Alvo Cultural utiliza o hip-hop como ferramenta de transformação social

Há quase duas décadas, projeto promove ações culturais na zona Norte da Capital

Por Leonardo Machado

Centro cultural oferece curso profissional de DJ para a comunidade e promove campeonatos de skate e basquete
A Alvo Associação Cultural tem o movimento hip-hop e o skate como instrumentos para a transformação social de jovens e adultos do bairro Rubem Berta, na zona Norte de Porto Alegre. Através dessa arte e esporte, realizam oficinas, ações sociais e uma biblioteca comunitária aberta para toda a comunidade. Desde 2005, ano de sua fundação, a entidade é um espaço plural de ampliação dos horizontes de possibilidades da juventude periférica.
"A juventude não é bem vista dentro da comunidade. Na cabeça das pessoas, é ela que promove violência, que está no tráfico, que comete assaltos. Mas as pessoas não têm consciência de que esses jovens estão nessa situação porque algo foi negado a eles. E o hip hop é a expressão e local de mudança para esses jovens", revela Jean Andrade, fundador e presidente do centro cultural.
Entre as atividades desenvolvidas pela Alvo está o Rap na Rua, um festival comunitário de hip-hop que mobiliza centenas de pessoas de diferentes comunidades todos os anos.
Segundo Jeferson Fidelix, vice-presidente da associação e fundador do espetáculo, quando não havia nenhum lugar para que o festival fosse realizado, o centro cultural foi um abrigo para o evento, apoiando com equipamentos de som e local.
Em 11 anos de eventos, o Rap na Rua realizou mais de 60 edições em praças ou centros culturais, tornando-se um polo de intervenção cultural para jovens da periferia expressarem sua voz e mostrarem seu talento. Além dos shows, também compõe a programação exposições de grafite, campeonato de skate e basquete de rua, batalhas de improviso, feira de cds e artigos independentes.
Democratizar o acesso à cultura e oferecer formação musical de qualidade são alguns dos objetivos do curso de DJ promovido pela Afinco em parceria com a Alvo Cultural. Além dele, a associação também está disponibilizando mais de 11 workshops na área de hotelaria, atividades domésticas, atendimento e fotografia
Estimar a quantidade de jovens que passaram pelo centro cultural é uma tarefa complicada, afirma Andrade. Contudo, o fundador garante que anualmente uma média 300 pessoas participam dos projetos e ações. "Muitos jovens passaram por aqui e conseguiram encontrar dentro da nossa instituição e dos nossos projetos uma forma de enxergar um pouco mais longe, não apenas aquela vida de violência e de exclusão do bairro, mas também de saber se posicionar dentro da sociedade buscando a sua cidadania", conta.
Em razão da pandemia, o centro cultural promoveu uma campanha chamada Quarentena Solidária, onde distribuíram cerca de 40 toneladas de alimentos para mais de 1.500 famílias das comunidades da Zona Norte da Capital.
Segundo Fidelix, nesse período, além da fome, muitas pessoas foram atingidas por doenças psicológicas. Dessa maneira, a associação procurou um coletivo de psicólogos e analistas para ajudar a assistir essa população. Assim, nasceu o Grupo de Apoio Psicológico Alvo Abraça, que realiza um trabalho de escuta dentro da comunidade. Para participar basta se inscrever na sede da entidade, localizada na rua Baltazar Oliveira Garcia, 2132.
 

Podcast traz história de expoentes culturais e ativistas das periferias de Porto Alegre

Em 2021, a Alvo Associação Cultural deu início a um projeto que buscava divulgar os expoentes culturais das periferias. Dessa forma, criaram o AlvoCast, um programa de entrevista que vai ao ar toda terça-feira às 20h no YouTube e nas plataformas de podcast. "É uma forma de dialogarmos com as pessoas da comunidade que têm alguma iniciativa diferente ou são ativistas sociais", explica Jean Andrade.
No início deste ano, o programa de entrevista estreou um novo quadro chamado Memórias dos Bairros, no qual registram e apresentam a história das comunidades de Porto Alegre a partir do relato de uma personalidade local. Episódios sobre o passado e o presente dos bairros Restinga, Rubem Berta e o Quilombo da Família Silva, o primeiro quilombo urbano do País.
"O porto-alegrense não conhece sua própria história, que tem muita vinculação com a cultura negra. Temos os quilombos urbanos que as pessoas não conhecem, então chamamos esse pessoal para trocar ideia", revela o presidente da Alvo. Para assistir aos programas, acesse: www.youtube.com/@AlvoCast/featured.
Manter um projeto que trabalha com a cultura hip-hop na periferia não é uma tarefa fácil. Segundo Andrade, a iniciativa não tem tanto apelo midiático para grandes empresas por discutir questões sociais importantes. Por essa razão, ficam dependentes de editais e fundos culturais para conseguir recursos. Pessoas físicas e jurídicas podem ajudar a entidade através do site www.alvocultural.com/doacao. Além das doações, a instituição também está em busca de voluntários para ajudar a catalogar os livros da Biblioteca Comunitária da sede da Alvo.