{{channel}}
Gaúchos encontram novos horizontes para os negócios em Santa Catarina
Pedro Carrizo
Cada vez mais marcas nativas do Rio Grande do Sul têm se espraiado para Santa Catarina em busca de expandir suas operações e conquistar novos mercados. O estado vizinho tem oportunizado isso através de um ambiente empreendedor pulsante e que o coloca entre os mais competitivos do Brasil.
Negócios gaúchos descobrem vantagens em Santa Catarina
É tempo de férias, e as praias catarinenses são o segundo destino mais procurado pelos gaúchos nesta época do ano, atrás somente de seu próprio litoral. Em média, 200 mil veranistas saem do Rio Grande do Sul em direção a Santa Catarina no primeiro trimestre do ano, o que os coloca como os frequentadores mais assíduos das praias catarinenses no verão, mostram dados da Secretaria de Turismo do Estado de Santa Catarina (Santur-SC).
Mas não só as praias e as belezas naturais de Santa Catarina têm feito brilhar os olhos de seus vizinhos do Sul. A região tem atraído cada vez mais negócios de outras partes do País, seduzidos pelo desenvolvimento sólido que Santa Catarina registra nos últimos anos: o estado já cresceu mais de 12% em relação ao patamar pré-pandemia, enquanto o Brasil como um todo subiu 4,5%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ano passado, Santa Cataria também ficou em 2º lugar no Ranking de Competitividade dos Estados, posto que ocupa há seis anos, enquanto o Rio Grande do Sul se manteve na 6ª posição do mesmo levantamento.
O ranking é mais uma prova de como o ambiente empreendedor catarinense tem sido chamariz de novos negócios nos últimos anos, sobretudo para empresas gaúchas. De acordo com dados da Junta Comercial de Santa Catarina (Jucesc), o número de filiais gaúchas no estado vizinho saltou de 980 para 1.147 em um ano, alta de 15%.
Já o número de empresas que abandonaram sua sede no Rio Grande do Sul e levaram a matriz de seus negócios para Santa Catarina teve alta de quase 30% entre 2021 e 2022, subindo de 472 para 676, segundo dados fornecidos em 3 de janeiro.
Empresas do setor imobiliário, de materiais de construção, redes de farmácias e de ensino, franquias de restaurantes e indústrias de bebidas são alguns dos segmentos comerciais de negócios originalmente gaúchos que migraram ou expandiram operações para Santa Catarina nos últimos anos.
A reportagem do Empresas & Negócios conversou com seis dessas empresas para entender como o território catarinense tem sido usado na busca por novos mercados. Ponto em comum na fala dos empresários ouvidos é que o estado catarinense é menos burocrático que o Rio Grande do Sul, o que permite um crescimento mais rápido dos negócios que expandem para Santa Catarina.
"Contratamos uma consultoria com o intuito de mapear regiões do Brasil onde pudéssemos ter uma velocidade maior nas vendas e crescer com mais força, pois nossa intenção é abrir capital na bolsa de valores até 2026. A Região Metropolitana de Florianópolis despontou muito em nossos estudos de mercado e por isso viemos para cá", comenta Jader Morais, estrategista de marketing do Grupo CBA Empreendimentos, original de Cachoeira do Sul.
Na visão de Paulo Landim Junior, CEO do Grupo Fleming, empresa que atua no segmento de ensino com escolas de Ensino Médio e pré-vestibular, Santa Catarina é um estado mais ágil do que o Rio Grande do Sul, com processos mais simples para abertura de novas unidades.
Segundo João Miranda, diretor comercial da Fruki Bebidas, desde que a empresa iniciou a operação em Santa Catarina, no ano de 2017, o faturamento na região tem crescido, em média, 50% ao ano. A empresa lançou, em 2020, o refrigerante Laranjinha para atender especificamente uma demanda do consumidor catarinense.
"Para crescer no mercado catarinense, procuramos entender as necessidades do público local", diz Miranda. Outra vantagem de estar em Santa Catarina são os incentivos fiscais sobre importação, salienta Irio Piva, presidente do Grupo Elevato, que inaugurou uma nova loja de materiais de construção em 2022 em Garopaba (SC).
No regime especial de Importação de Santa Catarina, ao invés da alíquota de 17% (como é a tributação no Rio Grande do Sul ), a tributação efetiva do ICMS gira em torno de 1% a 7,6% para empresas que têm sede ou filial no estado catarinense.
