O comércio foi responsável por 11,9% do PIB brasileiro no ano passado.
Somente no primeiro trimestre de 2011, cresceu 5,5%, aponta o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para além dos números, o
setor é responsável pela geração de riqueza, empregos e desafios de
gestão à perpetuação das empresas.
Diante da dimensão da
atividade, a partir de hoje o Jornal do Comércio, em parceria com a
Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do
Sul (Fecomércio-RS), vai contar parte da história do comércio do gaúcho,
destacando a trajetória de grandes e pequenas varejistas que resistiram
ao tempo.
Os cases foram selecionados por seu valor histórico,
importância econômica e contribuição à consolidação do segmento
varejista. Os critérios de segmentação foram inspirados na divisão que
faz o IBGE para o setor: relojoaria e ótica, supermercados, tecidos,
calçados, vestuário, móveis, drogarias, eletroeletrônicos, informática e
comunicação, entre outros.
O presidente da Fecomércio-RS, Zildo
De Marchi, destaca que o projeto é um reconhecimento às companhias que
atravessaram gerações e são capazes de sintetizar a biografia do
comércio gaúcho. Ele lembra que com um volume substancial de empresas
familiares, há dificuldade em repassar os valores dos fundadores para
que os sucessores deem continuidade aos negócios. Além disso, afirma que
para estarem em pé até hoje, as marcas não tiveram medo de ousar e
investir, culminando no acompanhamento do desempenho tecnológico e nas
demandas de mercado. "São histórias que servem como referência para
empresas que querem chegar a esse estágio", argumenta o dirigente.
O
diretor-presidente do Jornal do Comércio, Mércio Tumelero, compartilha a
opinião do presidente da Fecomércio. Para ele, as companhias que vão
figurar como narradoras da trajetória comercial rio-grandense são
exemplos para os atuais empreendedores. "Resgatando essa história,
procuramos estimular o empreendedorismo, motivar que as pessoas façam
novos empreendimentos através desse exemplo", diz. Tumelero relata que
muitas companhias começaram praticamente do zero e se transformaram em
"verdadeiros impérios".
A economia em si não é a única
influenciada e beneficiada pelo comércio. O professor de marketing da
Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(Ufrgs), Hugo Müller, explica que o comércio é de extrema importância
para o desenvolvimento de uma sociedade. Isso porque as trocas são
responsáveis pela especialização das pessoas. "O comércio, a troca,
permite que tenhamos indivíduos especializados fazendo atividades
necessárias para a sobrevivência de outras pessoas", contextualiza o
professor.
Müller aponta, ainda, que o avanço das sociedades está
relacionado à atividade, lembrando que, antes do advento do comércio,
as comunidades estavam sujeitas à precariedade. "As sociedades que não
tinham o comércio tinham uma vida extremamente precária, praticavam
escambo, por exemplo." As dimensões alcançadas pelas trocas comerciais
na sociedade contemporânea ocasionaram uma série de demandas, com um
papel social crescente no setor.
Autor de uma tese de doutorado
que compara a postura do empresariado gaúcho com o paulista, o professor
da Ufrgs conclui que, no Rio Grande do Sul, os líderes empresariais são
um pouco mais conservadores, mas, ao mesmo tempo, têm um grande poder
de gerar valor sobre suas marcas. "A construção de marca é mais lenta e
cuidadosa, o gaúcho tem uma posição mais conservadora com relação à
gestão dos negócios", frisa.
Conservadorismo que, muitas vezes, leva
empresários e consumidores gaúchos a valorizar o que tem origem na
região. "A gente nota que na região Sul, de forma mais acentuada no Rio
Grande do Sul, há uma tradição de trabalhar suas marcas locais e até
criar algumas barreiras para a entrada de redes de fora", avalia o sócio
sênior da GS&MD Gouvêa de Souza, Luiz Góes. Ele aponta que a
sobrevivência no setor é difícil, e que se perpetuam aqueles que
conseguem manter um equilíbrio entre as negociações da indústria e os
anseios dos clientes.