Pilares para a vida

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Levantar paredes, colocar azulejos e edificar lajes não são grandes obstáculos para quem pretende reerguer uma vida inteira. A oportunidade de aprender o ofício da construção civil foi mais do que bem recebida por 16 mulheres que integram um projeto realizado na Penitenciária Feminina Madre Pelletier, na zona Sul de Porto Alegre.
O curso, que começou na primeira quinzena de julho, é resultado de uma parceria firmada entre a Coordenadoria Estadual da Mulher, Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) e Fiergs-Senai e visa a dar uma possibilidade para as internas se profissionalizarem na área de pedreiro-revestidor.
Durante as quatro horas de aula, de segundas a sextas-feiras, as detentas aprendem sobre alvenaria, revestimento de argamassa e placa cerâmica.“É uma excelente oportunidade para elas saírem daqui com uma profissão, pois muitas sempre trabalharam na informalidade”, conta a diretora da Penitenciária Madre Pelletier, Mara Minotto. Segundo ela, o curso no presídio feminino é um projeto-piloto que pode ser estendido para outras unidades prisionais do Estado. Para participar, o requisito mínimo era portar a carteira de identidade, CPF e ter escolaridade mínima da quarta série do Ensino Fundamental.
Mara conta que, depois de terem concluído as aulas, as alunas vão colaborar com a própria penitenciária. “Vamos aproveitar esse conhecimento para contribuir com o presídio. Elas próprias vão construir e ajudar a manter a instituição”, diz a diretora. Além do aprendizado, a iniciativa possibilita que as presas tenham uma redução na pena. “Nós fazemos um cálculo para a remissão das detentas que estão estudando”, explica.
Para as internas, o projeto é visto como uma alternativa de recomeço. V. S., de 34 anos, afirma que iniciativas como esta são importantes para poder ocupar a mente e programar o futuro. Presa por tráfico de crack no ano passado, ela se diz feliz com a oportunidade que está recebendo e ironiza. “Antes eu trabalhava com pedra, e agora, quando sair daqui, vou ser pedreira.” V.S. já aprendeu a fazer tijolos e tirar medidas. Sua colega, A.M.M.P., também de 34 anos, está disposta a sair da prisão e construir uma vida mais digna daqui para frente. “Estou aqui pela segunda vez e, quando sair, quero ter uma rotina normal”, afirma a interna, que pretende trabalhar na área da construção civil quando estiver em liberdade.
O curso é dividido em duas partes. Na primeira etapa, as internas têm aulas teóricas sobre como é a lida nos canteiros de obras e conhecimentos básicos da profissão. Depois é hora de colocarem a mão na massa. Segundo o mestre de obras e instrutor do curso, Xavier Pereira, as alunas estão realmente dispostas a seguir na profissão de pedreira. Ele, que nunca havia trabalhado na área carcerária, conta que as internas estão se esforçando. ”Eu vejo uma enorme dedicação e tenho certeza de que elas vão pegar o jeito”, conta.
Para Pereira, a experiência está sendo muito válida. “Estamos falando de pessoas que muitas vezes não tiveram uma oportunidade na vida e acabaram entrando no mundo da bandidagem”, diz o instrutor.
Presídio prevê outros cursos de qualificação
O curso de pedreiro revestidor é o piloto para uma série de outros cursos profissionalizantes que o Presídio Feminino Madre Pelletier pretende implantar para as presas nos próximos meses. A direção da instituição busca parceria com entidades para trazer aulas como essas de construção civil.
A diretora Mara Minotto confirma que já estão previstos outros projetos como o de pintor de obras, onde as internas aprenderão sobre o preparo da superfície e aplicação de acabamento. “Já temos uma turma formada e assim que acabar este curso a ideia é começar com o de pintor de obras”, salienta.
Para ela, o preso tem dificuldade em se recolocar na sociedade depois de sair do sistema carcerário, e isto é um dos fatores que levam à reincidência. “Dar uma oportunidade é o que elas mais precisam, pois, aqui, elas têm alguma função, mas quando saem, ficam sem emprego”, explica.