"Estamos nos cadastrando no sistema para começar a trazer os produtos importados das lojas pelo Porto de Itajaí, o que hoje é feito pelo Porto de Rio Grande. Todos os produtos importados da Elevato deverão desembarcar em Itajaí e dali sair para as lojas de Santa Catarina e Rio Grande do Sul", explica Piva.
Elevato projeta novas lojas e Centro de Distribuição no estado vizinho
Dentre as empresas gaúchas que expandiram para Santa Catarina no ano passado, o Grupo Elevato é um dos que já tem desenhado de forma bem estruturada seu plano de crescimento no estado vizinho.
Depois da inauguração da primeira loja na cidade de Garopaba, que custou cerca de R$ 2 milhões, a empresa planeja abrir, ainda neste ano, mais um ponto em Florianópolis, com investimento estimado em R$ 3 milhões, e também alugar um Centro de Distribuição para a região de Santa Catarina.
"Em razão do sistema tributário complexo do Brasil, não é economicamente viável ter apenas uma loja em Santa Catarina. Por isso, nossa projeção é ter, no mínimo, três lojas e um Centro de Distribuição neste estado para obtermos o retorno esperado", diz Irio Piva, presidente do Grupo Elevato.
A escolha por Garopaba como o berço inaugural da rede de materiais de construção em outro estado tem dois motivos. O primeiro é que a cidade litorânea com cerca de 30 mil habitantes fixos recebe muitos investimentos de sua população fluente, boa parte formada por gaúchos. Ao caminhar pela cidade, é difícil não encontrar um canteiro de obras, que já estão chegando até aos morros virgens que contornam o litoral.
Segundo Piva, o movimento acelerado da construção civil em Garopaba também tem levado muitos profissionais de arquitetura à região, o que foi um fator decisivo para Elevato entrar na cidade.
O segundo motivo da chegada em Santa Catarina por Garopaba é em razão do alto número de gaúchos que a região concentra. Conforme o gestor da rede de materiais de construção, antes mesmo da instalação da operação em Santa Catarina já havia fluxo constante de encomendas para Garopaba.
"Entendemos que o melhor jeito de estrear em um estado que não era o nosso seria em um lugar mais amigável possível e, por isso, a escolha pela Garopaba foi altamente estratégica. Não queremos, obviamente, atender apenas o público gaúcho, mas sabíamos que tínhamos a preferência dele a partir da nossa chegada".
Programa de atração de empresas de SC espera mais de R$ 2 bilhões em investimentos
Criada para atrair e atender empresas de fora que busquem se instalar em Santa Catarina, o Invest SC é um programa para atração de investimentos e incentivos a novos negócios.
Ao longo dos últimos dois anos, entre 2021 e 2022, o Invest SC atendeu mais de 80 empresas, com expectativa de mais de R$ 2 bilhões em atração de novos investimentos e mais de 600 empregos diretos.
Na prática, o Invest SC é um grupo de trabalho com intermediação dos órgãos estaduais, federais e do município, e que permite ao empreendedor interessado se instalar, expandir ou até mesmo requerer a resolução de algum problema que dificulte sua atividade em Santa Catarina.
Conforme Antonio Slosaski, gerente de novos negócios da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) da gestão anterior, a área pública é um mundo completamente diferente da área privada e o Estado tem o papel de esclarecer dúvidas sobre a questão logística, tributária e ambiental.
"O papel da agência é muito próximo do que é feito em uma consultoria. Buscamos empresas que possam crescer junto com as cidades que as recebem, mas mantendo as características do município", comenta Slosaski, que deixou a secretaria no fim de dezembro.
Embora não tenha o número de atendimentos às empresas gaúchas, o responsável pela área de novos negócios da SDE afirma que tem sentido crescer os negócios gaúchos em Santa Catarina nos últimos dois anos. Isso, de fato, vem acontecendo.
De acordo com dados da Junta Comercial de SC (Jucesc), o número de filiais gaúchas em Santa Catarina saltou de 980 para 1.147 em um ano. Já o número de empresas que abandonaram sua sede no Rio Grande do Sul e levaram a matriz de seus negócios para o Santa Catarina teve alta de quase 30% entre 2021 e 2022, subindo de 472 para 676.
SC já representa mais de 10% no faturamento da Fleming
Rede de escolas de Ensino Médio e cursos pré-vestibulares para a faculdade de Medicina, a Fleming entrou em Santa Catarina como parte de um plano de investimento de R$ 30 milhões, que foram aportados nos últimos cinco anos para crescimento em outros estados. A rede já está presente, além do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, no Paraná e Distrito Federal.
