Associados da Languiru devem aprovar parceria com chineses

Joint venture com controle chinês é considerada a saída para a crise

Por Claudio Medaglia

Encontro com produtores de leite, grãos e criadores de gado de corte encerrou ciclo de reuniões com associados na manhã desta terça-feira, dia 28 de março
Os associados da Cooperativa Languiru deverão aprovar nesta quinta-feira (30), em assembleia geral ordinária, o avanço das negociações entre a empresa e o grupo chinês ITG Tianjiao para a criação de uma joint venture. O negócio é considerado a salvação para manter a viabilidade das atividades da cooperativa, com dívida líquida de R$ 780 milhões junto ao sistema financeiro e outros R$ 200 milhões com fornecedores de proteína animal, insumos e prestadores de serviços.
O aval dos cooperados será a materialização do esforço da diretoria,  

A COOPERTIVA LANGUIRU

-Fundada há 67 anos, a cooperativa já teve mais de 6 mil associados
-Atualmente, conta com 5,7 mil membros no quadro social
-Atua nos segmentos de aves, suínos, bovinos, leite, ração animal, supermercados, postos de combustíveis e lojas com produtos de sua própria linha
-O patrimônio imobilizado é estimado em R$ 1,2 bilhão
-O faturamento em 2022 foi de R$ 2,7 bilhões
-A dívida líquida é de R$ 780 milhões com agentes financeiros e outros R$ 200 milhões com fornecedores e prestadores de serviços
- As dificuldades financeiras começaram no início da década, quando os preços das commodities para produção de proteína animal dispararam
- Aliado a isso, as altas taxas bancárias para cobrir financiamentos contraídos para modernização das plantas industriais comprometeram o caixa
- A queda nas exportações foi outro fator a pesar contra os negócios da Languiru
- A empresa iniciou um processo de reestruturação no ano passado para evitar o fim das atividades
- No início de março, um acordo foi firmado com a Lactalis do Brasil para fomentar a produção de leite gaúcha. Conforme o contrato, toda a produção leiteira da cooperativa em um período de cinco anos será entregue à Lactalis, que garantirá a remuneração a produtores e transportadores, além de assistência técnica com foco no aumento da produtividade.
- Na semana passada, a Languiru e o conglomerado chinês deram os primeiros passos para a parceria que pode ser definida a partir da assembleia de associados

Crise da cooperativa gera impacto na região do Vale do Taquari

A crise na Languiru preocupa a região. Com 5,7 mil associados, mais de 50 mil pessoas seriam afetadas por um eventual fechamento da empresa. Afinal, as operações da Languiru têm impacto sobre a economia de municípios como Teutônia, Westfália, Poço das Antas e Estrela, por exemplo. Prefeitos têm manifestado receio quanto ao futuro da cooperativa e torcem por uma solução para o caso.
A situação se complicou para a empresa na virada da década, quando importante componente na formulação de rações, o milho disparou no mercado doméstico. Enquanto entre janeiro e março de 2020 o preço médio real da saca de 60 quilos de milho custava R$ 70,02. Em maio de 2021, o preço já ultrapassava os R$ 100,00.
O cenário inviabilizou a produção de frangos e levou na esteira a suinocultura. Naquele período, a Languiru reduziu um turno de abates. A perda por quilo de frango chegava a R$ 2,00. E agregado a isso ainda pesavam os altos investimentos feitos poucos anos antes. Com um aumento de 43,3% no custo de produção de frangos e um repasse pelas empresas de apenas 26,6% desse valor, a defasagem comprometeu o negócio.

Dirceu Bayer vê ambiente mais promissor

Pressionado por um ambiente de discussões no âmbito da diretoria, desconfiança dos associados e dificuldades de caixa, o presidente da Languiru Dirceu Bayer, no comando da empresa desde 2002, respirou aliviado ontem, ao final do segundo encontro com cooperados. Ele acredita piamente que o quadro desconfortável foi compreendido, bem como os seus movimentos em busca da solução que surgiu com os asiáticos.
Jornal do Comércio - O senhor acredita na aprovação da parceria pela assembleia?
Dirceu Bayer - Acredito plenamente. Temos sido muito transparentes com os associados. Eles entenderam que esse é o caminho que temos a trilhar para seguir operando. Não temos mais como sobreviver sozinhos.
JC - O senhor disse que os resultados contábeis melhoraram nos último ano. Mas ainda assim é preciso entregar o controle das operações?
Bayer - Sim. No ritmo em que estávamos, chegaríamos a um prejuízo de R$ 500 milhões ao final de 2023. A oportunidade surgiu agora. Vai nos dar fluxo e novos ares. A cooperativa estará totalmente viabilizada novamente.
JC - O que tornou a cooperativa atraente para os chineses?
Bayer - Fizemos investimentos importantes que, embora tenham comprometido nossas contas, fizeram de nosso patrimônio, moderno, um ativo muito forte. Vestimos a noiva para que ela se tornasse atrativa.