Lucro dos empresários pode erradicar pobreza, afirma empresário e ex-deputado Luis Roberto Ponte

Aos 85 anos, o ex-ministro defende a tese de que o setor privado, e não o Estado, é capaz de erradicar a miséria no País

Por Lívia Araújo

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Empresário do setor da construção civil, o ex-deputado federal constituinte Luis Roberto Ponte (MDB) não usa eufemismos para defender seus pontos de vista. Aos 85 anos, o ex-ministro defende, por exemplo, a tese de que o setor privado, e não o Estado, é capaz de erradicar a miséria no País. O emedebista sustenta que "quem pode acabar com a miséria é só quem gera a riqueza" e critica a concepção de "Estado provedor".
Segundo Ponte, é por meio do lucro oriundo da produção da iniciativa privada que será possível desenvolver o País e combater a pobreza. "O lucro é que vira fábrica, terra plantada, shopping center, cinema", exemplifica.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Ponte também reclama dos entraves para empreender no Brasil e questiona, de forma incisiva, a atuação de órgãos de controle, como Tribunais de Contas e Ministério Público (MP), por considerar que interferem de forma exagerada nas obras licitadas pelo Executivo.
Ponte também questiona algumas exigências na área ambiental para viabilizar empreendimentos. "No tempo do Polo Petroquímico (de Triunfo), foi uma luta. Disseram que ia acabar com o Rio Grande do Sul, poluir, e está aí o polo, salvando muita gente. Você vai fazer um polo carboquímico, está cheio de gente que é contra", critica.
Jornal do Comércio - Qual é a sua tese sobre destravar o desenvolvimento econômico e erradicar a miséria no País?
Luis Roberto Ponte - A preocupação de qualquer sociedade que pretenda ser um dia civilizada é erradicar a miséria. Não há coisa mais triste do que a convivência com uma parcela grande da população sem condição de viver em dignidade. E isso, como regra, é balizado por aqui como uma convicção do pessoal chamado de esquerda. Quando entrei na vida pública, em 1986, a percepção era essa. Quem tinha compromisso com isso era o que se chamava de esquerda. Era o PT. Era um carimbo que a esquerda tinha. O carimbo do que se chamava de direita era a insensibilidade com a tragédia humana da pobreza absurda. E, mais ainda, muitos tinham a visão de que eram pessoas que viviam no mundo empresarial e que não tinham compromisso contra a corrupção. Uma caricatura que foi ficando. Então, ficou como o bem e o mal. E foi se disseminando essa ideia de que a causa da pobreza é o empresário. A pessoa olha assim, "aquele camarada mora em um apartamento só ele e a mulher, em 1 mil metros quadrados, e olha o que ele paga, R$ 1 mil para os empregados. Logo, é um insensível". Isso é uma conclusão aparentemente óbvia. E a verdade é o oposto.
JC - Por quê?
Ponte - Quem pode acabar com a miséria é quem gera a riqueza. Acabar a miséria não é discurso. Não é sensibilidade real ou teatral com isso. Não é achar que é uma decisão política. "O governo não faz isso, o governo não paga, olha quanto pagamos, não tem hospital..." Não adianta. As pessoas só saem da miséria quando tiverem uma casa digna, água tratada, roupa, escola, comida. Se não houver quem produza isso, não tem como sair da miséria. Então, essa confusão foi criando no País um anticorpo contra o empresário. O Brasil começou a criar dificuldade de produzir aqui. Por exemplo: temos uma pedreira, há 40 anos está se esgotando; tem que fazer uma extensão. Tem umas plantas, uma mata nativa que você tira dali... Agora estão complicando para expandir. Vão nos obrigar talvez a sair para outra pedreira para fazer outra cirurgia, que é muito mais caro, e isso quem paga, em última análise, é o povo. É o miserável que vai ficar mais tempo miserável.
JC - Como mudar isso?
Ponte - Sabe quem que pode resolver o problema dos miseráveis? O lucro. Aí é que é chocante, porque as pessoas veem o lucro como a exploração. O cara, em vez de dar para os pobres, ficou com ele. Porque o lucro é que vira fábrica. O lucro é que vira terra plantada. O lucro é que vira shopping center. O lucro é que vira cinema. O dinheiro não cai do céu. Só cai da produção. E quando falo em produção, é quem empreende e dá sustentação à empresa, que são os trabalhadores. Uma sociedade tem pessoas que têm vocação para umas coisas e outras para outras. Tem os Bethovens e tem os que só sabem varrer a rua. Ambos têm dignidade. Tem que ser tratados igualmente. Vão ganhar igual? Não. Um jogador de futebol, o povo está disposto a pagar R$ 1 milhão por mês. Ninguém acha injusto. Se um empresário tirar isso, é explorador. Isso ficou no "inconsciente" das pessoas. Só tenho a minha empresa hoje porque ela ajuda a dar emprego, a produzir bens, portanto, a acabar com a pobreza. Não preciso de mais dinheiro na minha vida, não precisava trabalhar 14 horas por dia. É só através do desenvolvimento que se acaba com a miséria. A tese é essa. Vamos conduzir o País para se desenvolver.
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Perfil

Luis Roberto Andrade Ponte tem 85 anos e é natural de Fortaleza (CE). Engenheiro formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), atua como empresário do ramo da construção civil. Integra a executiva do MDB gaúcho. Foi secretário estadual de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais durante o governo de Germano Rigotto (2003-2006, MDB). Antes, teve experiência parlamentar. Foi deputado federal por dois mandatos. Entre 1987 e 1991, como constituinte, e no período de 1991 a 1995. No primeiro mandato, se licenciou para assumir como ministro da Casa Civil no governo José Sarney (MDB), de dezembro de 1989 a março de 1990. Na legislatura de 1995 a 1999, ocupou uma cadeira na Câmara dos Deputados como suplente. Atualmente, é presidente reeleito da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs) para o período 2019-2021. Também preside, desde maio de 2018, a Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Fospa), por indicação do ex-governador José Ivo Sartori (MDB). É autor do livro Capitalismo sem miséria (Ed. Metrópole, 1986).