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PoAncestral explora história dos povos originários de Porto Alegre
Pesquisas retratam trajetória de comunidades indígenas, quilombolas e periféricas
Em março de 2022, a cidade de Porto Alegre completou 250 anos de existência. A fundação, em 1772, é a referência histórica utilizada para demarcar o início da história da capital gaúcha. Mas qual é a história antes disso? Nessa perspectiva, em 2021, o Coletivo PoAncenstral foi criado para reafirmar a existência de uma ocupação milenar dos povos originários nas terras que dão forma a esses territórios urbanos que hoje denominamos "Porto Alegre".
Impulsionados pelo Coletivo das Professoras e Professores de História da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre (Cphis), junto com a Associação dos Trabalhadores em Educação de Porto Alegre (Atempa), o projeto tem como objetivo ser uma ferramenta de divulgação de movimentos sociais vinculados à questão da ancestralidade, povos e comunidades indígenas e periféricas, além de evidenciar pesquisas, produções acadêmicas e livros sobre esses temas. "Nós não inventamos a roda, tem muita gente trabalhando com a história da cidade sobre esse ponto de vista. Por isso, queremos trazer os pesquisadores e arqueólogos que se debruçam sobre essa história", explica Roselena Colombo, membro da coordenação do PoAncestral.
Em janeiro de 2023, a lei que obriga o Ensino de História afro-brasileira e indígena completou 20 anos, mas apesar desse marco, segundo Roselena, que também é educadora da rede pública municipal, as escolas ainda estão engatinhando em termos de materiais pedagógicos e incentivo adequado. Com essa situação em vista, o PoAncestral, através de membros do Cphis, levaram para dentro das salas de aula de escolas da periferia justamente a história dessas comunidades.
"A gente ia trabalhando essas ideias: que história é essa da nossa cidade que é uma história basicamente europeia e branca? E aí, cada escola vai buscando a partir da sua população local essas referências para essa contação de história. E, claro, utilizando também os percursos", revela Roselena. Um dos objetivos que o coletivo persegue é intercambiar os ensinos, unindo as diferentes áreas do conhecimento com pautas sociais.
Coletivo cria repositório digital de pesquisas sobre povos e comunidades
No final de 2021, em função dos 250 anos da cidade de Porto Alegre, o Coletivo PoAncestral organizou uma série de lives tratando sobre temáticas indígenas, quilombola, das populações periféricas, dos LGBTQIA , etc. Dessas trocas, surgiu a ideia de transformar um livro com referência às temáticas que foram desenvolvidas nas lives, trazendo vários aspectos de pesquisa da história da cidade. Então, em 2022, lançaram o e-book "PoAncestral: muito além dos 250", um manifesto coletivo pautado na ancestralidade, que ia se contrapor a narrativa colonizada dos livros didáticos de história, promovendo uma outra Porto Alegre possível.
A construção do livro digital contou com a colaboração de diferentes instituições, coletivos e pessoas. Vale salientar que não se trata de negar que a cidade não possua 250 anos de fundação, mas, sim, evidenciar que essa comemoração é descontextualizada, eurocêntrica e provoca o apagamento de uma longa história de ocupação humana da cidade por povos originários.
No processo de construção do livro digital , o coletivo fez uma ponte com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e juntos construíram um projeto de extensão: a ideia de ter um portal de domínio público, de fácil acesso, onde pudessem transformar num repositório dessas diferentes experiências pedagógicas das escolas, de pesquisas da Universidade, de informações sobre os movimentos sociais, etc. Então, em abril deste ano, estrearam o site PoAncestral: além dos 250.
"Ano passado foi um ano de muita produção. Nós produzimos quatro boletins com dicas para que os professores trabalhassem em sala de aula com as diferentes temáticas. Então, dicas de livros de poemas, literatura, cinema, exposições que estivessem acontecendo na cidade. O nosso desafio daqui para frente é realmente alimentar esse site, fazer essa conexão com as escolas e movimentos sociais, para ser realmente um portal repositório, toda essa história rica da nossa cidade e que muita gente não sabe" relata.