Empo repaginado não nega as origens

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O Empo nasceu há 30 anos de uma certa ousadia de uma família de varejistas de Porto Alegre. Seus fundadores, proprietários do Empório de Tecidos (que fechou em 2002), trouxeram o modelo de magazines americanos, mais precisamente do conceito Macy’s, o maior de todos, instalado em Times Square e que faz a alegria de turistas brasileiras que vão com cada vez mais frequência a Nova Iorque. A concorrência de outras redes, a ascensão de shopping centers e uma crise de identidade do modelo local impuseram enxugamento da rede no fim da década de 1990. Mas, desde 2012, os herdeiros do Empo investem em novo formato e capricham no atendimento e na oferta de grifes da moda. O desempenho anima os donos, agora, a cogitar a retomada da abertura de filiais, mas desta vez na zona Sul da Capital.
O projeto que deu origem à primeira versão do magazine, aberto nos anos de 1980 na avenida Assis Brasil, 1.894, era oferecer um mix de produtos e marcas de vestuário para todas as idades (preferencialmente público feminino e infantil), acessórios, cama e mesa e tecidos, distribuídos em quatro pisos, com acesso por escada rolante, outra novidade na época. “Era para ser a Macy’s do Sul”, recorda o atual diretor, Eduardo Ryzewski Garcia. Consultorias auxiliaram o pai de Eduardo, José Feijó Garcia, e os tios, os irmãos Paulo e José Carlos Ryzewski, a moldar a loja, colocá-la em operação e ainda com a virtude de ser a primeira com gestão informatizada. O investimento saiu do caixa próprio e as compras tinham de ser pagas à vista.
A empresa abriu em 1983, quando a Assis Brasil e os bairros do entorno davam os primeiros passos na formação do comércio, intensificação da urbanização e abertura de avenidas. O varejo chegou a ter cinco filiais, com dimensões mais acanhadas, bem menores que os 2 mil metros da sede, em Cachoeirinha,  São Leopoldo, Novo Hamburgo e Guaíba. “Até escritório tivemos em São Paulo, onde fazíamos as compras”, recorda Ryzewski, que tinha pouco mais de 20 anos quando o pai e os tios desembarcaram em Manhattan atrás do formato. A pretensão combinava com a trajetória do precursor do Empório de Tecidos, o comerciante polonês Wladislau Ryzewski (avô do atual diretor), que faleceu em 1986. Sua rede especializada em corte de tecidos chegou a ter 53 pontos no Estado. 
“A intenção era se firmar como loja de rua”, traduz o herdeiro. As filiais vieram em 1991, mas não conseguiram reproduzir o mesmo formato da matriz. “Esse fato gerou problema de identidade. Nossa expansão não havia sido bem planejada.” Para estancar dívidas e custos maiores que a receita, em 2011 as filiais foram fechadas. Ryzewski, que assumiu o comando no lugar do pai, cita que a medida impôs uma escolha – manter o modelo (que já não se sustentava mais nos quatro andares do prédio-sede), ou mudar e continuar aberto.
A segunda opção foi inevitável: a nova Empo foi reinaugurada no ano passado, com 1,2 mil metros quadrados, com mais foco em coleções jovens e femininas, sem abandonar a clientela mais velha. São 19 departamentos em um único piso. Os resultados apontam alta de 20% no faturamento em 2013. “Hoje se tem de trabalhar muito. Muitos comércios do entorno não sobreviveram”, previne o pai de Ryzewski. Eduardo Caihan Garcia, filho do diretor, já atua na loja e aplica conceitos de marketing da faculdade de Administração que cursa. “Mudança sempre atrai”, avisa o jovem.

Na carona do consulado norte-americano

Um vizinho com potencial para alavancar o Empo. O diretor Eduardo Rizewski Garcia não considera a Copa do Mundo de 2014 a oportunidade, mas sim o novo vizinho, o consulado americano, que terá sede quase em frente ao magazine. “A Copa é passageira, o consulado não”, traduz o varejista, que se prepara para oferecer atrativos a novos consumidores que virão de diversos pontos do Estado atrás de seus vistos e poderão atravessar a avenida para conhecer a Macy’s do Sul. O entusiasmo com o vizinho fez Ryzewski se recuperar do susto do Bourbon Wallig, inaugurado nas proximidades.
Na estratégia da nova Empo, estão investimentos (R$ 1 milhão até agora em melhorias e repaginação) e novos serviços. A consultora de moda e ex-modelo Isabel Paiva cuida de perto das coleções com grifes cobiçadas por jovens e madames. Além disso, Isabel, que foi a primeira garota propaganda do magazine nos anos de 1980, costuma ser avistada, entre araras e expositores, em conversas animadas com clientes. Ela cuida de todas as produções das vitrines. “Dou dicas de moda, oriento a combinar um sapato com acessórios e roupas”, explica a consultora. “Temos marcas como Levi’s, Onbongo, Vida Bula e Everlast, com preços 30% mais baixos do que nos shopping”, desfila Isabel. A família Empo avisa que as novidades só estão começando.