Segundo o CEO da Fleming, Paulo Henrique Landim, Santa Catarina já representa mais de 10% do faturamento do grupo, sendo que a entrada no estado aconteceu em 2020, às vésperas da pandemia. Diferentemente de outros segmentos, a Fleming tem se instalado em regiões mais distantes do litoral, em cidades como Chapecó, Criciúma, Concórdia e Joinville.
De acordo com Landim, ao escolher as cidades catarinenses foi preciso se atentar ao número de estudantes em escolas particulares e o tamanho do mercado de ensino privado da região.
"Além disso, enxergamos em Santa Catarina um estado mais ágil e menos burocrático. No Rio Grande do Sul está mais difícil fazer negócio. Sentimos uma abertura para um investimento em Santa Catarina muito maior e processos mais simples para abertura de novas unidades", diz Landim.
Outro fator que justificou a ida para cidades em questão é porque elas já se relacionam indiretamente com a Fleming, que antes de expandir para Santa Catarina estava no estado gaúcho e paranaense.
"Sinto que o modelo de ensino no Rio Grande do Sul é uma influência para as cidades de Chapecó, Concórdia e Criciúma. Enquanto para Joinville a referência de ensino é Curitiba", justifica o CEO. Segundo ele, antes das operações em Santa Catarina já havia migração dos alunos catarinenses para outras escolas da rede.
"Por exemplo, recebíamos alunos do Oeste catarinense que iam estudar em Passo Fundo e alunos do Sul de Santa Catarina que iam estudar em Porto Alegre. Agora, começamos a oportunizar que esses alunos estudem localmente em suas cidades de origem", explica.
O CEO da Fleming ressalta que desde antes da entrada em Santa Catarina, a rede registrava taxa de aprovação relativamente alta para os alunos que se inscreveram no vestibular de medicina da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Somando todas unidades da rede, a Fleming ingressou 62 estudantes na UFSC.
Grupo CBA aposta em Florianópolis como estratégia para acelerar venda de imóveis
O Grupo CBA Empreendimentos, original de Cachoeira do Sul (RS), entrou em 2019 em Santa Catarina, com escritório na luxuosa região de Jurerê Internacional.
Para o Grupo, formado por CBA Empreendimentos, voltada ao alto e médio padrões, e Viva Corp, voltada ao padrão econômico, Santa Catarina é a porta de entrada para uma expansão nacional.
A empresa tem o sonho de estrear na bolsa de valores brasileira até 2026. Diante disso, escolheu a Região Metropolitana de Florianópolis após um estudo de mercado que mapeou as regiões do Brasil que poderiam dar mais velocidade nas vendas dos imóveis e, consequentemente, comportar o crescimento agressivo que a CBA Empreendimentos precisa para estar no panteão da construção civil nacional.
Desde sua chegada, a empresa já lançou duas edificações em Santa Catarina, uma de alto padrão em Jurerê, assinada pela CBA, e outra de médio padrão, assinada pela Viva Corp, em São José, na entrada de Florianópolis, somando 204 unidades já vendidas.
"Para este ano e também para 2024, temos o landbank (banco de terrenos) em toda região de Florianópolis, Itapema, Itajaí e Balneário Camboriú. Ou seja, mesmo que Santa Catarina tenha aberto as portas para uma expansão nacional, queremos seguir buscando ser referência na região Sul, principalmente no estado catarinense", projeta Jader Morais, estrategista de marketing do Grupo CBA Empreendimentos.
E novos empreendimentos devem seguir sendo lançados pelo grupo no estado vizinho ao longo dos próximos três anos. Para 2023, o planejamento comporta o lançamento do Belgar Residence, em São José, e do Meraki Sunset, em Florianópolis. Outras cidades, como Itajaí e Ponta das Canas também devem receber edificações, antecipa Morais.
"Em Florianópolis, temos acesso a muito networking com investidores capazes de capitalizar projetos nacionais, e isso tem sido muito importante para nosso crescimento. Santa Catarina é um polo metropolitano que atrai muita gente de fora disposta a investir", acrescenta o estrategista de marketing.
Imobi adquire empresas para entrar no mercado catarinense
Empresa de mídias urbanas, o Grupo Imobi entrou em Santa Catarina por meio da compra de duas empresas nativas do estado vizinho e tem conquistado o mercados de painéis publicitários em Itapema e Florianópolis. A meta é ser o maior player do segmento na região Sul.
