Seca deve causar maior impacto na economia gaúcha no segundo trimestre

Perdas em grãos e indústria em ritmo lento devem afetar economia gaúcha

Por Diego Nuñez

No 2º trimestre é contabilizada a maior parcela da produção de soja
O impacto da estiagem na agropecuária gaúcha deve ser observado com ainda mais força nos indicadores do segundo trimestre de 2022. Somado à continuidade de questões como os efeitos da guerra na Ucrânia e da pandemia de Covid-19, além da alta na inflação e a perspectiva de baixo crescimento econômico no País, são fatores que colaboram para a manutenção do cenário desafiador para a economia do Rio Grande do Sul nos próximos meses.
Na indústria de transformação, a mais significativa da economia do Estado, a tendência é para a continuidade do ritmo lento de crescimento nos próximos meses, reflexo das perdas na agropecuária e do baixo dinamismo da economia nacional e internacional. O Comércio, principal segmento do setor de Serviços, também deve ser afetado pelas mesmas questões apontadas para a indústria de transformação.
"É sabido que, no interior do Estado principalmente, o desempenho das vendas do comércio está relacionado com o comportamento do setor primário. Com a estiagem, o impacto no comércio será negativo e as questões macroeconômicas também terão efeito negativo, principalmente as ligadas ao aumento de preços e ao encarecimento do crédito via elevação dos juros", destaca a pesquisadora Vanessa Sulzbach, chefe da Divisão de Análise Econômica do DEE/SPGG, responsável pela elaboração do PIB.
Após crescer 10,4% no acumulado de 2021, a economia gaúcha iniciou o ano de 2022 com queda. Na comparação do 1° trimestre deste ano com o mesmo período do ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado apresentou retração de 4,7%. Houve queda também na comparação ao trimestre imediatamente anterior, ou seja os três últimos meses de 2021: -3,8%.
O setor que mais contribuiu para essa redução foi a agropecuária, que apresentou queda de 41,1% no período, consequência da forte estiagem que devastou lavouras no território gaúcho no último verão.
Após o anúncio de queda no Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul no primeiro trimestre, há previsão de uma redução ainda mais severa no segundo trimestre, uma vez que neste período é contabilizada a maior parcela da produção de soja no cálculo, cultura que sofreu queda de 53,5% na produção em 2022.
A indústria caiu 1,9%, a partir dos desempenhos negativos da indústria de transformação (-3,7%) e de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (-7,6%), atividade igualmente afetada pela falta de chuvas, que reduziu a produção de energia nas usinas hidroelétricas. Os serviços, impulsionados pela recuperação das atividades que mais foram afetadas pela pandemia da Covid-19, cresceram 3,7% no período.
O ritmo lento de atividade tende a permanecer nos próximos meses, dado o baixo dinamismo da economia nacional e internacional. Atividades ligadas à agropecuária poderão sofrer os impactos da retração desse setor. Todas essas questões acabam por repercutir no empresário industrial gaúcho, cujo índice de confiança vem reduzindo nos últimos meses. Em relação ao pico mais recente (agosto de 2021), o índice atual está 5,8% abaixo daquele nível.
As análises contidas no Boletim de Conjuntura publicado nesta sexta-feira (1º) indicam a confirmação das perspectivas divulgadas em abril, que apontavam para um potencial efeito negativo nas atividades ligadas ao campo e também em segmentos da indústria e dos serviços.
O boletim foi elaborado pelos pesquisadores Fernando Cruz, Martinho Lazzari, Tomás Torezani e Vanessa Sulzbach, do Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), o documento analisa questões da conjuntura internacional, brasileira e do Estado e aponta perspectivas.