Reforma tributária deve ativar economia, diz Moreira

Conforme economista, embora benéfico, não terá um efeito abrangente no País

Por Marcus Meneghetti

Eduardo Moreira, ex-banqueiro, empresário e escritor
O economista Eduardo Moreira avalia que a reforma tributária pode reativar rapidamente a economia brasileira, desde que aumente a tributação sobre a renda e diminua a incidência sobre o consumo. Contudo, avalia que as reformas que tramitam no Congresso Nacional não promovem essas medidas, apenas simplificam o sistema tributário brasileiro. Conforme Moreira, isso é benéfico, mas não o suficiente para ter um efeito abrangente na economia.
"Precisamos reequilibrar a tributação. Podemos fazer isso mantendo a arrecadação. Só que, em vez de cobrar dos pobres, devemos cobrar mais dos ricos. Se fizermos isso, imediatamente ativamos a economia", disse.
Entrevistas com personalidades políticas são importantes para você?
JC - O sistema atual corrige a desigualdade social...
Moreira - Não só isso. O dinheiro pago em benefício previdenciário, destinado a 30 milhões de brasileiros, incluindo só os beneficiários do RGPS (Regime Geral de Previdência Social), volta totalmente para o mercado nacional. Veja um exemplo bem comum: todos os mercadinhos funcionam na base da caderneta; o cliente vai anotando o que consome para pagar no início do mês; quando chega o dia de pagamento da aposentadoria, esses estabelecimentos recebem a quitação de várias cadernetas, porque muitos dos clientes são aposentados. Ou seja, o dinheiro que o governo pagou na Previdência vai, ainda durante o mês, para o mercadinho. Só que, quando foi para o mercadinho, quase metade da aposentadoria já voltou para o governo através dos impostos pagos pelo mercadinho. Quanto à metade que ficou com o comerciante, ele vai pegar parte daquele dinheiro e contratar um caminhão para trazer mais mercadorias do armazém central. Aí, parte do dinheiro vai para a empresa de caminhão, que também paga impostos, consome gasolina e outros produtos. Então o dinheiro das aposentadorias, além de aquecer a economia, volta inteiro para o Estado e o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Afinal, o mercadinho, a empresa de transporte e o posto de gasolina contratam funcionários, que contribuem para o sistema previdenciário. É um círculo virtuoso.
JC - O governo chegou a estimar uma economia de quase R$ 1 trilhão com a reforma da Previdência, ao longo de 10 anos...
Moreira - Temos que fazer duas perguntas sobre isso. A primeira pergunta é: de onde virá esse dinheiro? Virá majoritariamente das pessoas que recebem abono salarial e das que fazem parte do RGPS. Nenhuma dessas pessoas ganha mais que o teto do INSS, que está em R$ 5.839,45. E, entre os beneficiários do INSS, mais de 80% ganha até dois salários-mínimos. Dois. Então mais de 80% do dinheiro que está sendo economizado está vindo dessas pessoas. A segunda pergunta importante sobre isso é: para onde está indo esse dinheiro?
JC - Para onde vai?
Moreira - Essa é a grande questão que o governo ainda não respondeu claramente para a sociedade. Mas dá para ter uma noção de onde o dinheiro não vai ser investido. Afinal, o governo tem falado em desvincular as receitas e despesas da União. Hoje em dia, a Constituição determina que parte dos impostos deve ir para a educação e a saúde. Ou seja, um percentual do dinheiro que o Estado tira de todo mundo, através dos tributos, deve ser redistribuído para essas áreas. O governo quer acabar com a obrigatoriedade de destinar recursos para saúde e educação, para poder gastar no que ele bem entender.

Perfil

Eduardo Álvares Moreira, nascido no Rio de Janeiro em 11 de fevereiro de 1976, estudou Engenharia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Durante a graduação, ganhou uma bolsa por desempenho acadêmico para estudar na Universidade da Califórnia (EUA). Durante a temporada nos Estados Unidos, em 1996 e 1997, cursou matérias de Economia, o que lhe rendeu um Maine Certification. De volta ao Brasil ainda em 1997, concluiu o curso de Engenharia na PUC-Rio em 1999. Em 2009, junto a outros sócios, fundou a empresa Brasil Plural e criou a Genial investimentos. Em 2013, foi eleito pela revista Época Negócios um dos 40 brasileiros de maior sucesso com menos de 40 anos. Em 2016, foi eleito pela revista Investidor Institucional como um dos três melhores economistas do Brasil. Moreira também foi colunista da revista Exame. Em 2012, foi o primeiro brasileiro a ser condecorado pela Rainha Elizabeth II em Londres, Inglaterra.