Martinato é ícone da atividade óptica no Estado

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Filho de imigrantes italianos, Guerino Martinato tem seu nome intimamente ligado ao comércio varejista de joias e relógios do Rio Grande do Sul, mas muito mais à atividade óptica. Em Rio Grande, cidade onde nasceu em 12 de abril de 1894, fundou a Relojoaria Royal, que completou seu primeiro centenário em agosto passado, data comemorada em Caxias do Sul pelos herdeiros, agora responsáveis pela Óptica Martinato.
A saga na cidade serrana se iniciou em 1934, após Guerino retornar da Itália, para onde tinha ido, acompanhado da esposa, Margherita Giacomini, italiana nascida em Saló, aperfeiçoar seus conhecimentos. Com ele vieram, além da esposa, os filhos Gemma Catharina, Aldo José e João Bosco.
A escolha por Caxias tinha propósito específico: sociedade com a Eberle & Kokemborger & Cia para dar origem à empresa Eberle, Martinato & Cia, focada no comércio de artigos de joias, relógios, bijuterias, cristais alemães e perfumes franceses. O capital inicial, dividido em partes iguais pelos sócios, foi de 80 contos de réis. Em fevereiro de 1939, ele adquiriu a parte dos sócios e a empresa ganhou o nome individual de Guerino Martinato.
O direcionamento para a atividade óptica se deu em 1946 a partir de dois movimentos. Aldo, o filho primogênito e já sócio do negócio, realizou estudos no Rio de Janeiro e de lá voltou técnico no ramo. No mesmo ano, foi fabricada a primeira máquina óptica no Brasil.
Ainda estudantes, os irmãos João e Carlos, este nascido em Caxias do Sul, seguiram os passos de Aldo e se agregaram ao negócio, e igualmente buscaram a formação de óptico. A irmã Gemma apenas assessorava, pois optara pelo magistério.
A empresa foi a primeira óptica de Caxias do Sul e região. Até então, as receitas eram enviadas para Porto Alegre para a confecção das lentes. Carlos Martinato, hoje à frente do negócio, recorda que à época todo o trabalho era feito de forma artesanal, do recorte ao acabamento, com uso de máquinas bastante rústicas, mas as únicas disponíveis.
Ele lembra com especial carinho de uma das suas funções. “Aos 14 anos, depois que voltava da escola, pedalava a máquina para fazer girar o rebolo para dar o acabamento nas lentes e armações.” Em 1951, para atender à demanda do mercado, a empresa trocou o endereço inicial para o atual, distantes pouco mais de 300 metros na avenida Júlio de Castilhos.
Com a morte do fundador, na década de 1960, a empresa alterou a denominação para Irmãos Martinato, que permaneceu até 1970, quando Aldo saiu da sociedade para tocar seu próprio negócio: a Indústria Caxiense de Ótica, dedicada à fabricação de máquinas. Em maio de 1980, foi a vez de João Bosco retirar-se para dedicar-se à medicina.
Desde então, Carlos administra a empresa com a esposa Jessy e a filha Vera – o outro filho, Henrique, é médico e colabora com o negócio. Vera também se formou técnica óptica e integra a diretoria da agora Óptica Martinato. Sobre sucessão, o sócio adianta que só ocorrerá depois de sua partida. “Até lá continuarei trabalhando, porque trabalhar é fundamental para uma vida longa e saudável.”
Atualmente, a Óptica Martinato emprega 13 funcionários, a maioria no atendimento aos clientes. De acordo com Vera, o mercado tem exigido permanente qualificação e valorização nesta área diante da diversidade de opções em novos materiais. A empresa também conta com moderno laboratório para a confecção das lentes. Não é intenção ampliar a empresa para outras cidades ou mesmo abrir novas unidades em Caxias do Sul. “Optamos por uma proposta enxuta e local”, afirma Martinato. Quando recorda os fatos históricos, o empresário assinala ter uma única frustração: não ter feito um museu dos equipamentos usados, para mostrar como eram feitos os óculos no passado.

Saga na cidade serrana se iniciou em 1934. MARTINATO/DIVULGAÇÃO/JC

Primeira escola para formação de técnicos

De 1947 a 1949, Aldo Martinato aperfeiçoou seus conhecimentos na França. Quando retornou, viu crescer o uso de máquinas, sem que houvesse material humano capacitado para usá-las. Surgiu, então, a ideia da primeira escola de óptica de que se tem conhecimento no Brasil.
Ela começou com alunos da região Sul e também de países que fazem divisa com o Brasil. Eram cursos de três meses, com dez a 12 alunos, ministrados na própria empresa. “A partir desses cursos, surgiram centenas de novas ópticas em diferentes municípios do Brasil e do exterior”, assinala Carlos Martinato.
O trabalho se estendeu por mais de 20 anos, tendo preparado em torno de 300 técnicos, que se tornavam aptos a exercer a função após prestar exame junto à Secretaria da Saúde. A interrupção ocorreu quando o Senac, habilitado pela Secretaria da Saúde, assumiu o compromisso de dar continuidade à escola, que foi transferida para Porto Alegre.