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Vonpar investe R$ 150 milhões para promover a expansão
Empresa franqueada da Coca-Cola e distribuidora da Femsa Cerveja Brasil nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a Vonpar completou 60 anos de atuação no mercado em 2008. Quarta maior fabricante do Sistema Coca-Cola no Brasil, com participação de 10% do volume total de vendas no País, a empresa é líder absoluta do mercado de refrigerantes gaúcho e catarinense, com 58,6% de participação. Em 2009, a Vonpar está investido R$ 150 milhões para promover sua expansão nos dois estados em que atua. Nesta entrevista, o presidente do Conselho de Administração da Vonpar, Ricardo Vontobel, fala sobre os resultados da empresa e seus planos para o futuro.
JC Empresas & Negócios - De que forma a Vonpar foi afetada pela recessão do início do ano?
Ricardo Vontobel - Não tivemos grandes impactos, embora o crescimento de vendas não tenha sido o mesmo registrado nos anos anteriores. Desde 2005 vínhamos crescendo, em volume, cerca de 7% ao ano, enquanto em 2009 devemos atingir um índice de 3,5%. Isso tem algum reflexo da questão econômica, mas na verdade o maior impacto que tivemos foi o clima. Tivemos um inverno rigoroso e uma primavera bastante chuvosa, e as vendas de refrigerante, água e cerveja são bastante sensíveis a essa questão climática. Quando há temperatura mais alta e ocorrência de chuvas menor, cria-se uma tendência de gerar um volume maior de negócios.
Empresas & Negócios - Apesar da queda no ritmo de crescimento no volume, ainda assim o faturamento da empresa vem elevando-se. Apenas no terceiro trimestre ele cresceu 6,2%. A que se deve esse aumento?
Vontobel - Em grande parte isso aconteceu em função do aumento da carga tributária que nosso setor sofreu neste ano, e que fomos forçados a repassar aos consumidores, o que repercutiu num faturamento maior. No acumulado, os preços aumentaram em torno de 6% e 7%.
Empresas & Negócios - Até o final deste ano, a Vonpar deverá ter investido R$ 150 milhões em seu plano de expansão. Onde esses recursos estão sendo aplicados?
Vontobel - Principalmente na área de distribuição. Abrimos seis novas bases de apoio logístico - cinco no Rio Grande do Sul e uma em Santa Catarina - e ampliamos nosso centro de distribuição em Joinville (SC). Além disso, expandimos as contratações, especialmente nos setores de serviços, como distribuição, logística e marketing, mesmo durante o período da crise. A partir de setembro de 2008, em um ano aumentou em 8% nosso quadro de funcionários.
Empresas & Negócios - De que forma a aquisição da Mu-Mu, que foi formalizada no início deste mês, enquadra-se nos projetos da empresa?
Vontobel - A Mu-Mu era um negócio de parte da nossa família que não tinha relação com a Vonpar. Ao longo dos últimos 60 anos as empresas trabalharam em separado. Mas houve, por parte dos acionistas da Mu-Mu, o interesse de sair do negócio, e nós tínhamos interesse de incorporá-lo. Nossos clientes e modo de atuação são bastante similares, e a lógica de distribuição também, então é uma empresa que possuía muita sinergia conosco. Graças a essa incorporação vamos operar também em alimentos, como leite, doce de leite e geleias.
Empresas & Negócios - Quais as expectativas da Vonpar para 2010?
Vontobel - Temos vários lançamentos que virão pela frente, principalmente nos setores novos de nosso negócio, como sucos, energéticos e isotônicos. O fator diferencial será o aumento no consumo. Estamos projetando para o ano que vem um crescimento na faixa entre 8% e 10%. O setor de refrigerantes vai continuar crescendo no País, pois novos consumidores estão acessando o consumo em função do melhor poder aquisitivo. Isso vai fomentar o crescimento, e estaremos atentos para ter velocidade para acompanhar essa evolução, através de novas linhas de produção, fábricas, centros de distribuição e estrutura de inteligência da organização.
