Jovens empreendedores garimpam espaço no mercado brasileiro

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Fazendo jus ao fato de o País estar entre as nações mais empreendedoras do globo, jovens brasileiros têm, cada vez mais, apostado em trocar uma oportunidade de emprego formal pelo risco de abrir um negócio próprio. Recentemente, uma pesquisa realizada pela Junior Achievement detectou que dois em cada cinco representantes da geração nascida na década de 1980 seguiram esse caminho. Neste grupo, está a gaúcha Ana Paula Kiefer, 24 anos, recém-formada em Publicidade e Propaganda e já sócia-proprietária da Brigaderia Preta Pretinha, especializada em produção de brigadeiros gourmet.
No portfólio de produtos da empresa, ainda há copinhos de chocolate, cockies e caixas de embalagem para presentes. “Também realizamos serviços como decoração de mesa de doces em aniversários, formaturas e casamentos”, destaca a jovem empreendedora, que soma sete anos de experiência neste mercado.
Mesmo tendo iniciado cedo, Ana Paula ainda tenta driblar as dificuldades de quem trabalha por conta própria. Uma delas é manter o faturamento, que ainda varia muito, segundo a microempresária. Produzindo uma média de 300 doces por semana, ela cobra R$ 70,00 pelo cento de cada produto. Mas, sem endereço físico, depende de encomendas para tocar o negócio.
A solução encontrada foi divulgar o trabalho pela internet, em uma página do Facebook, e visitar constantemente os clientes, além de frequentar eventos para realizar networking. “Preciso ser vista para ser lembrada”, teoriza, destacando que, a cada visita realizada, promove uma sessão de degustação dos produtos.
Ana Paula integra uma parcela de jovens que predominou na pesquisa da Junior Achievement: os empreendedores contidos no grupo, em geral, têm faixa etária de 23,6 anos de idade, sendo que 35% desses possuem entre 18 e 22 anos – e a grande maioria é de mulheres (63%). A escolaridade também é um fator determinante: 69% têm algum curso superior completo.
E foi somente depois da formatura que a jovem publicitária mergulhou de vez na escolha feita, por acaso, quando tinha 17 anos. Desde o ano passado, com o incentivo dos amigos, ela começou a investir mais no empreendimento. O início foi modesto. “Antes de abrir a empresa, eu vendia brigadeiro no colégio”, explica. “A primeira vez foi porque eu queria juntar dinheiro para uma viagem.”
A inovação ficou por conta dos recheios: os clientes podiam optar por brigadeiro com morango, branquinho, creme de avelã com cacau e leite, uva e nozes. Cada doce custava R$ 1,50. “Cada vez que eu vendia, alguém sugeria algum sabor de recheio – e eu ia testando, e cada vez que inseria um novo sabor, eu vendia mais”, comenta a jovem, que largou um emprego fixo para empreender. “Ainda sou nova, moro com meus pais, que apoiam minha iniciativa. Este é o momento de tentar”, explica. “Além disso, as pessoas com quem eu convivo têm veia empreendedora, e é muito estimulante aprender com quem venceu, tendo iniciado pequeno”, sentencia.

Jovem quebra paradigmas para investir em um negócio e andar com as próprias pernas

Kruger, 21 anos, projeta a contratação de cinco ou seis funcionários para 2015. ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Aos 18 anos, o então calouro de um curso universitário de Ciências da Computação Bruno Kruger decidiu abandonar a faculdade para trabalhar no que gosta de fazer: desenvolvimento de web sites e identidade visual para empresas. O detalhe é que ele ainda não tinha quase nenhum conhecimento sobre o assunto. Mas usou de proatividade e determinação para aprender os passos que o tornaram o empreendedor que hoje, aos 21 anos, já projeta a contratação de cinco ou seis funcionários para 2015.
“Não acho certo o padrão de cursar uma universidade para somente depois entrar no mercado, é um caminho cujas peças nunca encaixaram na minha cabeça”, comenta Kruger. No início, ele teve que lidar com a resistência dos pais, que hoje estão prestes a largar o emprego para se tornarem sócios do negócio do filho. “Eles começaram a acreditar no meu trabalho e, como estou precisando de investimento na empresa, vão entrar com dinheiro, enquanto toco a produção”, gaba-se o jovem empresário, que tem na cartela de clientes empresas como Vonpar, Grendene, Gerdau e Walmart.
Antes de abrir a Dich Digital, Kruger participou do programa Miniempresa da Junior Achievement, uma associação educativa sem fins lucrativos, mantida pela iniciativa privada, que busca despertar o espírito empreendedor nos jovens em idade escolar. Nesse meio tempo, conheceu um empresário do ramo da área de informática, que o convidou para aprender parte do que sabe encarando o desafio de preencher uma vaga na ocasião. Até que um dia, por acaso, o pai do adolescente se confundiu e afirmou a uma conhecida que o filho construía sites. “Achei uma boa ideia e decidi desenvolver páginas para pequenas empresas”, conta o jovem, que foi buscar conhecimento pesquisando na internet.
O primeiro cliente foi um primo. Depois disso, surgiram outros, a ponto de o faturamento chegar a R$ 7 mil reais, dependendo do período. “Mas é muito relativo, pois há meses em que não ganho nada”, pondera. Mesmo ainda sem receita fixa, o jovem já colhe os frutos do trabalho: neste ano, realizou uma viagem para o Peru, 100% financiada pelos resultados da empresa. “Já é uma conquista”, celebra.

