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Abigail abriu mão de candidatura em nome de uma 'frente ampla'
Candidata do PCdoB levará ao Senado pautas de interesse das mulheres
Abigail Pereira (PCdoB), que concorre a uma das duas vagas ao Senado pelo Rio Grande do Sul, abriu mão da candidatura ao governo do Estado - sustentada pela sigla até o período das convenções partidárias - para formar com Miguel Rossetto (PT) o que chama de uma "frente ampla".
Uma das cinco candidaturas femininas ao cargo, Abigail defende o debate de demandas de interesse das mulheres, como a garantia de vagas em educação infantil "para que as mães possam colocar os seus filhos nas creches com segurança e possam voltar ao mercado de trabalho com tranquilidade". Ela justifica que esse tema, embora de responsabilidade dos municípios, passa pelo Senado porque "tudo está relacionado com a questão nacional".
Jornal do Comércio - O que a senhora vai fazer como senadora pelo Rio Grande do Sul?
Abigail Pereira - Quero ser senadora para defender o nosso Estado especialmente na questão do desenvolvimento. Para isso, queremos influenciar o debate sobre a dívida (com a União), que na nossa opinião já foi paga. Essa dívida está impedindo o Rio Grande do Sul de crescer. Queremos revisar a Lei Kandir, contribuir para a revogação da reforma trabalhista, revogar a Emenda Constitucional nº 95 (teto dos gastos), que congela investimentos nas questões prioritárias do nosso povo, que são saúde, educação, segurança, programas sociais e que já estamos sentindo o retrocesso. E, sem dúvida, quero e vou contribuir para o debate da questão das mulheres. Não é possível que recebamos cerca de 30% menos do que os homens, portanto vou trabalhar para que tenhamos igualdade salarial.
JC - O governo está tentando aprovar a adesão do Estado ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). Qual a sua opinião em relação a essa tratativa? O que poderia ser uma alternativa?
Abigail - Não concordo com esta renegociação que o atual governo, tanto estadual como nacional, está tratando. Esse remédio é muito amargo, já tomamos e vimos que não resolve. Sou contra essa renegociação nos patamares em que foi discutida. Tomamos esse remédio em 1999 quando (o ex-governador Antonio) Britto (1998-2002, à época no MDB) fez essa negociação com o FHC (ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, PSDB, 1995-2002) a juros astronômicos, que sufocou e colocou o Rio Grande do Sul na boca de um aspirador de dinheiro. Não é possível que a exigência do governo central seja maltratar o funcionalismo público, não chamar mais concurso, vender todas as estatais estratégicas. Isso não resolve o problema, só empurra para a frente. Nos posicionamos contra essa negociação hoje dita como a única alternativa. Não é a única alternativa. Queremos colocar o Estado no rumo do crescimento, que precisa ser induzido, ampliar a nossa cadeia produtiva e a nossa matriz econômica. Com isso vamos ter condição de investir sim na educação, na saúde, na infraestrutura.
JC - Tem alguma proposta que a senhora pretende apresentar nesse sentido?
Abigail - O Rio Grande do Sul depende da economia e do debate político a nível nacional. Já foi renegociado com o (ex-governador) Tarso (Genro, PT, 2011-2014), onde se alterou o indexador, de IGP-DI (Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna) para o IPCA 4% (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Queremos tirar esses juros. Tem, inclusive, a tramitação do PSL (Projeto de Lei do Senado) nº 561/2015, que tira essa questão dos juros. E aí fazer um encontro de contas, inclusive do que a União nos deve da Lei Kandir. Óbvio que, para o desenvolvimento, precisamos da indução do Estado ao setor produtivo. Queremos devolver a esperança de que é possível sim outras saídas, na geração de empregos, com valorização do trabalho, condições de enfrentar o déficit de creches. Só em Porto Alegre faltam mais de 12 mil de vagas, para que as mães possam colocar os seus filhos nas creches com segurança e possam voltar ao mercado de trabalho com tranquilidade.
JC - Como a sua atuação no Senado pode contribuir para essas questões que são algumas de Estado, outras dos municípios?
Abigail - Mas tudo está relacionado com a questão nacional, por isso o espaço do Senado é extremamente importante. Por exemplo, a questão da escola infantil e das vagas em creches está relacionada ao Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica), é um debate nacional de repasse de recursos.
JC - Sua candidatura ao Senado é uma tentativa de buscar uma representatividade feminina no espaço político? A senhora era candidata ao governo do Estado e, com a reformulação das alianças, mesmo podendo concorrer a outros cargos, escolheu o Senado. Por quê?
Abigail - A minha candidatura ao governo do Estado, assim como a da Manuela (d'Ávila, PCdoB) à presidência, tinha a tarefa de travar o debate da necessidade da construção de uma frente ampla que ultrapassasse os partidos, mas também com movimentos da sociedade, com entidades. O que conseguimos foi construir essa coligação com o (ex-presidente Luiz Inácio) Lula (da Silva, PT) e aqui no Rio Grande do Sul com Miguel Rossetto (PT). Decidimos, no partido, que esta vaga ao Senado seria extremamente importante para que, junto com a Manuela, (candidata a vice-presidente) no (Palácio do) Jaburu, déssemos conta de ajudar a coligação.
JC - Antes da decisão de coligar com o PT, o PDT também procurou o PCdoB e o candidato Jairo Jorge citou o interesse em formar aliança com o partido. Como vocês projetam um cenário de segundo turno, seja como o Rossetto, seja com Jairo Jorge? Acredita que pode manter essa "frente ampla" com o PDT?
Abigail - Sem dúvida. Conversamos antes com Jairo Jorge, com o PDT, estamos conversando agora e com certeza estaremos juntos. Esse é o nosso campo político. Portanto, sem dúvida nenhuma estaremos juntos sim no segundo turno, com toda a força, com toda a energia. Tomara, eu já como senadora. Precisamos barrar essa ofensiva em que a direita conservadora está infligindo o nosso Estado.
Perfil
Dilce Abgail Rodrigues Pereira tem 58 anos e é natural de Caxias do Sul. É pedagoga formada pela Universidade de Caxias do Sul com especialização em Psicopedagogia. Iniciou sua vida política na adolescência e fundou a União de Mulheres Caxienses em 1989. Atuou em sindicatos e na Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Foi secretária de Turismo do Rio Grande do Sul entre 2011 e 2014, durante o governo de Tarso Genro (PT). Em 2014, concorreu ao cargo de vice-governadora na chapa encabeçada por Tarso Genro e em 2010 concorreu ao Senado. Também foi candidata a vereadora (2004) e a vice-prefeita (2008) de Caxias do Sul.