Casa do Construtor avança rumo à Europa

Por Luciane Medeiros

Executivo explica que o desafio é mostrar que o aluguel de maquinário muitas vezes é mais vantajoso do que a compra
A Casa do Construtor, fundada em 1993 no município de Rio Claro, São Paulo, é pioneira na locação de equipamentos para uso na construção civil. Originada da parceria entre os engenheiros civis Altino Cristofoletti Júnior e Expedito Eloel Arena, possui mais de 520 unidades no Brasil, quatro operações no Paraguai e, recentemente, a primeira no Uruguai. Altino, que é CEO da rede, conta que a ideia é expandir a presença nas Américas do Sul e Central, chegando até a Europa.
Empresas & Negócios - Como começou a Casa do Construtor?
Altino Cristofoletti Júnior - Começamos há 30 anos em Rio Claro, no interior de São Paulo. Meu sócio e eu começamos muito pela necessidade de sobrevivência. Era um momento do fim da década de ouro da engenharia, que foi a década de 1970. Em 1980 não tinha muito trabalho, éramos obrigados a fazer 'dez mil coisas'. Começamos alugando alguns equipamentos e também vendendo material de construção como pedra, areia e cimento. Passado um pouco de tempo, percebemos que esses dois negócios na área de construção tinham sinergia mas eram nichos diferentes na gestão. Então optamos por focar em aluguel de máquinas.
E&N - Esse formato se enquadra na economia compartilhada?
Altino - Sim, nosso negócio faz parte da cultura da economia compartilhada, algo que ao longo desses 30 anos fomos aprendendo também. Quanto mais ao Sul do País, mais a cultura da posse, do ter, era mais enraizada em relação ao que ocorre no Norte. Talvez seja assim até pelos aspectos culturais. Hoje trabalhamos muito o nosso propósito, que é ressignificar a posse, de mostrar que ter uma betoneira muitas vezes não faz sentido. Faz muito mais sentido você alugar uma máquina apropriada naquele momento que você precisa, pelo tempo que você precisa. Fomos percebendo que o aluguel é algo muito mais inteligente e sustentável, algo que está muito mais enraizado da nossa necessidade como humanidade de preservar o planeta.
E&N - Quais as diferenças que existiam entre empreender naquela época e nos dias atuais?
Altino - Hoje, quando uma startup vai começar, o primeiro ponto que vem é o tamanho do mercado, o que eu represento nele. Naquela época, não tínhamos a mínima a noção. Hoje, na Casa do Construtor, temos uma área de inteligência de mercado com três engenheiros de estatística e engenheiro de dados que vai levando a gente a tomar decisões muito mais focadas em tecnologia, em dados e informações.
E&N - E a ideia de começar a funcionar como franquia?
Altino - O nosso negócio é de capital intensivo, bem diferente. Geralmente, no franchising existem muitas indústrias que querem ser canal de distribuição. O franchising veio porque eu não tinha grana, nem o Expedito, mas a gente entendia que, para ter sucesso, precisava de uma pequena rede. Na época, nosso sonho grande era ter três, quatro lojas na região. A primeira franquia só veio em 1998, tínhamos receio de colocar alguém em uma fria. Como a gente ia colocar um franqueado fazendo uma coisa que ainda não tinha testado? Então a gente testou muito, abriu uma segunda unidade para ver se ela realmente ficava em pé. Tivemos essa preocupação com o franqueado.
E&N - Como é a relação entre franqueador e franqueado?
Altino - O franchising tem uma coisa magnífica que é a possibilidade de ter dois empreendedores. O franqueado, que é um empreendedor, e também o franqueador, mas com papéis bem diversos. O franqueado tem que entregar a proposta de valor naquele território, com aquele valor que a marca quer empregar e ele tem que conhecer claramente quem é o cliente e satisfazer as necessidades dele. O franqueador tem outro papel, que é olhar o negócio mais de cima, pensar na estratégia geral, na rede e na marca. E é justamente essa possibilidade que é muito instigante e que faz com que o franchising seja tão vigoroso.
E&N - Qual é o ritmo de abertura de lojas da rede?
Altino - Nos primeiros anos abríamos uma, duas, até quatro lojas por ano. Hoje, conseguimos abrir 160 lojas por ano porque tivemos uma construção da rede baseada nos nossos princípios éticos que nos guiaram até aqui, em um cuidado com o franqueado e a preocupação de crescer de forma sustentável. Isso fez com que a gente criasse, usando o jargão da Engenharia, uma base, uma fundação muito bem estruturada.
E&N - Houve algo que impulsionou esse movimento de abertura das unidades?
Altino - Um fato importante que mudou nossa 'régua' do sonho de abertura de lojas, que era algo em torno de 15cm a 30cm e passou a ser uma trena, bem maior, foi quando a Endeavor nos procurou. Falaram que nosso negócio tinha perfil para ser um empreendedor de alto impacto. Passamos por uma espécie de processo seletivo e saímos de lá com o sonho grande de ter 100 lojas. Esse número no franchising é um marco interessante porque exige outras competências enquanto franqueador. Se você consegue realmente estabelecer essas competências, então você dá um salto.
E&N - Como é a presença da Casa do Construtor no Rio Grande do Sul?
Altino - Temos em torno de 13 lojas no Rio Grande do Sul e estamos caminhando para quase 20 lojas. E são mais umas 20 cidades com regiões já mapeadas que têm mercado, que a gente entende que vai fazer o negócio tracionar rapidamente. É um estado que a gente admira muito pelo seu povo empreendedor, pelos empresários e os cases.
E&N - Qual o apoio dado aos franqueados?
Altino - Oferecemos capacitação por meio de uma universidade corporativa, que tem a participação dos nossos fornecedores. A universidade tem uma plataforma de educação à distância que se mostrou muito efetiva na pandemia, e também há capacitação presencial. Através de trilhas do conhecimento vamos certificando cada função dentro da loja. A Casa do Construtor investe muito na capacitação. Além disso, o franqueado tem que ter bons equipamentos, então desenvolvemos uma área de gestão de ativos. O ativo, que é a betoneira, o andaime, as ferramentas elétricas, equipamentos de limpeza e outros precisam ser comprados de forma adequada. Homologamos os fornecedores e fazemos a negociação junto a eles para que o franqueado consiga comprar melhor e numa condição de financiamento mais adequada.
E&N - E como está a internacionalização da marca?
Altino - Temos uma expansão internacional na qual já estamos no Paraguai com quatro lojas e em dezembro abrimos no Uruguai. O olhar internacional é natural, muito embora o Brasil ainda tenha muitas oportunidades. Temos planos de abertura no Chile e Colômbia. Na Europa, devemos começar por Portugal. Um dos drivers é a internacionalização mas o primeiro passo é focado nos países das Américas Central e do Sul.