Sebrae-RS dissemina a proatividade entre os estudantes

Alunos do Colégio Cecília Meireles, de Viamão, venderam produtos em uma feira de negócios. COLÉGIO CECÍLIA MEIRELES/DIVULGAÇÃO/JC
Mesmo sob as piores circunstâncias, as pessoas podem criar e encontrar um significado para a existência. Esta é uma das mensagens que a professora de História e Geografia Graziela Queiroz tem repassado para seus alunos do Colégio Cecília Meireles, localizado em Viamão. Mas foi em 2013 que ela pôde aplicar em quatro turmas do primeiro ano do Ensino Médio metodologias nas quais a criatividade, a proatividade e a inovação são o foco. Com roteiro elaborado pelo Sebrae-RS, Graziela e os demais professores da escola puderam ensinar aos estudantes o que é empreendedorismo. Antes, eles próprios passaram por capacitação, para entender como multiplicar o conhecimento em sala de aula. “Primeiro, experimentamos e vivemos a sensação de vencer ou a frustração por alcançar ou não objetivos propostos.” Em junho, os professores começaram a tocar o projeto, em parceria com a entidade, que realizava consultorias permanentes.
Os alunos de quatro turmas fizeram pesquisa de mercado, traçaram metas e realizaram três eventos-pilotos para encontrar erros e acertos, até finalizar o processo com uma feira em novembro, e relatório entregue em dezembro. “Além de prestar consultoria, a coordenadora do Sebrae, Kátia Tanielian, avaliou as empresas criadas pelos alunos”, conta Graziela. Uma segunda etapa foi realizada no final de novembro, com exposição de salgados e doces em tendas de alimentação erguidas no Centro da cidade.
“Foi muito bom, pois eles viram na prática como é ficar ali no dia a dia”, comenta a professora, emendando que os estudantes, nesta altura do processo, fizeram tudo sozinhos: desde montar banca e tabela de preços, até expor mercadorias, atender os clientes e se virar com o troco. No desafio estava o objetivo de oferecer produtos diferentes, mas também observar detalhes como apresentação e atendimento.

Projeto-piloto leva iniciativa a alunos do  Ensino Fundamental do Interior

Em Lajeado, estão sendo contempladas 45 turmas, num total de 500 crianças. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE LAJEADO/DIVULGAÇÃO/JC
O estímulo ao empreendedorismo pode ser iniciado desde os primeiros anos escolares. Pelo menos, essa é a proposta de projeto-piloto Jovem Empreendedor Primeiros Passos (Jepp), implementado neste ano pelo Sebrae-RS em duas cidades do Interior do Estado. A primeira etapa consiste em proporcionar aos professores de redes públicas ou privadas um curso de capacitação para que, na segunda fase do programa, possam incluir nas aulas as primeiras noções da atividade empresarial. A ideia geral da iniciativa é disseminar a cultura empreendedora para estimular que os jovens se vejam como empresários e possam ter decisões mais seguras sobre suas carreiras futuras, explica a gestora de Educação Empreendedora da entidade, Lubianca Neves da Motta. “O conhecimento que a criança adquire no Jepp pode ser usado para reforçar conteúdos de ensino de matemática e português, por exemplo.”
As cidades de Pejuçara (na região do Planalto) e Lajeado (na região do Vale do Taquari) estão sendo as primeiras a proporcionar esse diferencial para as crianças entre o 1º e o 9º ano escolar.  Lubianca explica que o projeto já tem sido aplicado em todo o Brasil, com boa receptividade. “Existem nove cursos, um para cada ano do Ensino Fundamental, que poderão ocorrer dentro das disciplinas curriculares ou em atividades extracurriculares, a critério da escola.” As metodologias são elaboradas pensando na faixa etária dos estudantes. A cada ano, é adotada uma temática diferente, de negócios sustentáveis, na qual é aplicado o conceito de empreendedorismo. “As crianças aprendem a desenvolver uma ideia, montar equipe, comunicar-se e produzir, tudo de forma lúdica.”
Em Lajeado, estão sendo contempladas 45 turmas, em um total de 500 crianças. A professora de Ciências Solange Catto é uma das que tem desenvolvido as atividades no 9º ano da Escola de Ensino Fundamental Porto Novo, em Lajeado, com o tema Novas ideias e grandes negócios. “Os alunos que participam dos encontros mostraram melhor desempenho e autonomia. Assumiram a frente de assuntos, elaboração de trabalhos e ações, até mesmo na hora do recreio”, elogia. Solange considera a iniciativa importante por incentivar a autonomia dos estudantes e fomentar as lideranças e responsabilidades para a vida toda. “Creio que, com a construção e assimilação das ideias do empreendedorismo, os alunos passam a se conhecer um pouco mais, estabelecer seus objetivos e sonhos e correr atrás da concretização de suas metas.”
Em Pejuçara, 10 turmas de estudantes do Ensino Fundamental passam pelo mesmo processo. De acordo com a secretária de Educação do município, Maria de Lourdes Krabbe, 320 crianças de 6 a 14 anos participam da empreitada, que será concluída com a venda de produtos na sede da  Liga de Combate ao Câncer. “Eles estão adorando”, garante. “Acho extremamente importante a atitude empreendedora”, avalia a secretária de Desenvolvimento Tecnológico da  Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Raquel Santos Mauler. “A iniciativa de começar da base curricular é fantástica.”
Raquel chama atenção para o fato que ensinar a empreender é também mostrar uma nova forma de encarar o mundo e de resolver problemas. Ela endossa que “é uma iniciativa muito importante”. “Isso pode melhorar inclusive a qualidade do aprendizado – aplicar métodos de empreendedorismo em sala de aula é uma forma muito motivadora de transmitir o conhecimento.”