Novas mensagens revelam busca de provas contra Gilmar Mendes

Deltan Dallagnol sugeriu acionar investigadores na Suíça para reunir indícios

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O ministro mandou arquivar o pedido por ver 'flagrante inadmissibilidade'
Procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba discutiram coletar dados e informações sobre Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), para tentar afastá-lo de processos e até pedir seu impeachment, segundo publicação do jornal El País com base em mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil.
De acordo com os diálogos divulgados, integrantes da operação, incluindo o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa, debateram apurar decisões e acórdãos do ministro para embasar a ofensiva e planejaram acionar investigadores na Suíça para tentar reunir indícios contra Gilmar Mendes. O objetivo era rastrear um possível elo entre ele e Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, acusado de ser operador do PSDB e que está preso em Curitiba após uma das ações da Lava Jato.
Na semana passada, reportagem publicada pela Folha de S.Paulo e pelo Intercept com base nas mensagens obtidas pelo site já haviam apontado que Dallagnol incentivou colegas em Brasília e Curitiba a investigar Dias Toffoli sigilosamente em 2016, em uma época em que o atual presidente do Supremo começava a ser visto pela Lava Jato como um adversário disposto a frear seu avanço. As mensagens apontavam que ele buscou informações sobre as finanças pessoais de Toffoli e sua mulher, e evidências que os ligassem a empreiteiras envolvidas com a corrupção na Petrobras.
Segundo as mensagens divulgadas nesta terça-feira (6), a suspeita dos procuradores era a de que Gilmar Mendes, que já havia concedido duas ordens de soltura em favor de Paulo Preto, aparecesse como beneficiário de contas e cartões que o operador mantinha na Suíça, um material que já estava sob análise dos investigadores europeus. 
Os diálogos apontam que a discussão começou porque Dallagnol disse saber de "um boato" vindo da força-tarefa de São Paulo, de que parte do dinheiro mantido por Paulo Preto em contas no exterior pertenceria ao magistrado.
Ministros da Suprema Corte não podem ser investigados por procuradores da primeira instância, como Dallagnol e os demais integrantes da força-tarefa. A Constituição diz que eles só podem ser investigados com autorização do próprio tribunal, onde quem atua em nome do Ministério Público Federal (MPF) é o procurador-geral da República.
A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba diz que não reconhece as mensagens divulgadas desde junho e atribuídas a seus integrantes. Ela repetiu ao El País que o "material é oriundo de crime cibernético e tem sido usado editado ou fora de contexto, para embasar acusações e distorções que não correspondem à realidade".
 

Ministro reage e pede providências à Procuradoria

Citado em novas conversas de procuradores da Lava Jato reveladas nesta terça-feira (6), o ministro Gilmar Mendes reagiu à divulgação das mensagens. "Eu acho que está na hora de a Procuradoria tomar providências em relação a isso. Tudo indica, à medida que os fatos vão sendo revelados, que nós tínhamos uma organização criminosa para investigar. Portanto, eles (procuradores) partem de ilações absolutamente irresponsáveis", disse o magistrado.
O ministro, no entanto, não deixou claro se era uma cobrança à procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
Ao chegar para a sessão da Segunda Turma do STF na tarde desta terça-feira, o ministro comentou a reportagem ao ser questionado por jornalistas. "A mim me parece que isso é revelação de um quadro de desmando completo. Revela a gestão da PGR (Procuradoria-Geral da República), e certamente vamos ter ainda surpresas muito mais desagradáveis. Temos que reconhecer que as organizações Tabajara estavam comandando também esse grupo (de investigadores)", disse.
Desde antes do vazamento das mensagens, Gilmar Mendes tem sido um contumaz crítico da forma de atuação do Ministério Público Federal (MPF). O ministro voltou a dizer que o País está diante da maior crise em seu aparato judicial desde a redemocratização, o que tem comprometido o Ministério Público e a Justiça Federal.
Perguntado sobre se as revelações contaminam a gestão de Raquel Dodge, o ministro respondeu que não, mas acrescentou: "Eu acho que há um grave problema de gestão (no MPF), sem dúvida nenhuma, que isso está revelando".