Governo retira mais 42 funcionários da Fundação Piratini; servidores reagem

Realocação ocorreu no último que o governo podia fazer o movimento antes da eleição

Por Paulo Egídio

Extinção da Fundação Piratini torna incerto destino das emissoras
O governo do Rio Grande do Sul transferiu 42 funcionários da extinta Fundação Piratini, responsável pela TVE e pela FM Cultura, para outros órgãos do Estado. Também 15 funcionários da Fundação de Economia e Estatística (FEE), também extinta, foram transferidos. As realocações foram publicadas no Diário Oficial desta sexta-feira, último dia para o remanejamento de servidores públicos antes do período eleitoral. Os servidores devem se apresentar nos respectivos setores de Recursos Humanos dos órgãos de destino já no dia de hoje.
Com a medida, as emissoras públicas mantêm 123 funcionários, número considerado pelo governo estadual como suficiente para mantê-las em atividade. Os profissionais foram cedidos para nove secretarias e três órgãos estaduais. Algumas distribuições chamam a atenção sobre as funções e as áreas em que os profissionais passam a atuar. O grupo do antigo quadro da FEE, entre eles economistas e estatísticos que eram responsáveis pelos principais indicadores do Estado, como o Produto Interno Bruto (PIB), hoje entregue a uma fundação privada, vai dar expediente na Polícia Civil.   
A Secretaria de Transportes terá seis jornalistas - entre editores e repórteres de televisão e rádio -, mas se trata de uma pasta técnica, ligada a engenharias e obras com um orçamento com as limitações financeiras do Estado. A Secretaria da Segurança Pública terá também seis servidores, entre editores, operadores de câmera e outros técnicos de TV. A área de Desenvolvimento Rural recebeu três editores de rádio e TV.
A ação foi criticada pelo Movimento dos Servidores da TVE e FM Cultura, que divulgou nota afirmando que as transferências "decretaram o fim do jornalismo nas ex-emissoras públicas" e que profissionais concursados, com qualificação acadêmica e experiência em rádio e televisão, "estão sendo relotados e cedidos para órgãos e secretarias que não possuem qualquer relação com suas competências".
O texto diz, também, que o novo modelo de programação das emissoras, ainda não apresentado, "trata-se da venda da grade de programação para produtoras privadas", que seriam aliadas do governo e teriam "créditos a receber" por serviços prestados em campanhas eleitorais, e critica a contratação de "terceirizados e apadrinhados políticos".
Em contraponto, o diretor de Radiodifusão e Audiovisual da Secretaria de Comunicação (Secom) e ex-presidente da Fundação Piratini, Orestes de Andrade Jr., garante que os servidores foram realocados em locais com compatibilidade técnica. "Todos os jornalistas e radialistas trabalharão em assessorias de comunicação", pondera Orestes. "Eles (funcionários) reclamam porque estão acostumados a fazer uma só função, o que não existe no mercado de comunicação atual", afirma o diretor.
As mudanças, segundo Orestes, fazem parte do novo planejamento para as emissoras públicas. "O novo plano de gestão da TVE e da FM Cultura já foi aprovado pelo governador José Ivo Sartori (MDB). Agora, está em análise jurídica na PGE. Cumprida esta etapa, vamos anunciar publicamente", garante o dirigente. Sobre as críticas à programação da TVE e da FM Cultura, Orestes diz que a rádio vai priorizar programas culturais, com estreia de três novas atrações no dia de hoje, enquanto a televisão vai manter cinco produções: Estação Cultura, Radar, Consumidor em Pauta, TVE Repórter e Frente a Frente. Os demais serão reprisados.
O decreto que extinguiu a Fundação Piratini foi publicado em 30 de maio. Confira a seguir a lista completa dos funcionários realocados:

Debate sobre fundação é marcado por acusações

A disputa retórica entre o governo do estado e os servidores da Fundação Piratini sobre o destino da estatal é permeada por acusações e críticas. No comunicado divulgado nesta sexta, o movimento dos servidores ataca o ex-presidente da entidade. "Seria irônico, se não fosse bizarro e fúnebre, que o presidente da Fundação Piratini, um estudante de Jornalismo, tenha enterrado o jornalismo das ex-emissoras públicas", escrevem, em referência a Orestes.
Por sua vez, o diretor classifica o movimento como "apócrifo" e formado por representantes sindicais que "estão interessados na disputa político-partidária" e não teriam o apoio da maioria dos servidores. "É uma minoria radical e ideológica. Aliás, são os piores profissionais de lá", declara o diretor, acusando o movimento de produzir "um discurso vazio e falacioso".