Soluções criativas ajudam a chegar à última fronteira

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As empresas não têm medido esforços para chegar onde o consumidor está. São inúmeras as estratégias para alcançar o público-alvo, mesmo que ele esteja longe do ponto de venda. Um exemplo disso é a Nestlé Brasil, que lançou um supermercado flutuante para atender às populações ribeirinhas da Amazônia. Batizado de Nestlé Até Você a Bordo, o barco sai do porto de Belém, percorre 18 municípios que compõem a região da Ilha de Marajó até a cidade de Almeirim, já na região do Baixo Amazonas, e retorna à capital. Todo o percurso é feito em torno de 18 dias e a embarcação permanece um dia em cada cidade. A iniciativa atende a um público de cerca de 800 mil pessoas ao mês.
“Trata-se de um projeto alinhado ao nosso conceito de regionalização, baseado nos diferentes perfis dos consumidores”, destaca o presidente da Nestlé Brasil, Ivan Zurita. Estabelecida pela companhia desde 2003, a unidade de Regionalização desenvolve ações, programas e produtos específicos para cada área do País, a fim de atender às diversas necessidades dos clientes.
O projeto foi concebido para chegar a regiões remotas e de baixa renda assim como o sistema de venda porta a porta da empresa, que atualmente conta com mais de 7,5 mil revendedores e 220 microdistribuidores em 15 estados. Com o supermercado flutuante, a Nestlé visa a desenvolver mais um canal de comercialização com comunidades distantes do Norte.
A cada aporte, o barco oferece à população um mercado com diversas linhas de produtos da companhia - mais de 300 itens - e uma estrutura com equipe de vendas, estoque e gerência de operação. O supermercado flutuante, além de atender prioritariamente à população ribeirinha, também é o vínculo entre a empresa, os microdistribuidores e as revendedoras porta a porta que têm o barco como referência do negócio e abastecimento dos artigos.
Para que seja reconhecida durante todo o trajeto, a embarcação possui a identidade visual da Nestlé e conta com acesso para pessoas com necessidades especiais e idosos. Onze pessoas, entre funcionários do supermercado e tripulantes, trabalham diretamente no barco de 27,5 metros de comprimento, que tem três áreas de estoque, além do espaço da loja de 100 metros quadrados.
Através do novo meio de vendas, a companhia busca aumentar as oportunidades de negócio e compartilhar valor com a sociedade, proporcionando renda incremental e inclusão social com a geração de empregos. É também um canal para estreitar o relacionamento com os consumidores das classes C, D e E.
Plataforma estratégica para o crescimento do Grupo Nestlé, o desenvolvimento de ações voltadas aos consumidores de baixa renda – estimado em mais de 2,8 bilhões de pessoas no mundo com rendimentos inferiores a US$ 10,00/dia – vem crescendo com foco na criação de produtos com qualidade nutricional e preços acessíveis. No Brasil, a área obteve crescimento de 27% em 2009, com R$ 1,2 bilhão em vendas.

