{{channel}}
Projeto transforma geladeiras em bibliotecas comunitárias no RS
Projeto Geloteca trabalha arte e literatura a partir da reciclagem de refrigeradores
Ampliar o acesso à leitura transformando geladeiras em pequenas bibliotecas públicas é a ideia inusitada do Projeto Geloteca RS. Inspirada numa entidade de São Paulo de mesmo nome, a iniciativa teve início em 2020 com o produtor cultural, MC e rapper Adriano Dplay. O músico, que havia recebido uma doação de um refrigerador estragado, convidou um amigo para fazer a arte da geladeira e instalar na esquina de sua casa, no bairro Guajuviras, quadrante nordeste de Canoas. O intuito inicial era fazer algo pontual, mas, conforme observaram a repercussão que o trabalho teve, decidiram dar continuidade na ação. Hoje, já são mais de 200 geladeiras instaladas por mais de 20 cidades do Estado.
No começo do projeto, segundo Dplay, algumas pessoas desacreditaram que a iniciativa poderia dar certo alegando que a população não possuía o hábito de ler. No entanto, de acordo com o músico, o problema na verdade era outro. "Muitas das pessoas que conversamos falaram que nunca tinham lido porque não tiveram a oportunidade de ter os livros", revela. Dessa forma, seguiram criando novas Gelotecas para continuar trabalhando a questão da democratização da leitura, estimulando a arte e a cidadania e criando espaços de diálogo dentro das comunidades. Além disso, o grupo pensa a temática da sustentabilidade a partir do reaproveitamento de geladeiras velhas.
A ideia das Gelotecas também é divulgar a arte de grafiteiros, ilustradores e pintores. Nesse sentido, cada artista convidado cria uma arte autoral baseada nos pilares da instituição: cultura, educação e meio ambiente. "Cada vez que a gente leva uma Geloteca para uma escola ou entidade, informamos que um dos propósitos dessa ação é que cada Geloteca seja única e deixe a mensagem do artista", conta o rapper. Nesses quase três anos de iniciativa, já firmaram parcerias com mais de 30 entidades e 50 artistas. Hoje, possuem vínculo com o Sesc-RS (Serviço Social do Comércio), o Ministério Público do Trabalho (MPT-RS), a Alvo Associação Cultural e o Museu do Hip Hop, entre outras organizações do Estado.
Quando a entidade estava prestes a fechar um ano, entrou em contato com os Projetos Geloteca de São Paulo e Belo Horizonte para assim criar a Rede Geloteca Brasil, na qual acontecem trocas e sugestões sobre o que dá certo, o que não dá, o que dá para melhorar, como podem atingir mais pessoas, entre outras metas e planos.
Vale mencionar que as iniciativas são todas realizadas por voluntários, incluindo os artistas. Todas as geladeiras e livros são doações da sociedade civil e entidades parceiras.
O acervo de livros das gelotecas vai desde gibis, quadrinhos, clássicos até romances, contos e obras de autoajuda. De acordo com Dplay, existe até uma curadoria, mas ainda não há nada muito muito específico, até porque a ação é voltada para todas as classes.
O que eles cuidam, neste caso, é para que não tenha nenhum livro sobre religião. Como algumas gelotecas estão posicionadas em esquinas e pontos de ônibus, a própria população vai até os locais para colocar livros.
Na biografia do perfil do Instagram do Projeto Geloteca RS (@projetogeloteca), tem um formulário para pessoas ou entidades que queiram, a partir da iniciativa, ser um ponto de arrecadação de livros. Uma das dificuldades da organização é a falta de pontos específicos para recolher doações, e é por isso que buscam parcerias para serem justamente esses pontos de coleta. Além disso, eles também buscam empresas que queiram contribuir com a compra de material e ajudar no transporte e gastos gerais para manutenção do projeto.
A iniciativa também está atrás de organizações que trabalhem com jovens e comunidades vulneráveis para desenvolver oficinas de grafite, pintura e contação de histórias, dando a oportunidade para que os jovens possam criar suas próprias Gelotecas.
Associação cultural busca visibilidade do bairro Guajuviras, em Canoas
O bairro Guajuviras tem fama de ser uma das comunidades mais perigosas de Canoas. Diante disso, Adriano Dplay tem como uma das suas lutas de vida quebrar esse estigma que o local possui, evidenciando a outra realidade do bairro: um espaço cheio de cultura e repleto de artistas. "Deste bairro saíram diversos artistas, eu mesmo sou um exemplo, cantei em vários festivais de rap no mundo. Tem artistas de violoncelo que tocam na Orquestra Sinfônica de Nova York, bailarinos no Bolshoi (ballet russo), grafiteiros, pintores etc. Essa é minha luta, o bairro vai muito além do que aparece na mídia", relata o músico.
A Associação Cultural Sétimo Setor é uma produtora que desenvolve atividades culturais na comunidade do Guajuviras. Criado por artistas locais, em 2017, a produtora vai até escolas da região elaborar oficinas de rap e produção audiovisual, além de promover batalhas de dança e funk.
Em 2019, aconteceu o primeiro Guaju Art Festival, um festival que reúne artistas do mundo inteiro para promover a arte, cultura e diversão no espaço do bairro Guajuviras. O espetáculo contou com muita música, dança, poesia, artes plásticas, grafite e outras atrações. Durante dois dias, a Praça da Brigada recebeu o Projeto Grafitando, a feira de troca de livros BiblioSesc, feira de expositores, feira de adoção de animais, Espaço Kids Sesc e foodtrucks.