Meios eletrônicos de pagamento avançam e dinheiro em espécie perde espaço

Muito além do Pix, soluções recentes como pulseiras cashless ganham mais adeptos

Por JC

Novas tecnologias surgem rapidamente com foco na segurança da transação financeira
Roberta Mello, especial para o JC*
economia@jornaldocomercio.com.br
A digitalização do mercado vem evoluindo rapidamente. Se até pouco tempo, a maior parte das transações comerciais eram baseadas no uso de papel moeda, de cheque e, em menor medida, de cartão de crédito, a realidade hoje é bem diferente. Soluções como o carteiras digitais caíram definitivamente no gosto dos brasileiros e novas ferramentas e tecnologias surgem a fim de suprir a demanda por maior agilidade, segurança e, é claro, aumento no volume de transações. Para os empreendedores, acompanhar as tendências nessa área e oferecer diversas possibilidades de transações se tornou essencial para o sucesso do negócio.

 

Seis vantagens de oferecer diferentes modelos de pagamento

1 Agilidade
Sem dúvidas, um dos principais benefícios de um meio de pagamento digital é a rapidez com que a transação ocorre. Com exceções das transações negadas, que exigem novas tentativas no pagamento, é muito mais rápido pagar pelo computador ou smartphone para concluir a compra.
2 Atender clientes sem conta bancária ou sem limite
Levantamento realizado pelo Instituto Locomotiva indica que cerca de 20% dos brasileiros não têm conta em banco ou usam pouco. Com isso, oferecer métodos de pagamento e parcelamento diferenciados, como boletos, pode ser um movimento inteligente para atender essas pessoas.
3 Segurança
Os meios digitais seguem protocolos de segurança cada vez mais rígidos e protegidos por criptografias. Sendo assim, utilizá-los torna o processo de compra mais seguro, tanto para clientes quanto para os empresários.
4 Menores custos
É possível negociar tarifas diretamente com adquirentes para conseguir condições melhores. Meios de pagamentos diversificados, especialmente os digitais, possibilitam automatizar processos e consequentemente reduzir gastos e horas de trabalho.
5 Taxa maior de conversão
Um estudo realizado pelo Instituto Baymart revelou que um em cada 10 clientes desiste de uma compra por não ter acesso a métodos de pagamento suficientes. Dados que reforçam ainda mais a necessidade das empresas expandirem suas formas de pagamento.
6 Conveniência
O pagamento é uma etapa fundamental do processo de compra e não apenas como uma consequência dele. Por isso, oferecer diferentes meios de pagamento são estratégias para poupar tempo e fidelizar os clientes.
Fonte: Sebrae/RS

Fim da comanda: tecnologia NFC entrega agilidade em eventos

Uma nova solução promete acabar com as comandas de consumo em papel e longas filas de espera para atendimento em eventos. Uma funtech (empresa de tecnologia voltada ao mercado de entretenimento) brasileira com atuação mundial, a ZIG alia tecnologia e inovação para garantir a cobrança ágil e segura, evitando espera e oferecendo acompanhamento dos gastos em tempo real ao client via aplicativo.
Através de uma pulseira cashless ou de cartão pré-pago, ambos com tecnologia NFC embarcada (ferramenta de comunicação sem fio presente em diversos smartphones), é possível fazer a gestão da entrada e o pagamento de comidas e bebidas apenas por aproximação. Antes mesmo de sair de casa ou durante o evento, o usuário credita o valor a ser gasto pelo aplicativo. Ao fim da agenda, se restar saldo residual, é possível solicitar reembolso em website exclusivo do evento, sem burocracia.
Há, ainda, a opção de solução cashless pós-paga, na qual o cartão ou pulseira é entregue no local do evento e, após o check-in ser realizado, a comanda já estará ativa. Ao final, o pagamento pode ser feito nos caixas, totem de autoatendimento ou mesmo baixando o app. Com essa modalidade, de acordo com os CEOs da ZIG, Bruno Lindoso e Nérope Bulgarelli, o consumo aumenta em até 20%.

O pagamento é feito antes do consumo, o que evita golpes e fraudes, e ainda conta com rastreabilidade completa, uma vez que o registro é feito com o CPF do cliente, eliminando transtornos causados pela perda da comanda. A empresa também garante que com isso os usuários gastam mais. Quem foi a festivais como o Rock In Rio, Lollapalooza e Oktoberfest Blumenau, com certeza fez uso o modelo facilitado de pagamentos. A solução também já vem sendo utilizada em casas de shows, bares e restaurantes, principalmente em São Paulo.

Resultado da fusão, em 2021, entre a netPDV e a ZigPay, duas pioneiras em cashless e soluções de pagamentos em entretenimento no país, o negócio superou o momento de interrupção de eventos presenciais e veio com força. No ano passado, movimentou aproximadamente R$ 2 bilhões e é projetado crescimento este ano, principalmente com a expansão a mais países.

Em 2023, a empresa espera dobrar de tamanho no mercado nacional e triplicar internacionalmente. "O Brasil é uma referência em pagamentos. Isso ajudou muito no desenvolvimento do nosso produto e nos torna hoje uma referência internacional. Nosso produto tem muito fit com o mercado global e vamos buscar ser o maior player global nos próximos anos em gestão de consumo no mercado de entretenimento ao vivo", projeta David Pires, CPO da ZIG.