Empresas & Negócios - A empresa passou por uma reestruturação de sua gestão há dois anos, que culminou com a contratação do executivo Augusto Parada para a presidência executiva. Como avalia esse processo?
Vontobel - Foi muito tranquilo. A empresa não sofreu nenhum processo de descontinuidade, pelo contrário, nos últimos dois anos a Vonpar continuou crescendo. Nós, que tínhamos a gestão antes, éramos acionistas e operadores, hoje estamos olhando mais o aspecto técnico de organização, o suporte necessário para que a empresa dê continuidade aos planos de investimento, para que continue a crescer. Hoje o Parada tem o trabalho de gestão da empresa, de cuidar de seu dia-a-dia, e nós, como acionistas, temos a responsabilidade de olhar o futuro da organização e dar as condições necessárias para que possa se desenvolver.
Empresas & Negócios - De que forma o senhor avalia os processos de sucessão e de governança corporativa nas empresas?
Vontobel - Sou bastante simplista neste ponto. Chega um determinado momento em que uma empresa tem que dar espaço para uma nova gestão, para profissionais capacitados. O acionista tem que cumprir o seu papel e tem que deixar que o executivo, o profissional, opere a empresa. Muitas vezes, ele é confundido com a figura do operador. Acho que até um determinado momento de desenvolvimento de uma companhia isso é muito importante. Mas no momento em que essa empresa já tem valores, uma cultura organizacional bastante fundamentada, é hora de o acionista dar espaço para alguém que possa tocar as operações. E foi isso que nós fizemos. Por 60 anos, tivemos a empresa na mão da família, operando a organização. Chegamos a um nível de maturidade suficiente para que pudéssemos entregar o processo de gestão para pessoas da organização, que cresceram dentro dela e têm todo o conhecimento necessário para dar continuidade a esse processo.
Empresas & Negócios - Como está sendo sua adaptação à presidência do Conselho de Administração?
Vontobel - Sem problemas, porque mesmo o meu tempo já era dividido antes disso. Eu era presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Coca-Cola, sou membro do conselho de administração da Del Valle e já dedicava muito do meu tempo para representação institucional, o que, de certa forma, acabava comprometendo o processo do dia-a-dia da empresa, ou não dedicando tempo necessário para tudo o que é fundamental para esse processo de gestão. Então foi muito fácil essa adaptação, estou fazendo aquilo que sempre fiz, e com mais tempo livre para pensar em planos de desenvolvimento da empresa. Posso olhar mais a médio e longo prazo, buscando outras oportunidades de negócio para a Vonpar.
Empresas & Negócios - A empresa ainda está celebrando seus 60 anos de fundação completados em 2008. Neste mês foi lançado um livro que conta a história da Vonpar, contextualizada com a evolução industrial do Brasil. Tendo em vista o histórico da empresa, que lições o senhor acredita que a Vonpar pode passar aos empreendedores gaúchos?
Vontobel - O exemplo é dos nossos valores, que eu e meu irmão (Rodrigo Vontobel) aprendemos com meu pai (João Jacob, fundador da empresa). Que o negócio, a empresa, tem precedência sobre as pessoas. Nós não vivemos da companhia, mas para ela. Vivendo para a empresa conseguimos viver da empresa. As companhias são perenes, devem ter um ciclo de vida longo e devem sofrer um processo contínuo de investimento e oxigenação. Se acharmos que não tem mais a ser feito, e que o que já conquistamos no passado é o suficiente, então se começa a perder a empresa. Então é importante a inquietação. Nunca estamos satisfeitos com o estágio atual, com nosso desempenho, sempre buscamos algo diferente e melhor, e isso é viver para a empresa. Não se acomodar, sempre dar espaço a novas oportunidades, novos desafios, e à melhoria contínua de processos de gestão. Essa é nossa maneira de ver a empresa e negócios, e se confunde um pouco com nossa visão pessoal ou familiar em relação à empresa. Ela é mais importante que o Ricardo, que o Rodrigo, que o seu João.