Microfranquias atraem jovens empreendedores

Modelo de negócio se torna opção para quem busca baixo investimento

Por Luciane Medeiros

Érick Somavilla, de 27 anos, abriu uma franquia da Reino Rural Franchising, rede especializada em produtos agropecuários
O desejo de ter independência financeira e investir em um modelo já testado, onde há todo um suporte por trás, tem atraído cada vez mais jovens para o segmento de franquias. Dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF) mostram o crescimento da procura pelo empreendedorismo na faixa até 30 anos, onde as franquias, em especial as que necessitam de aporte inicial de menor valor, são a primeira experiência de autonomia no mundo dos negócios.
Bruno Arena, coordenador da Comissão ABF Jovem, cita que, no caso das microfranquias, operações voltadas às áreas de Tecnologia e prestação de serviços despontam como os que mais atraem jovens franqueados. Além disso, Arena lembra que o suporte dado pelas franqueadoras para os franqueados motiva o ingresso de muitos jovens no segmento das microfranquias.
Foi o caso do gaúcho Érick Somavilla, de 27 anos. Com formação em Gestão de Produção Industrial e pós-graduado em Agronegócio, Somavilla abriu, há cerca de um ano em Sant'Ana do Livramento uma franquia da Reino Rural Franchising, rede especializada em produtos agropecuários. A ideia surgiu no ano passado, quando ainda trabalhava em uma indústria em Cassino e decidiu investir em um negócio próprio. Inicialmente, surgiu a dúvida se optaria por abrir uma empresa completamente nova ou apostaria em algo já estabilizado.
"Sempre tive um lado de administrador, de empreender, inovar e criar e procurei conciliar tudo isso. Pesquisei no Google e encontrei uma reportagem sobre as 100 marcas de franquias em destaque com crescimento em 2022, onde conheci a Reino Rural Franchising", conta. O baixo valor para abrir uma unidade da rede, em torno de R$ 35 mil na ocasião, mais o capital de giro inicial de R$ 7 mil, foram determinantes para a escolha pela franquia.
Antes de concretizar o negócio, Somavilla fez uma "pesquisa de campo", conversando com veterinários sobre os melhores locais para venda de produtos e suplementos de nutrição animal e mineral para gado, cavalo e outros animais. "A região de Sant'Ana do Livramento, por ser região de fronteira com o Uruguai e a Argentina, vi uma possibilidade de crescimento. Pego todo o zoneamento da fronteira - Rivera, Artigas, Quaraí, São Tomé e outras. Consigo vender dos três lado: Brasil, Uruguai e Argentina", destaca.
Segundo o franqueado, o início da operação foi arriscado mas deu certo e logo as vendas de porta em porta apresentaram bons resultados. Todo o negócio é baseado no modelo de home office, com as vendas feitas em casa pelo celular ou computador. Já as entregas do produto para as cabanas, estâncias e outros clientes são feitas diretamente por Somavilla, sem contratação de empresa terceirizada. "Não abro mão de ter o acabamento final, do início da compra até a entrega ao cliente, tudo ser feito por mim. É um diferencial e os uruguaios e argentinos gostam muito disso, do olho no olho", afirma.
O contato mais próximo também ocorre entre o franqueado e o franqueador e é considerado primordial pelo jovem para a boa condução dos negócios. "Parece que estou conversando com um parente e eu não conheço o Matheus Ferraz, fundador da Reino Rural, mas o contato com ele passa uma grande segurança e grande conforto", elogia.
Outro jovem que apostou numa microfranquia foi o curitibano Matthews Miguel Guilmo, de apenas 20 anos. Embora a pouca idade, Guilmo já tinha experiências anteriores com negócio próprio e exemplos de empreendedorismo na família. Com 17 anos, o jovem já tinha aberto uma loja de venda de meias para ciclistas pelo e-commerce, adquirindo os produtos de uma empresa de Porto Alegre e ampliando a diversidade de mercadorias vendidas com o passar do tempo. Quando ingressou no curso de Agronomia, surgiu o interesse por algo ligado à área, e assim Guilmo abriu em março na capital do Paraná uma franquia da Getpower Solar, especializada em energia solar. "Foi algo que conciliou com meu dia a dia. Não preciso parar a faculdade e está ligado ao meu ramo que é o campo", salienta.
Guilmo, de apenas 20 anos, tem uma microfranquia na área de energia solar/Divulgação /JC
Antes de começar a franquia, o jovem passou por um curso preparatório na Getpower sobre noções de venda, como abordar o clientes, energia solar e outros temas. Sobre a experiência anterior, quando abriu a própria empresa, e agora, Guilmo diz que é muito diferente e há um amparo na condução do empreendimento. "Quando tive o meu próprio negócio, fiz tudo sozinho, o que é muito mais difícil porque tem que correr atrás de tudo. Numa franquia é como se estivesse abrindo a empresa já moldada, ela vem numa forma. Te entregam e você tem que fazer teu trabalho, o que também não é simples mas consegue ter uma ajuda em muitas coisas", compara.
 

