A Bayadeira se moderniza e continua atraindo clientes fiéis ao Bom Fim

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A cidade é Porto Alegre. O local é uma papelaria que oferece os serviços de gráfica e vende itens variados. O roteiro gira em torno de um homem que faz cópias de cédulas de dinheiro e vê sua vida mudar graças a isso. Assim se desenrola o filme O Homem que Copiava, longa-metragem do diretor gaúcho Jorge Furtado, produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre, cujo cenário foi A Bayadeira. Essa é mais uma de tantas histórias que marcam a trajetória da loja.
Escolhida para locação do longa, a papelaria e gráfica é uma das mais tradicionais da Capital. Situada na avenida Osvaldo Aranha, 1.000, no bairro Bom Fim, demonstra um pouco da sua longevidade e opulência na arquitetura, com o pé-direito alto e amplo espaço.
No entanto, apenas com um passeio pelo interior do salão de 200m2 é que se desvendam os tesouros  dessa sobrevivente. No fundo da sala, repousa uma das antigas máquinas de impressão, corte e encadernação, muito utilizada nos tempos de grande procura por fotocópias e até hoje útil na realização do trabalho do funcionário mais antigo, Jorge Ricardo de Oliveira.
Como quem não precisa provar sua experiência, A Bayadeira parece ter perdido, com o passar dos anos, o interesse em delimitar seu tempo de existência. Formalizada em 1978 pela família Marona, a loja completa 35 anos neste ano, o que já garante à balzaquiana grande prestígio entre o varejo local - mas é possível que tenha mais idade.
Ao adquirirem o ponto há três anos, os atuais proprietários, André Ricardo da Silva e Lilian Rodrigues Becker, depararam-se com evidências de que o estabelecimento existe há mais tempo. “O pessoal sempre fala em pelo menos 80 anos, e encontramos evidências de que de fato A Bayadeira opera desde pelo menos 1938”, afirma André.
Lilian conta que, durante a reforma, foram encontrados muitos objetos antigos, entre eles um cartaz d’A Bayadeira Casa da Sorte com a imagem de um Papai Noel vestido com roupa verde datado de 1938, com o endereço avenida Bom Fim – nome anterior da avenida Osvaldo Aranha, que só recebeu essa titulação em 1930.
Além disso, foi achado um recorte de jornal, também datado de 1938, com a explicação do termo que dá nome ao varejo: bayadeira denomina as mulheres indianas que se dedicam ao canto e dança.  Graças a essas evidências, pode-se acreditar que a empresa exista desde a década de 1930, muito antes da sua formalização.

Mudanças reinventam a loja

Antes funcionando como um bazar, ao ser adquirida pelo casal André Ricardo da Silva e Lilian Rodrigues Becker A Bayadeira teve de sofrer alterações no mix de produtos e serviços. Porém, alguns se mantiveram, como a encadernação, um dos carros-chefe do negócio e que há 32 anos está sob a responsabilidade do funcionário mais antigo, Jorge Ricardo de Oliveira. Tido como um dos patrimônios da livraria, o encadernador é procurado por clientes que vão ao local especialmente pela excelência com que desempenha a atividade.
Empolgado com a valorização do seu trabalho, Oliveira faz questão de exibir as máquinas antigas, com a pintura desgastada pelo tempo, mas que podem realizar o serviço melhor do que muitos instrumentos modernos. As guilhotinas afiadas e a impressora a calor continuam atraindo um público que busca material diferenciado.
A gráfica expressa, com a impressão de cartões de visita, convites, capas e pastas, é hoje o serviço mais procurado. “Mantivemos os computadores que vieram do nosso negócio anterior, a Doctor Cyber, mas talvez com o tempo tenhamos que focar apenas a gráfica, que é o que recebe maior demanda”, explica Silva.
O trabalho familiar desempenhado pelos antigos donos – Jones da Silva Marona e sua esposa, Maria Alice Marona –, mantido pelos atuais proprietários, é outro diferencial do comércio. Por isso, além da excelência nos serviços prestados, o casal fez questão de, ao adquirir o espaço, manter o nome e a identidade visual antigos. “A Bayadeira é conhecida no bairro, tem a simpatia das pessoas, não queríamos perder isso”, destaca Silva.
Os novos proprietários tiveram de se adaptar às tecnologias para atender às necessidades dos clientes e manter o prestígio. Para o futuro, o casal pretende investir em equipamentos necessários para a realização de fotoálbuns. A maior preocupação é a aposentadoria de Jorge. “Provavelmente não encontraremos um jovem qualificado para substituí-lo, teremos de buscar de um profissional experiente, mas com certeza não será alguém tão qualificado”, revela André, receoso com as possíveis reclamações dos clientes.