Bolsonaro segura adesão do RS em plano de socorro e favorece Onyx

Ex-ministro do governo Bolsonaro e candidato ao Palácio Piratini, Onyx atua no Planalto para que Bolsonaro não faça a homologação do plano

Por Agência Estado

Brazilian President Jair Bolsonaro (R) and his Chief of Staff Onyx Lorenzoni talk during the appointment ceremony of the new Education Minister Abraham Weintraub at Planalto Palace in Brasilia, on April 9, 2019. - Weintraub replaces Ricardo Velez, who was fired after three months of management marked by controversy and setbacks. (Photo by EVARISTO SA / AFP) Caption
A disputa política pelo governo do Rio Grande do Sul nas eleições deste ano travou a homologação pelo presidente Jair Bolsonaro do plano de recuperação das contas apresentado pelo governo gaúcho e aprovado pelo Ministério da Economia após anos de renegociação da dívida com a União.
Ex-ministro do governo Bolsonaro e candidato ao Palácio Piratini, o deputado federal Onyx Lorenzoni (PL) atua no Planalto para que Bolsonaro não faça a homologação do plano, segundo fontes do governo.
Com aval do Tesouro Nacional, o plano foi enviado há três semanas pelo Ministério da Economia ao presidente. O despacho foi publicado no Diário Oficial da União no dia 24 de maio. Mas, sem justificativa técnica, Bolsonaro não homologou até agora o documento, peça central do processo de adesão do Rio Grande do Sul ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). Esse é um programa do governo federal desenhado para salvar as finanças de Estados altamente endividados, como Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Goiás e Minas Gerais.
Em entrevista publicada nas redes sociais, Onyx critica as regras do programa e alega que a adesão ao regime tornará o próximo governador sem condições, na prática, de governar.
O ex-ministro também coloca em xeque os valores da dívida apurados pelo governo do qual fez parte até pouco tempo e comandou quatro pastas: Casa Civil, Cidadania, Secretaria-Geral da Presidência e, por último, Ministério do Trabalho e Previdência. Para ele, a dívida está superestimada em alguns bilhões, além de o acordo acabar com a autonomia do Estado.
IRRESPONSÁVEL - "O governador eleito não será governador com plenos poderes e autonomia", disse Onyx numa das postagens em que acusa o ex-governador Eduardo Leite (PSDB), seu adversário nas eleições, de ser irresponsável ao ter renunciado às ações na Justiça para aderir ao programa.
A desistência das ações na Justiça, porém, é uma exigência do Tesouro para qualquer tipo de renegociação de dívidas com Estados e municípios. Onyx disse que Leite foi irresponsável por ter entrado no que chamou de pior e mais grave regime com grandes restrições.
O elevado grau de endividamento e a baixa capacidade de pagamento com suas receitas, no entanto, não habilitavam o Estado a outras modalidades de renegociação. Onyx também conta com o ganho de R$ 14 bilhões que deixaram de ser pagos pelo Estado desde 2017, mas com base em liminar do Supremo Tribunal Federal concedida para dar fôlego até a renegociação.
Criticado por Onyx, Leite disse que promoveu reformas, privatizações, equilibrou as contas e destacou que o encaminhamento do problema da dívida, que é estrutural, será importante para o Estado e para a União. Ele ressaltou que, na homologação de Goiás ao programa, foram dez dias entre o parecer e a assinatura, que se deu em 24 de dezembro, véspera de Natal. "Não houve problema de agenda para a celebração daquele acordo que foi referido, pelo próprio presidente, como algo que daria meios para atender ao interesse da população como um todo", ponderou o ex-governador.
BOLA DE NEVE - Quanto maior o atraso, maior a perda para o Estado, apontam os técnicos. Para ser efetivado no programa, o plano de recuperação precisa ser homologado. A lei não dá prazo para manifestação do presidente da República.
Ocorre que o plano foi elaborado considerando seu início de vigência em 1.° de julho de 2022, ou seja, o Estado se programou com essa data combinada com o Ministério da Economia. Sem plano homologado não há ressalvas, ou seja, o Estado será penalizado. Entre as penalidades está o aumento de 20% na parcela de pagamento da dívida. Ou seja, em 2024, quando o Estado voltar a pagar a dívida, em vez de 10%, vai começar com 30%, o que pode inviabilizar investimentos e comprometer a folha.
Além disso, se o plano não for homologado, o Rio Grande do Sul permanece em adesão por 12 meses, ou seja, até janeiro. Depois, precisará pagar dívida bilionária com a União. A dívida consolidada hoje é de cerca de R$ 98 bilhões, dos quais 78% com a União. Como o Estado já desistiu das ações judiciais para entrar no programa, o próximo governador precisará pagar as prestações atrasadas.
Segundo a Secretaria de Fazenda do Estado, enquanto o regime não é homologado, o pagamento da dívida com a União continua suspenso, e o governo segue sujeito a vedações, por exemplo, de restrições para a realização de despesas específicas (como as de pessoal). "O RRF é peça fundamental para que o Estado consolide seu ajuste fiscal", disse a secretaria em nota.
Segundo o governo estadual, embora tenha evoluído de um desequilíbrio fiscal dramático, no início de 2019, para uma transformação nos indicadores fiscais ao fim de 2021, o Estado ainda não consegue arcar integralmente com o serviço da dívida nem cumprir a determinação constitucional de quitar precatórios até 2029, sem gerar atrasos em outras obrigações.
Procurado, o Ministério da Economia transferiu a resposta para a assessoria de comunicação de Bolsonaro, que repassou para a Secretaria-Geral da Presidência, que não respondeu. A assessoria de Onyx disse que ele estava em viagem, mas que nas redes sociais dele havia "posição sobre tudo". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
RESPOSTA DO GOVERNO DO RS - Questionado sobre o prazo para homologação do RRF, o governo do Rio Grande do Sul afirmou, em nota, que "não há um prazo definido para a Presidência da República homologar o Regime de Recuperação Fiscal. O Governo do RS tem solicitado uma data para a conclusão e continua aguardando confiante a homologação final do Plano de Recuperação Fiscal".
Sobre a dívida do Estado com a União, o governo afirmou que "enquanto o Regime não é homologado, o pagamento da dívida do Estado com a União continua suspenso e o RS segue sujeito a vedações, por exemplo, restrições para a realização de despesas específicas (como as de pessoal). Uma vez homologado o Regime, essas restrições podem ser excepcionalizadas, desde que incluídas no Plano de Recuperação Fiscal, tal como cumprido pelo RS".
Na nota, o governo também enfatizou a importância do programa para o ajuste das dívidas do Estado. "O Regime é peça fundamental para que o RS consolide seu ajuste fiscal: embora tenha evoluído de um desequilíbrio fiscal dramático, no início de 2019, para uma transformação nos indicadores fiscais ao fim de 2021, o Estado ainda não consegue arcar integralmente com o serviço da dívida nem cumprir a determinação constitucional de quitar precatórios até 2029, sem gerar novos atrasos em outras obrigações", afirmou à reportagem do Jornal do Comércio