Companhias de gás de cozinha precisam de agilidade para combater informalidade

Não são apenas novas soluções que conseguem alcançar o cliente até a porta da sua casa. O presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), Sergio Bandeira de Mello, destaca que o gás de cozinha (gás LP) atinge todos os municípios brasileiros. “Considerando o tamanho do País, é uma façanha, uma ginástica”, ressalta o dirigente. Conforme ele, o tempo médio entre o pedido e a entrega dos botijões atualmente é de 17 minutos. A agilidade é fundamental para as revendedoras formais evitarem a perda de mercado para os informais.
Mello atribui esse sucesso logístico a “um fator multiplicador”. Ele explica que 22 distribuidoras atuam no mercado, com mais cerca de 180 centros operativos (unidades engarrafadoras) e em torno de 37 mil revendedoras, que fazem o produto chegar ao consumidor final.
A entrega pode ser feita de várias formas, desde caminhões a triciclos. “Em algumas regiões mais distantes, até mulas são utilizadas”, relata Mello. O presidente do Sindigás ensina que o segredo para não se ter uma logística muito cara, que não comprometa a margem do negócio, é manter os veículos constantemente nas ruas e realizar várias entregas na mesma área. “Quanto menos o caminhão ou outro veículo tiver que voltar para a base, melhor”, afirma Mello.
A revenda repassa aos entregadores os pedidos feitos através da comunicação por celulares ou rádios. O presidente do Sindigás ressalta que, quanto maior a distância e menor a densidade demográfica, mais alto é o impacto no frete. Nesse cenário, as condições adversas encontram-se nas regiões Centro-Oeste e da Amazônia.
Mello relata que a maior parte do Gás LP é comercializada através dos tradicionais botijões de 13 quilos, cerca de 33 milhões são vendidos mensalmente. O presidente do Sindigás acrescenta que as vendas a granel (sistema bobtail) também têm crescido nos últimos anos. Esse serviço é prestado por caminhões-tanques que repassam o produto para os tanques estacionários dos clientes. No entanto, essa transação é viável economicamente para grandes consumidores, como condomínios residenciais ou empresas.

Bancos investem em serviços fluviais

Além da Nestlé, alguns bancos estão chegando aos clientes através dos rios. No final do ano passado, o Bradesco iniciou as operações da sua agência bancária fluvial. O atendimento é feito no barco Voyager III, um estabelecimento flutuante que atende a uma população de aproximadamente 210 mil pessoas.
O trajeto percorrido é de aproximadamente 1,6 mil quilômetros, entre os municípios de Manaus e Tabatinga, no Amazonas. O percurso abrange 11 municípios e cerca de 50 comunidades ribeirinhas. Na agência flutuante é possível abrir contas, consultar saldos, realizar saques, depósitos, transferências e pagamentos, solicitar empréstimos, fazer recarga de celular, obter cartão de crédito, além de contar com um terminal de autoatendimento da rede Bradesco Dia&Noite, conectado via satélite.
O atendimento ao público é realizado dentro da embarcação por uma gerente do Bradesco, que também visita regularmente a população das comunidades situadas às margens do rio Solimões para orientá-los quanto à abertura de conta e utilização de produtos e serviços. A embarcação realiza o percurso pelo rio Solimões - que leva sete dias para ser cumprido - duas vezes por mês.
Iniciativa semelhante será adotada pela Caixa Econômica Federal, que já contratou a empresa Wathernav para operar uma agência-barco até o final do ano. O objetivo da Caixa é chegar às populações ribeirinhas que vivem nos municípios da Bacia Amazônica, para ampliar as opções de prestação de serviços, promover o desenvolvimento socioeconômico e a inclusão bancária.
O projeto-piloto da Caixa atenderá no rio Solimões, no trecho Manaus-Coari. A escolha da região para a prática se deu pela quantidade de municípios e comunidade envolvidos. A área que será beneficiada engloba os municípios de Iranduba, Manaquiri, Manacapuru, Anamã, Beruri, Anori, Codajás e Coari e tem uma população de 253 mil habitantes, segundo estimativa do IBGE. O território somado dos municípios é de 124 mil metros quadrados e é maior que os estados de Pernambuco e Sergipe juntos e 30% maior que Portugal.
“A agência-barco é uma inovação em logística, que agrega serviços integrados a conceitos tecnológicos e de responsabilidade socioambiental ao desenvolvimento da região, servindo às pessoas e às suas comunidades”, afirma o superintendente nacional de Contratação da Caixa, Paulo Roberto dos Santos. A embarcação oferecerá os serviços de abertura de contas, atendimentos sociais (PIS, FGTS, seguro-desemprego, CPF, benefícios sociais), habitação de interesse social, microcrédito produtivo orientado e produtos como Construcard Caixa e crédito por consignação.
A agência-barco também poderá viabilizar o suporte a ações de promoção à saúde, educacionais e de proteção ambiental, em especial das bacias hidrográficas. O novo serviço da Caixa prevê o fornecimento de serviços de navegação por embarcação com capacidade para 65 pessoas, com toda a infraestrutura naval, incluindo energia, iluminação, comunicações, ar-condicionado e serviços de limpeza, copa, cozinha e de tripulação e manutenção do barco. A agência-barco deverá ter serviços e soluções de segurança, vigilância armada, sistema de monitoramento de imagens, controle de acesso e sistema de localização/rastreamento.
A embarcação contará ainda com recursos de acessibilidade para pessoas com necessidades especiais, idosos, gestantes ou com mobilidade reduzida. A agência-barco também terá separação de lixo para reciclagem, separação de lixo seco e hospitalar gerado pelo atendimento médico e odontológico para a população ribeirinha, sistema de tratamento de efluentes de esgoto e casco pintado com tinta não poluente.