"Mesmo pensando há muitos anos em fazer essa movimentação para Santa Catarina, esperamos o momento certo. Agora que somos o maior player do nosso segmento no Rio Grande do Sul, nos sentimos confortáveis para expandir para o estado catarinense", diz Daniel Costa, sócio-fundador do Grupo Imobi.
A empresa investiu mais de R$ 5 milhões em Santa Catarina, e hoje possui 22 painéis de front light em Florianópolis e mais de 200 outros em Itapema. As concessões desses espaços já haviam sido conquistadas pelas empresas que foram compradas pelo Grupo Imobi.
Conforme Costa, a Imobi se juntou com a Criativa, também de Santa Catarina, para fazerem as aquisições em conjunto. Por isso, a operação é gerida pela Criativa Imobi, empresa que foi constituída para atender exclusivamente o mercado local.
A meta agora é começar a trazer mais marcas gaúchas para exibirem seus produtos e serviços nos painéis da Criativa Imobi. Segundo ele,, o objetivo é que a carteira de clientes em Santa Catarina seja 50% de marcas locais e a outra metade de marcas gaúchas. Atualmente, 95% das empresas anunciantes em Santa Catarina são da própria região, conta o fundador.
Fruki amplia Centro de Distribuição em Blumenau
Desde a chegada em Santa Catarina no ano de 2017, a Fruki Bebidas, original de Lajeado, é mais uma entre as muitas empresas gaúchas que vêm ao estado catarinense com a intenção de assumir a liderança em seu market share.
A empresa inaugurou seu primeiro Centro de Distribuição (CD) em Blumenau há três anos e, em 2021, ampliou o espaço para três mil metros quadrados de área construída, o que aumentou consideravelmente a capacidade de escoamento das bebidas.
"Com a entrada da operação do novo CD de Blumenau, a Fruki aumentou em cinco vezes a capacidade de movimentação e armazenamento dos produtos. E, mais importante do que isso, qualificamos a prestação de serviço para ficarmos mais próximos dos clientes e consumidores", ressalta João Miranda, diretor comercial da Fruki Bebidas.
Desde que iniciou a operação no estado vizinho, a empresa cresceu, em média, 50%, em faturamento ao ano em Santa Catarina. "Além do investimento em estrutura para vendas e distribuição, investimos em marketing, para dar mais visibilidade no ponto de venda e experiência dos consumidores e, principalmente, em portfólio", explica o diretor comercial.
Com o intuito de estreitar a relação com o consumidor catarinense, a Fruki lançou, em 2020, o refrigerante Laranjinha para atender uma demanda específica do público local. Miranda ressalta que o Laranjinha foi o primeiro refrigerante desenvolvido especialmente para o consumidor de Santa Catarina. A bebida chegou ao mercado na segunda quinzena de julho de 2020, na versão de dois litros.
Segundo Miranda, a Fruki tem estudos em andamento para viabilizar novas estruturas que auxiliem a cumprir o objetivo de fazer da empresa uma das maiores do segmento de bebidas em Santa Catarina.
Japesca quer seguir crescendo por meio de franquias
A rede de restaurantes de comida japonesa Japesca inaugurou suas duas primeiras operações em Santa Catarina ainda em 2021, uma em Garopaba e outra em Florianópolis.
A decisão, no entanto, partiu do interesse de franqueados, mas a expansão ao estado de Santa Catarina deve seguir sendo fomentada por parte da diretora aos parceiros da rede.
"Nossa meta é crescer para todo Brasil como uma rede popular de restaurantes de sushi, com preços competitivos e qualidade na entrega. Esperamos que Santa Catarina seja apenas o primeiro estado fora do Rio Grande do Sul a receber lojas da Japesca", salienta o diretor da rede, Gabriel da Cunha.
De acordo com ele, as lojas em Santa Catarina estão adequadas ao novo modelo operacional da Japesca, que prioriza o sistema de delivery e take away. "No final do ano passado, lançamos um projeto de microfranquias, no qual o investimento é de até R$ 100 mil
e não tem o atendimento presencial. Esse modelo está sendo usado em Santa Catarina e tem gerado bons resultados", explica.
e não tem o atendimento presencial. Esse modelo está sendo usado em Santa Catarina e tem gerado bons resultados", explica.
A Japesca quer seguir com a abertura de lojas em Santa Catarina também em razão das facilidades logísticas. Isso porque a grande maioria dos fornecedores de pescados que abastecem as lojas gaúchas são justamente de distribuidores catarinenses.
* Pedro Carrizo é jornalista formado pela Universidade Ritter dos Reis. Teve passagens pelo Jornal do Comércio e, hoje, atua como free-lancer.