Apoio da rede e afinidade com o negócio são diferenciais na hora de abrir uma franquia

Pesquisar sobre o modelo de franquia, apoio oferecido pela rede, qual o perfil do negócio e investimento necessário para montar a operação são algumas dicas para quem quer entrar no ramo do franchising. Bruno Arena, coordenador da Comissão ABF Jovem, orienta os franqueados em potencial a optarem por algo que tenham afinidade. "Busque áreas que são correlatas com o que você gosta de fazer e não apenas aquelas em que o negócio tem um bom retorno do investimento no final. A afinidade é algo muito importante", afirma.
Arena é da segunda geração de uma família de franqueadores - seu pai é um dos sócios da Casa do Construtor, rede que aluga equipamentos de construção civil com mais de 500 lojas espalhadas pelo Brasil e unidades também no exterior. O modelo de negócio atraiu o interesse do pelotense Augusto Ribeiro, de 28 anos. Engenheiro Civil, Ribeiro conheceu a Casa do Construtor durante um evento da ABF em São Paulo em 2018.
Arena destaca que a afinidade com o setor do negócio é muito importante/Divulgação Casa do Construtor/JC
"Faz um tempinho que começou o namoro, mas acabamos abrindo a franquia no ano passado. O que me chamou atenção foi que a Casa do Construtor tem sinergia com tudo o que sempre fiz na minha vida e o que sei fazer, que tem a ver com Construção", diz. Além disso, a quantidade de multifranqueados da rede foi um grande motivador para ingressar na marca. "Isso mostra que é uma relação boa para os franqueados, acredito que não teriam mais lojas se fosse o contrário", analisa.
O coordenador da Comissão Jovem da ABF também dá essa dica para quem quer abrir uma franquia: conferir como é o apoio dados aos franqueados. "Bata um papo, independentemente do tamanho da franquia, com a rede franqueada. Veja o perfil, se é mais adulta, se é mais jovem, qual a experiência que esses franqueados relatam e como é o suporte e a qualidade do atendimento do franqueador", aconselha.
No caso do modelo da Casa do Construtor, que é a locação de equipamentos, Ribeiro avalia que a opção por uma franquia evitou muitos problemas e impediu de 'levar muito na cabeça'. "Se não fosse a parceria com a franqueadora, levaria muitos anos para chegar no nível de operação que chegamos hoje", garante. Mesmo com o pouco tempo de abertura, os resultados da loja em Pelotas superaram as expectativas e já fomentam o desejo de Ribeiro em ter outras unidades da franquia, possivelmente no Litoral.
Arena destaca que as franquias são modelos de negócio como outro qualquer, mas já foram testados e validados. "Isso dá uma maior segurança. Acho que o franchising tem uma grande oportunidade quando se faz um paralelo das empresas que surgem e a taxa de mortalidade delas. O franchising e é um segmento sólido, justamente porque consegue formatar um processo, valida esse processo e escala ele. Isso pode ser uma grande oportunidade para o jovem que quer empreender e as vezes tem recurso, mas insegurança de empreender de maneira totalmente isolada", complementa o coordenador da ABF.