Congresso mantém veto a orçamento impositivo

Após acordo, Legislativo terá autonomia sobre metade dos recursos

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O Congresso Nacional manteve, nesta terça-feira (3), os vetos de Jair Bolsonaro (sem partido) ao orçamento impositivo, que devolve ao Executivo o controle de R$ 30,1 bilhões. Na Câmara, 398 deputados votaram pela manutenção do veto, enquanto dois foram contrários. Com a aprovação, o Senado não precisou votar, porque, para derrubar um veto, é necessário que a maioria dos parlamentares das duas casas votem pela derrubada.
Bolsonaro brecou um dispositivo que dava ao relator do Orçamento de 2020, Domingos Neto (PSD-CE), a palavra final sobre o destino de todo esse dinheiro. O veto do presidente foi mantido após uma guerra pelo controle desses recursos e de um acordo construído com o Planalto que dividiu praticamente ao meio a gestão do montante.
Para garantir a manutenção do veto, o Planalto mandou ao Congresso, na terça-feira, três projetos que regulamentam o orçamento impositivo e dão aos parlamentares a palavra final sobre R$ 15 bilhões. Pelo novo trato fechado, dos R$ 15 bilhões que ficarão nas mãos do Congresso, a Câmara controlaria R$ 10 bilhões e o Senado ficaria com os R$ 5 bilhões restantes. Os textos foram encaminhados à Comissão Mista do Orçamento e devem voltar à pauta do Congresso na semana que vem.
A votação do veto ocorreu após o presidente Jair Bolsonaro ceder e aceitar dividir com o Parlamento o controle do bolo de recursos. A manobra foi vista como uma forma de o governo evitar retaliações futuras em propostas de interesse do governo, como as reformas tributária e administrativa. Apesar do entendimento firmado entre a cúpula do Congresso e o governo para a aprovação do veto, uma ala de parlamentares expressou descontentamento com os textos enviados por Bolsonaro e indicou que iria obstruir a votação dos projetos.
A incerteza levou líderes dos partidos do chamado Centrão da Câmara - formado por DEM, PP, PL, REP, SD e MDB - a ameaçarem obstruir e impedir a análise dos vetos. Os parlamentares receavam manter a decisão de Bolsonaro, mas não conseguir aprovar os projetos do Executivo na semana que vem por causa da resistência do Senado.
Ao longo do dia, líderes conversaram com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que garantiu a eles ter os votos necessários para aprovar os textos na casa. Ele teria conseguido os apoios mínimos com o compromisso dos líderes do MDB e do PSD de que 100% das bancadas, que juntas somam 24 senadores, votarão a favor dos projetos.
A palavra final foi dada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) que avalizou a promessa de Alcolumbre. Apesar disso, a votação das propostas do governo na semana que vem deverá ser tumultuada.
Além de boa parte dos senadores ser contra a aprovação dos textos que dão ao Congresso o controle de R$ 15 bilhões do orçamento, deputados da base de Bolsonaro também se opõem à votação. "É ruim para o governo ceder. Com o veto mantido, o relator perde os superpoderes criados dentro da Comissão Mista do Orçamento", disse o deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP).

Acerto teve repercussão negativa nas redes sociais

Nas redes, parte de base do presidente Jair Bolsonaro passou a pressionar para que os parlamentares votem contra os projetos de lei do governo. O Vem Pra Rua, que convoca a população para as manifestações do dia 15, passou a mobilizar sua rede contra os textos.
Desde que o acordo foi divulgado na terça-feira, o presidente passou a ser criticado por apoiadores, que passaram a disparar mensagens contra o acerto. Uma das imagens que circulou trazia a frase "Inacreditável - Bolsonaro dá uma banana para os movimentos de rua e faz acordo com o Congresso".
Numa postagem em que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), anunciou o acordo, apoiadores do presidente também repudiaram a negociação. Em resposta à pressão de parte de sua base, Bolsonaro negou ter feito qualquer negociação com o Congresso. "A proposta orçamentária original do governo foi 100% mantida", escreveu em uma rede social.
Os projetos encaminhados à Comissão Mista de Orçamento mantêm nas mãos dos parlamentares os R$ 15 bilhões realocados do orçamento e devolve ao Planalto a execução dos outros R$ 15 bilhões.
Os textos dão ao governo autonomia para contingenciar o valor nas mãos do Parlamento, conforme a necessidade fiscal. Na prática, porém, o Executivo pode controlar o ritmo de liberação dos recursos, mas não alterar sua destinação, como transferir para outros ministérios. Esse ponto é uma das principais mudanças em relação ao trato que havia sido construído com o Congresso antes do Carnaval e que foi duramente criticado por auxiliares de Bolsonaro.

Distribuição dos valores

Câmara dos
Deputados
R$ 10 bi