Da bala de coco ao sabor Maranghello

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Quem entra na loja mais antiga da rede de confeitaria Maranghello – na rua Almirante Gonçalves, 286, no bairro Menino Deus – não demora muito a perceber que há alguma coisa de diferente ali. A sensação de estar diante de algo especial pode ser encontrada no sabor característico dos produtos vendidos na loja ou no atencioso atendimento oferecido, mas clientes mais atentos notam que, na verdade, há um quê a mais em tudo, inclusive no espaço físico, que carrega uma história que se faz presente a todo o momento.
Entrar na confeitaria é, de fato, ingressar na casa dos Maranghello. Um ato tanto simbólico quanto literal. O primeiro ambiente da loja, onde estão dispostas mesas e cadeiras, é uma ampliação do espaço seguinte, onde há mais mesas e cadeiras, mas estas estão diante do balcão que exibe os doces e salgados já tradicionais na Capital há 27 anos. E é nesse local, o núcleo da loja, que começou a ser traçada uma história construída pela família dentro de sua própria casa.
“Aqui, onde estamos, era o meu quarto”, conta o adminsitrador Leonardo Maranghello, que ainda era uma criança quando os pais iniciaram a trajetória que já se mostrava audaciosa, mas, também, bem-sucedida desde o começo.
Cada passo nessa caminhada foi dado no tempo certo, com firmeza e com a participação de todos os integrantes da família. O empreendimento começou de maneira tão simples que dificilmente seria possível prever que se consagraria como um nome que remete à coisa boa, como é comum notar sempre que se fala da rede a algum portoalegrense.
Quem iniciou essa história foi o contador Cláudio Maranghello. Em meados da década de 1980, ele começou a comercializar no escritório balas de coco, feitas por ele. “Era uma receita antiga, da minha mãe”, conta. Quem diria que vendendo balas de coco, ele construiria uma rede que, hoje, já conta com quatro lojas e que recebe propostas mensais para abertura de novas filiais?
Como em toda história de sucesso, essa também tem o seu segredo, mantido desde os tempos da bala de coco até hoje: a qualidade. “Eu cuidava muito do produto que estava oferecendo e fazia questão de retirar dos baleiros as balas que ficavam no fundo do recipiente para deixar à disposição sempre produtos renovados”, detalha. Essa atenção ele mantém até hoje.
Claro, não é ele quem prepara os doces ou salgados, mas ele sabe exatamente o ponto exato de cada produto, bem como a quantidade e a qualidade de cada ingrediente usado nas receitas, que, exige, “precisam ser seguidas à risca”. Afinal de contas, são elas que sustentam o slogan mais recente da marca: “quero sabor Maranghello”.
Renata Maranghello, filha de Cláudio e Elena Taffarel Maranghello, proprietários da confeitaria, é publicitária e explica que o bordão, que tem sido divulgado nas propagandas da empresa – “quero sabor Maranghello” –, reflete a característica que consagrou a marca e o aspecto de maior atenção da família: o sabor, com qualidade e preço acessível, critérios observados por todos da família na condução da empresa.

A oito mãos

A Confeitaria Maranghello, mesmo antes de se tornar um negócio, foi um sonho compartilhado por toda a família. Cláudio Maranghello ainda, dedicava às balas, no final dos anos 1980, quando o filho Leonardo observava outdoors e imaginava ver expostas as balas do pai, que já faziam sucesso, divulgadas nos grandes painéis publicitários.
A mãe, Elena, trabalhava ainda como professora de matemática, mas preocupada com a desvalorização da profissão, já projetava que iria, em pouco tempo, se dedicar ao empreendimento desenvolvido naquele período pelo marido. Ele mesmo só passou a se dedicar aos doces quando notou que a renda proveniente da atividade, que começou despretensiosamente, já era superior à da remuneração mensal.
E quando a confeitaria de fato começou a funcionar, todos os integrantes da família, que já vinham compartilhando expectativas sobre o negócio, fortaleceram ainda mais o apoio que davam uns aos outros. Não que não haja divergências entre eles. Há, como em toda família. O diferencial é saber como contorná-las. E isso é feito com aparente facilidade, fruto de um equilíbrio de personalidade espantosa, mas, acima de tudo, do respeito. “Respeitamos muito o espaço um do outro”, sustenta Renata.
Ainda criança, Renata mal podia ser vista por trás do balcão instalado na loja da Almirante Gonçalves. “Hoje, muitos clientes vêm aqui e lembram dessa época, do tempo em que eu já trabalhava no caixa. Algumas das nossas clientes se tornaram minhas amigas pessoais”, conta.
Os olhos de Renata e Leonardo brilham como deveriam brilhar na época de crianças diante de todos os acontecimentos decorrentes da empreitada dos pais quando falam da infância vivida, sobretudo, dentro da confeitaria. Cláudio e Elena, depois de vencerem um dos períodos mais complicados para tocar um negócio, durante a hiperinflação, consolidaram a empresa, que, desde o surgimento, em 1987, não parou de ganhar evidência até hoje. As lojas, duas no bairro Menino Deus, e outras duas em shoppings (Total e BarraShoppingSul), são conduzidas, hoje, por todos os integrantes da família. Os pais acompanham de perto as operações das duas confeitarias no bairro e os filhos se dividem entre as unidades nos shoppings.