Investir na sustentabilidade pode gerar lucro
Os processos de transformação social, antes de responsabilidade exclusiva dos governos, têm sido adotados também por empresas privadas nos processos de transformação social. Além de sua função principal, que é movimentar a economia e gerar empregos, o mundo corporativo está mais atento à importância de adotar políticas de sustentabilidade, sem abrir mão do resultado financeiro. Hoje, quanto maior o porte de uma companhia, mais intenso tende a ser o seu comprometimento com as questões ambientais.
O público tem dado demonstrações crescentes de que se importa com o assunto. Está mais exigente quanto ao papel social de seus fornecedores e, também, mais ligado às boas práticas de preservação da natureza.
De acordo com uma pesquisa do Green Brands Global Survey, realizada em 2009, 73% dos brasileiros planejam aumentar seus gastos com produtos e serviços verdes, sendo que 28% deles estão dispostos a destinar quantias até 30% maiores. Esses dados mostram que, hoje, o valor de uma empresa não é medido apenas pelo lucro, mas também pela sua riqueza intangível, à qual as ações responsáveis são inerentes.
Segundo a diretora corporativa da BDO, Iêda Patricio Novais, é aqui que surge a necessidade de as empresas comprovarem suas ações por meio dos chamados balanços sustentáveis. Segundo ela, não basta destinar recursos para boas práticas sociais e ambientais se isso não for comprovado de forma palpável, séria, confiável. "Quem quer se firmar nesse novo mercado e atrair a atenção dos fundos verdes não pode abrir mão de auditar os programas e realizar balanços precisos dos seus resultados."
Mas não é de hoje que se fala no assunto. Instaurado a partir do tratado dos Princípios do Equador, em 2003, o termo finanças sustentáveis diz respeito à atuação do sistema financeiro de forma economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta. Mesmo sendo de adesão voluntária, a ferramenta tem mostrado grande poder de engajamento entre os bancos, e trata sobre a aplicação dos recursos financeiros alinhada aos princípios do desenvolvimento sustentável.
O movimento de uso do poder fiduciário e a forma de alocação de capital como ativismo dos valores e ideais éticos dos investidores tiveram início na década de 1960, com fundos de investimentos ligados a organizações religiosas que inauguram o que hoje chamamos de investimentos socialmente responsáveis ou SRI (Socially Responsible Investments).
Evoluiu na década de 1990, quando as instituições financeiras começaram a ser pressionadas pela sociedade civil organizada em campanhas sobre a responsabilidade do credor pela forma de uso e aplicação dos recursos financeiros. A sociedade passou a questionar as bases da prática de intermediação financeira e as ações de sustentabilidade foram tomando corpo e ganhando terreno dentro e fora das organizações.
Responsabilidade socioambiental como trampolim da competitividade
Hoje em dia, ser social e ambientalmente responsável é uma das exigências impostas pelas instituições financeiras do exterior. As organizações que fazem medições de ações de sustentabilidade voltadas aos seus stakeholders saem na frente quanto o assunto é disputar investimentos internacionais. Indicadores como o Ethos, GRI ou o Ise relatam os índices que a empresa registra em seu balanço sustentável. E o que esse balanço faz é validar esses indicadores. Tem um grupo de empresas de capital aberto com ações muito valorizadas em função desse balanço. O índice da bolsa mostra empresas que publicam esses relatórios (atualmente, cerca de 100 empresas brasileiras publicam algum tipo de relatório de sustentabilidade) e essas empresas têm diferenciação em preço de ação.
Para entender melhor as ecofinanças
• Global Reporting Initiative (GRI) é uma rede de colaboração formada por milhares de especialistas com interesses distintos ao redor do mundo, cujo propósito é tornar os relatórios de desempenho econômico, ambiental e social das organizações tão rotineiros como os relatórios financeiros. A GRI produz diretrizes para elaboração de relatórios de sustentabilidade, focando não apenas o conteúdo final, mas também seu processo de elaboração e contínuo aperfeiçoamento.
Consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos verdes
73% dos brasileiros planejam aumentar seus gastos com produtos e serviços verdes, sendo que 28% deles estão dispostos a gastar até 30% a mais.