Galeteria Menino Deus aposta na tradição de Nova Bréscia

Por

Conhecida como a capital do churrasco no Rio Grande do Sul, a cidade de Nova Bréscia tem um representante em Porto Alegre, na Galeteria e Churrascaria Menino Deus. O município do Vale do Taquari, que já teve 11 mil moradores na década de 1960, conta hoje com pouco mais de três mil habitantes. Entre a leva de migrantes que deixou a cidade nos últimos 60 anos estão churrasqueiros como Celso Kich, proprietário do estabelecimento na avenida José de Alencar.
Filho de um alemão, mas com origens italianas, o bresciense de 63 anos está há 40 anos no ramo de churrascarias, mas sua história com a tradição começou ainda na infância. Ele conta que, quando criança, só comia churrasco uma vez por ano, na quermesse comunitária da igreja. Os espetos eram de pau e a companheira número um da carne era a cuca. A busca por uma vida diferente em Porto Alegre começou em 1975, quando Celso e os amigos de Nova Bréscia tornaram-se sócios na antiga churrascaria Cabana dos Santos, na avenida Assis Brasil, aberta em 1930. “Porto Alegre tinha poucos estabelecimentos no ramo naquela época, e a Cabana dos Santos era elitizada”, conta. Getulio Vargas esteve entre os clientes mais importantes do negócio. Até que os sócios se dividiram e Celso mudou de bairro, abrindo o restaurante na avenida José de Alencar.
O restaurante Menino Deus tornou-se também galeteria quando a tendência do galeto ao primo canto, marinado em temperos e assado na brasa, veio da Serra e chegou a Porto Alegre na década de 1980. Coincidência ou não, Nova Bréscia também estaria entre as maiores produtoras de frango no Estado. “Esse frango jovem não existe fora do Rio Grande do Sul. Naquela época, as galeterias eram a moda”, gaba-se Celso, que sempre procurou exigir os melhores produtos de seus fornecedores para manter a qualidade nos negócios. 
Na década de 1990, a concorrência de galeterias e churrascarias em Porto Alegre já era grande, o que não amedrontava o churrasqueiro. Ele segue a teoria de que, quanto mais concorrência, melhor a qualidade dos serviços. Tudo isso o filho, Rodrigo Kich, aprendeu com o pai desde cedo, aos 12 anos, quando ajudava Celso no caixa. Responsável pelo financeiro e pelas compras do estabelecimento, Rodrigo teve experiências com o pai de como a administrar negócios. “O trabalho vem de família, desde quando eu ajudava meu pai na roça”, lembra Celso, filho de agricultores.
Moradores da zona Norte, pai e filho atravessam a cidade e passam o dia no restaurante, que abre de segunda-feira a domingo, ao meio-dia e à noite. No almoço, é servido bufê de pratos quentes, com opção de rodízio de carnes e galetos. Quando a família percebeu que o movimento decaiu no almoço, pensou no bufê para quem tem pressa ao almoçar. Já no jantar, o esquema funciona com rodízio de massas, galeto e carnes. A tele-entrega é responsável por cerca de 20% dos pedidos.

Relação de confiança com funcionários é chave do negócio

Celso e Rodrigo estão juntos na direção do  estabelecimento. MARCELO G. RIBEIRO/JC
O espaço da galeteria e churrascaria Menino Deus está pronto para receber até 220 pessoas. No entanto, todo o movimento fica sob a responsabilidade de apenas seis funcionários, três na cozinha e três no atendimento. “Quanto menos pessoas, mais confiança há entre a gente”, esclarece Celso.  Não por acaso, a funcionária mais antiga, há 12 anos trabalhando com a família Kich, é de Nova Bréscia.
“Foi meu primeiro emprego em Porto Alegre, por isso é a extensão da minha família”, conta Diane Veroneze, no caixa, com o neto de Celso no colo, Davi Luiz, de um ano e três meses. Quem coordena a cozinha e cria as receitas é a esposa de Celso e mãe de Rodrigo, Marli Kich.
A clientela fiel conta com senhores e senhoras de mais idade. O que mais diverte Celso são as visitas do neto, que, aos domingos, aparece para comer massa e polenta. “O que eu mais gosto é a convivência com as pessoas, o calor humano. Parar de trabalhar? Eu não vou”, projeta.