O Boticário aposta na combinação de modais logísticos

Para os lugares mais distantes como, por exemplo, a região Norte, as entregas do Boticário levam um pouco mais de tempo para serem realizadas, admite o gerente de Operações Logísticas do Grupo, Raul Paulo Goulart Netto. Para solucionar e reduzir ao máximo esse prazo, é traçada uma rota com uma combinação dos modais rodoviário e fluvial.
Netto salienta que, em um País com dimensões continentais como o Brasil, os prazos de entrega variam bastante conforme a região. “Existem locais que temos a condição de entrega em 24 horas e outros, como por exemplo, no interior do Amazonas, que dependem de transporte multimodal, que pode levar mais dias”, descreve o dirigente.
Segundo ele, o Grupo Boticário trabalha com o conceito de logística integrada e cuida de toda a cadeia de fornecimento, desde o planejamento da demanda até a chegada do produto às mãos dos consumidores. Isso inclui o processo fabril e todos os cuidados envolvidos para elaborar um item de qualidade e transportá-lo para as 2,84 mil lojas da companhia distribuídas pelo País. “Para isso contamos com uma gestão de transporte eficiente, rápida e segura, fatores primodiais para finalização com sucesso de todo este processo”, enfatiza Netto.
No início deste ano, a empresa realizou um importante investimento para aprimorar seu sistema logístico. O Grupo Boticário inaugurou em São Paulo, na cidade de Registro, no Vale do Ribeira, um novo Centro de Distribuição, com 30 mil metros quadrados de área construída e um terreno de 130 mil metros quadrados. O empreendimento otimizou ainda mais o atendimento às lojas do Boticário - maior rede de franquias de cosméticos e perfumaria do mundo - espalhadas pelo País.
Os produtos fabricados em São José dos Pinhais, na grande Curitiba (PR), são enviados diretamente para Registro, onde ficam armazenados. O Centro de Distribuição recebe os pedidos das lojas do Boticário e efetua a separação dos produtos em caixas fechadas ou fracionadas, conforme solicitado pelo franqueado. Os pedidos são enviados às distribuidoras instaladas em diversos estados, que roteirizam o envio das cargas para os municípios. Por meio de parceiros transportadores, os pedidos são entregues nas lojas. A exceção fica por conta dos pontos de venda de São Paulo, que recebem os produtos diretamente de Registro. Por mês, são entregues em média 13 mil pedidos.
O investimento na construção do Centro de Distribuição foi de R$ 85 milhões. O empreendimento está preparado para atender a toda a demanda da rede do Boticário, inclusive em datas de grandes movimentos no varejo, como Natal, Dia das Mães e Dia dos Namorados. A capacidade de expedição do Centro de Distribuição é de 25 mil peças por hora e o espaço para a estocagem comporta até 26 mil pallets - o que representa mais do que o dobro da capacidade antiga. É desse complexo que saem os mais de 600 itens do portfólio (entre perfumes, cremes e maquiagens) do Boticário.