário tem acesso às informações de forma rápida e isso acaba contribuindo no processo da empresa. Quanto mais integração tiver com os sistemas dos clientes, mais assertividade", garante.
O crescimento do uso da tecnologia ou da Inteligência Artificial não assusta o profissional. A Contabilidade, diz ele, é a linguagem universal dos negócios. "Ela foi criada para podermos enxergar a empresa e, para isso, é preciso a sensibilidade do profissional. Essa é a beleza da Contabilidade."