Buy Now Pay Later é novo modelo de pagamento a prazo que ganha espaço

Um modelo de pagamento bastante utilizado no exterior começa a ganhar espaço no Brasil alavancado principalmente pela dificuldade na obtenção de crédito. O Buy Now Pay Later (BNPL, que na livre tradução significa Compre agora, pague depois) é basicamente um pagamento a prazo oferecido pelo estabelecimento comercial em que um provedor intermedia a compra de acordo com condições pré-definidas e personalizáveis.
A operação é bastante semelhante ao crediário, porém, no BNPL a análise e liberação do crédito é feita online baseada exclusivamente em informações básicas, como o número do CPF, o telefone e outros dados facilmente obtidos.
No crediário, a própria loja ou instituição financeira parceira faziam esse processo com base em seu banco de dados, o que acabava por impactar negativamente pessoas com nome em serviços de proteção ao crédito, por exemplo. O risco de inadimplência e fraude é assimilado pela operadora, por isso é importante que os consumidores fiquem atentos aos juros e taxas empregados.
No Brasil, trata-se ainda de uma grande novidade, porém, de acordo com Juana Torres Angelin, COO da Koin, empresa que oferece esse tipo de solução, há grandes oportunidades para expansão, principalmente quando se leva em conta o contexto econômico no País.
"As soluções de parcelamento da Koin funcionam como um grande destravador de demanda, fornecendo crédito a brasileiros que precisam parcelar e hoje enfrentam muitas burocracias com financeiras tradicionais. Para as empresas, aumentamos as taxas de conversão e, consequentemente, as vendas", destaca.
Segundo Juana, entre julho e dezembro de 2022, a aceitação do BNPL subiu em torno de 10 pontos percentuais no Brasil, passando de 15,3% para 25,4%. Para 2023, as expectativas são ainda maiores. Conforme o estudo de mercado Beyond Borders a América Latina vem adotando cada vez mais soluções BNPL no comércio digital, seguindo um movimento global.
O mercado global segue dando espaço para essa forma alternativa de pagamento. Segundo relatório de Pagamentos Globais da WorldPay, em 2021, 2,9% das transações no comércio eletrônico foram realizadas com BNPL e até o final de 2023 a projeção é que esse número triplique, atingindo 9%.
A expectativa, conforme Juana, é que até 2026 sejam movimentados US$ 400 bilhões via essa modalidade em transações no comércio digital global.
 

Radar de tendências

SoftPOS - Em um mercado ainda dominado pelas maquininhas de cartão, uma outra solução vem ganhando espaço. A tecnologia SoftPOS permite que smartphones e tablets aceitem pagamentos via NFC e funcionem como terminais de pagamento sem nenhum hardware adicional. Segundo Romulo Tevah, do Sebrae/RS, a adesão ainda é pequena no Brasil, principalmente porque as empresas menores tendem a ser mais cautelosas e vagarosas em adotar novas tecnologias. "Mas o modelo é interessante e pode ser vantajoso, principalmente entre aqueles que ainda pagam taxas pelo uso das maquininhas tradicionais".
Pix internacional - Sistema semelhante ao Pix brasileiro, desburocratizado e menos custoso, pode integrar 63 países e agilizar transações de importação e exportação. A ferramenta está sendo desenvolvida pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) e já está em fase de testes integrando pagamentos da Malásia, Cingapura e Zona do Euro por meio do Banco da Itália. 
 

Startup foca em recuperação de transações negadas

Mais de 20% das transações online no Brasil são recusadas por diversos motivos, que vão da ausência real de limite para compra até problemas técnicos de integração dos meios de pagamentos. Via de regra, o consumidor que tem a compra negada não tenta novamente, o que custa à indústria US$ 15 bilhões em vendas perdidas e à empresa vendedora a perda de um cliente para a concorrência.
Mesmo as startups e fintechs do setor financeiro, que incluem as empresas de meios de pagamentos, sendo um mercado em expansão, ainda existe um gargalo na parte técnica que prejudica várias empresas digitais: a dificuldade na integração de vários sistemas financeiros, como bancos e provedores de pagamentos, com sistemas antifraudes e outras funcionalidades.
Foi pensando nessas pedras no caminho do mercado de meios de pagamentos que um trio de amigos uniu suas experiências no setor para criar a Malga - startup focada em oferecer uma solução de integração para todos os tipos e tamanhos de negócios digitais. Em apenas um ano e meio de operação, os sócios Alex Vilhena (CEO), Thiago Garuti (COO) e Marcel Nicolay (CTO) conseguiram um crescimento de 400% desde a sua fundação.
"Ao longo dos anos trabalhando no setor de meio de pagamentos, observamos que a maior dificuldade dos clientes era integrar vários meios de pagamentos nos seus e-commerces. Além de serem caras, elas ainda não funcionavam bem e eram demoradas. Pesquisei e descobri que o Brasil tinha a pior taxa de aprovação de pagamentos e custos de transações da América Latina. Os custos eram, por exemplo, seis vezes maiores", conta Alex Vilhena, CEO e cofundador da Malga.
Em junho de 2020, os sócios passaram quase um ano montando a plataforma inicial, que foi lançada em março de 2021. Em setembro, a startup brasileira participou de um processo de aceleração na Y Combinator - considerada uma das gigantes do Vale do Silício, nos EUA. Em novembro, ocorreu a segunda rodada de investimentos, com um aporte seed (investimento de recursos destinados a empresas e startups em crescimento inicial) de US$ 2,7 milhões, com a participação da QED, Verve Capital, Latitud e Norte Ventures. Já em 2022 houve nova rodada de investimentos, o que totalizou US$ 6,5 milhões, com a liderança da Costanoa. A fintech processa cerca de 400 mil pagamentos por mês, atualmente. A meta para 2023 é ainda mais ambiciosa, com a previsão de fechar o ano com R$ 2 bilhões em transações.

*Roberta Mello é formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (Pucrs). Atuou como repórter de Economia no Jornal do Comércio de 2013 a 2021, onde conquistou os prêmios B3 de Jornalismo - Categoria Demais Regiões (edição 2018) e Transparência de Jornalismo (2017). Hoje, atua como assessora de imprensa e repórter freelancer.